Prefeito de Porto Ferreira, defende escolha por candidatos que respeitem as leis e as instituições

 

Rômulo Rippa, prefeito de Porto Ferreira (SP)

 

“Parece-me que o bom cidadão deve preferir as palavras que salvam às palavras que agradam.”
Demóstenes

 

Como todos sabem, este ano teremos eleições para os cargos executivos e legislativos nas esferas estaduais e federal. Evento que acontece a cada quatro anos e define, ou pelo menos deveria definir, quais os rumos que nosso país deve tomar.

Os cientistas políticos apostam que o pleito de 2018 deverá bater o recorde de votos brancos, nulos e abstenções. Segundo eles, os recorrentes episódios de corrupção e a ausência de novas lideranças com credibilidade deverão afastar o eleitor de sua missão, fazendo com que ele não vá votar ou vote em uma opção legalmente inválida.

Uma clara demonstração de que este diagnóstico não deverá estar errado no próximo mês de outubro foram as eleições suplementares para governador no Estado de Tocantins. Após a cassação eleitoral do governador e de sua vice em março deste ano, a população foi convocada a escolher seu novo representante.

No primeiro turno, quase metade dos eleitores não optou por nenhuma das candidaturas. A soma das abstenções e dos votos brancos e nulos chegou a 43,54% do total de votos no dia 3 de junho. No segundo turno, no último dia 24, este número foi ainda maior: 51,83%.

O descontentamento com a política no país é evidente. Vivemos um período de generalização de uma imagem negativa sobre todos os representantes e de completa intolerância. Que o cenário não é bom ninguém discute. Mas como mudar?

Talvez falte aos brasileiros uma formação educacional para o exercício da cidadania e da política. Todos nós somos seres políticos. Enquanto cidadãos, estamos condicionados a viver em sociedade e respeitar regras que, na absoluta maioria das vezes, são decididas pelos agentes públicos.

Enquanto eleitores, mesmo que não votemos ou anulemos nossos votos, não deixaremos de ser governados por alguém que seja eleito. Se não temos como fugir dessas duas verdades, então qual o caminho? O voto.

Por muitos anos, até mesmo por nossa formação social, o brasileiro esteve acostumado a votar no “homem cordial”, figura definida pelo historiador Sérgio Buarque de Holanda em seu clássico Raízes do Brasil (1936). Essa figura subjetiva, que simboliza a relação social no país, é caracterizada por uma ética de fundo afetivo, que confunde respeito com o desejo de estabelecer intimidade, pensa o Estado como a amplificação ou ramificação do círculo familiar, incapaz de distinguir os domínios do público e do privado, e escolhe os homens públicos por confiança pessoal, desejo de heroísmo e à margem de suas efetivas capacidades.

O bom voto não é dado a ninguém, muito menos deve ser vendido. Ele deve ser refletido e conquistado. O eleitor deve analisar as propostas, o perfil, a história e as qualificações dos candidatos apresentados.

Deve verificar qual a probabilidade deste seu futuro representante conseguir implementar tudo aquilo que ele tenta vender durante sua campanha. E, principalmente, se ele já é um “bom cidadão” que respeita as leis, as instituições, suas regulamentações profissionais e a diversidade democrática.

Pois muitos fingem esquecer, mas todo político, antes de ser político, é um cidadão. Se já não é ético e cumpridor de suas obrigações antes, não será depois.