Levantamento da associação de ciclistas do município mostra que há pelo menos 130 mil bicicletas nas ruas da cidade, contra 94 mil carros.

Agora S.Paulo

Com 222 mil habitantes, Indaiatuba (a 98 km de São Paulo) anda sobre duas rodas.

Levantamento da associação de ciclistas do município mostra que há pelo menos 130 mil bicicletas nas ruas da cidade, número maior do que o de carros (são 94 mil). Para moradores, é a capital paulista das bikes.

Na cidade, é comum ver famílias se deslocando pelas ruas em bicicletas e gente indo ou voltando do serviço sobre uma “magrela”.

“Os motoristas respeitam bastante. Vou para o trabalho pedalando porque é muito mais rápido do que ficar esperando ônibus”, afirma a auxiliar de escritório Naiara Pascoal, 18.

A cidade não é tão plana quanto se poderia imaginar e tem até um vale profundo no meio, com um córrego que separa as partes nova e antiga do município.

Mas algumas pistas podem explicar porquê Indaiatuba tem esse status. O município conta com um serviço de empréstimo gratuito de bikes, com mais de 200 disponíveis para quem quiser pedalar entre as 8h e as 17h.

As bicicletas gratuitas são feitas de material reciclável e 12.850 pessoas se cadastraram para usá-las -já foram mais de 35 mil empréstimos desde junho de 2012, quando o serviço foi lançado.

A cidade tem ainda com13 kmde ciclovias (espaço separado para as bikes) e12 kmde ciclofaixas (faixa sem separação física). A prefeitura quer construir mais20 kmde vias exclusivas.

Tem também nomes famosos no circuito nacional de ciclismo e o próprio prefeito, Reinaldo Nogueira (PMDB), já foi campeão estadual juvenil em 1981.

“A intenção é aliar saúde e cuidado com a natureza. Bicicleta é menos poluição, diminuição do trânsito e mais lazer”, diz o prefeito.

Também está em construção no município um velódromo (pista de corrida de bicicletas), que pretende ser referência no esporte olímpico.

CENSO

Em 1999, o funcionário público Agnaldo Sérgio Hubert, 46, resolveu fazer um censo para dimensionar o quanto a população local era apaixonada por bikes. “Fomos perguntando de porta em porta. Total: 63.430 bicicletas.”

Presidente da ACI (Associação dos Ciclistas de Indaiatuba), Hubert atualizou os números ano a ano e diz que, em 2014, são 130 mil bikes.

“A partir de julho, faremos um novo censo e acredito que o número possa ser bem maior. Tem casa com três pessoas e quatro bicicletas.”

Se depender da população, a paixão só deve aumentar. “Facilita demais nossa vida. Gasto meia hora de casa para o serviço”, diz o operador de forno e fundição Elteni Ferreira Queiróz, 50.

O soldador Aparecido dos Santos Lemos, 43, diz não sair de cima das duas rodas. É tão louco por bicicletas que tem quatro em casa e outra tatuada no braço. “É assim desde que eu tinha 13 anos”, conta.

O ponto alto do ano para ele é junho, quando faz o percurso de73 kmentre Indaiatuba e Pirapora do Bom Jesus (a55 kmda capital paulista).

A procissão de mais de 70 anos de tradição une as duas cidades e chega a juntar mais de 10 mil pessoas, muitas a cavalo ou a pé.

Viajar de bicicleta, aliás, é outro passatempo dos moradores de Indaiatuba.

O advogado e funcionário público aposentado Dirceu da Silveira Moraes, 65, já fez quatro vezes o Caminho da Fé, entre Tambaú ou Águas da Prata até Aparecida. Também já percorreu a serra da Canastra (MG) de bike.

Para manter os 60 kg, Moraes pedala, em média, 200 km por semana. “Faz bem para o corpo e para a cabeça.”

Companheiro de Moraes no Papa Terra, um dos 10 grupos de ciclistas da cidade, Jurandir Sombini, 44, diz que o aposentado, apesar da idade, deixa muita gente para trás. “Tem garoto novo que não consegue acompanhá-lo.”