Utilização inédita dessa reserva profunda, se for bem-sucedida, deve garantir a água na região metropolitana pelo menos até novembro – evitando qualquer ameaça de rodízio antes das eleições estaduais.

Folha de S. Paulo

Considerado um plano B pelo governo estadual para tentar evitar um racionamento, a utilização do chamado “volume morto” do Cantareira – água armazenada nas profundezas das represas – poderá abastecer 8,8 milhões de pessoas na Grande São Paulo por quatro meses.

O cálculo foi feito pela Sabesp, que iniciou nos últimos dias as obras de instalação de 17 bombas que irão captar esse “volume morto” da represa de Atibainha, uma das seis do sistema Cantareira.

Na prática, ele indica que, pelas contas do governo Geraldo Alckmin (PSDB), a utilização inédita dessa reserva profunda, se for bem-sucedida, deve garantir a água na região metropolitana pelo menos até novembro – evitando qualquer ameaça de rodízio antes das eleições estaduais.

A Folha esteve ontem no canteiro da região de Nazaré Paulista (a 64 km da capital), onde estão no início as obras para a utilização do “volume morto”. Caminhões e tratores preparam a área onde serão instaladas as bombas.

Mas a previsão da Sabesp é que essa água esteja disponível para consumo só a partir de julho. Até lá, espera usar aquilo que já existe no sistema Cantareira –que ontem tinha só 15% de sua capacidade, sem considerar com essa reserva do “volume morto”.

A partir daí, no tradicional período de seca, a companhia calcula que a água do “volume morto” será suficiente para no mínimo quatro meses.

O Estado nunca tinha precisado captar a água do fundo dos reservatórios porque eles jamais ficaram em níveis tão baixos em seus 40 anos de vida –e os túneis de captação estão bem acima do fundo das represas.

A expectativa da Sabesp é retirar ao menos 200 bilhões de litros de água do “volume morto” dos reservatórios.

Um sistema semelhante ainda será instalado nas represas de Jaguari e Jacareí.

GASTOS

O uso do “volume morto” foi autorizado por Alckmin após os registros dos menores níveis de água da história no sistema Cantareira.

A empresa gastará R$ 80 milhões nas obras civis, compra e instalação das bombas.

Especialistas, porém, dizem que essa água é mais suja e difícil de tratar, podendo encarecer gastos de preparação antes de ser levada para consumo dos moradores.

Ter que captar água tão fundo para abastecer a população é sinal da gravidade da crise, de acordo com técnicos.

“Estamos no penúltimo caso; o último é o racionamento”, diz Paulo Ferreira, professor de engenharia hidráulica do Mackenzie.

Apesar das obras em curso, a Sabesp diz que, dependendo do volume de chuvas até a metade do ano, a captação de água do “volume morto” poderá ser dispensada.

“O uso não é irreversível. Estamos nos preparando para usar essa água se for necessário”, diz Paulo Massato, diretor metropolitano da Sabesp, para quem esse período de uso da reserva por quatro meses pode ser até maior.

“Esse cálculo considera que não chova mais nada. Se chover um pouco, esse período se estende”, diz Massato.

Segundo Jorge Giroldo, professor de engenharia da FEI, essa quantidade de água armazenada no “volume morto” é significativa.