Em artigo, vereador paulistano avalia como a administração pública pode melhorar o atendimento da rede, sem gastar dinheiro à toa.

Andrea Matarazzo, vereador por São Paulo, ex-suprefeito da Sé, secretário municipal de Serviços e secretário municipal das Subprefeituras 

 

A chegada do inverno traz desafios à nossa cidade, especialmente aos moradores de rua. O poder público precisa estar preparado para oferecer aos seus cidadãos acolhimento  responsável para evitar as cenas lamentáveis que testemunhamos recentemente, quando pelo menos cinco pessoas morreram enquanto dormiam nas calçadas geladas.

O tratamento à população de rua vai muito além de oferecer cobertores ou agasalhos.  Aliás, fiquei estupefato ao ver que, no fim de sua gestão, o prefeito Fernando Haddad tenha publicado decreto sobre… como atender os moradores de rua! Em 2013 ele não sabia que esta situação já estava aí?

Com relação às vagas, é necessário fazer uma análise criteriosa da rede de acolhida, ver onde há ociosidade, onde há superlotação e readequar os cenários. Basta fazer uma gestão pública eficiente e otimizada, não precisa gastar dinheiro à toa. Por que não fazer convênios com pequenos hotéis que hoje estão sem uso?

Os centros-dia podem ser mais eficientes, com psiquiatras, fisioterapeutas, psicólogos. E com horários flexíveis. Os albergues, como funcionam hoje, não atraem parte dos moradores de rua. Horários restritos, impossibilidade de receber casais e animais são aspectos que afugentam esta população. Mesmo as tendas recém-inauguradas pela gestão municipal não tiveram adesão pelo mesmo motivo. Fecham às 7 horas da manhã. As pessoas acabam se sentindo melhor em suas barracas e colchões na rua.

Venho há um tempo alertando para o drama destes cidadãos, que chegam a 16 mil pessoas. Pelo universo, o tema merece atenção prioritária. Outro ponto essencial a se levar em consideração é o fato de que, segundo literatura médica, cerca de 70% da população de rua têm dependência química ou sofre transtorno mental. Eles devem ter acesso a atendimento médico permanente. Precisam ser tratados o quanto antes para voltarem a uma convivência saudável. Por isso, São Paulo precisa urgentemente de uma política pública voltada exclusivamente a moradores de rua (e não apenas um decreto de procedimentos).

Cuidar de São Paulo é cuidar de seus moradores. É assim que a cidade fica melhor: saber o que os paulistanos mais necessitam e atacar essa demanda. Inverter essa lógica só deixará nossa cidade ainda mais cáustica e áspera. E não resolverá o drama dos que mais sofrem com isso.