Em editorial, jornal avalia as razões que teriam levado a Universidade de São Paulo a perder posições nos dois rankings comparativos das melhores instituições de ensino superior promovidos pela conceituada publicação britânica Times Higher Education.

O Estado de S. Paulo – Editorial

A Universidade de São Paulo (USP) vem perdendo posições nos rankings comparativos das melhores instituições de ensino superior promovidos pela conceituada publicação britânica Times Higher Education, que medem a qualidade e a reputação mundial das universidades. O ranking de qualidade vem sendo feito desde 2004. O de reputação acadêmica começou a ser feito em 2011. A USP perdeu posições nos dois rankings.

No ranking de qualidade, que foi divulgado em 2013, a instituição figurou entre as 226 e 250 melhores universidades mundiais (o estudo da Times Higher Education não revela a posição de cada instituição depois do 200.º lugar). No levantamento de 2012, ela havia ficado no 158.º lugar. Elaborado com base em 10 mil entrevistas e na análise de 50 milhões de menções em revistas científicas, o estudo levou em conta o orçamento de cada universidade, nível de ensino, número de títulos de doutor concedidos, quantidade de pesquisas e volume de receitas delas decorrente, citações de artigos em periódicos de prestígio mundial e a influência das pesquisas na inovação industrial.

Divulgada há dias, a pesquisa da Times Higher Education sobre a reputação acadêmica mundial mostra que universidades americanas e britânicas – como Harvard, Stanford, MIT e Oxford – ficaram com as 10 primeiras posições. Das 100 universidades com maior reputação acadêmica em todo o mundo, 54 são americanas. A USP foi classificada no grupo que vai da 81.ª à 90.ª posição. Na edição de 2012, ela havia ficado entre o 61.º e o 70.º lugar (neste levantamento, as universidades são citadas por posição somente até o 50.º lugar; depois disso, são enquadradas em grupos de dez, até a 100.ª posição).

O ranking de reputação acadêmica mundial é elaborado com base num questionário respondido por 10,5 mil professores, cientistas e pesquisadores recrutados em 133 países e que atuam no mundo acadêmico há pelo menos 18 anos. Em suas respostas, eles se manifestam sobre os níveis de pesquisa, ensino e aprendizado das universidades que conhecem. Ao contrário da pesquisa de qualidade, que é realizada a partir de estatísticas e dados objetivos, o ranking de reputação é essencialmente subjetivo, baseado na percepção da comunidade acadêmica.

A queda da USP neste ranking pode ser atribuída a dois fatores. Um deles seria seu baixo grau de internacionalização, motivo pelo qual a instituição não é suficientemente bem conhecida em todo o mundo. “A USP não é bem reconhecida por sua excelência em pesquisa em locais estratégicos, especialmente no Leste da Ásia. Isso prejudica a reputação internacional da universidade”, afirma o editor de rankings da Times Higher Education, Phil Baty. O segundo fator seria o gigantismo da USP. Além dos inevitáveis problemas decorrentes de uma crônica falta de recursos, o tamanho da instituição dificulta sua gestão e leva o corporativismo burocrático a prevalecer sobre o princípio do mérito. “Provavelmente a USP nunca será uma das dez melhores. As instituições no topo são de tamanho médio para pequeno, com grandes orçamentos. As 12 mais importantes do mundo têm, em média, 17 mil alunos. Nós temos 90 mil”, afirma o reitor Marco Antonio Zago.

O problema da queda da USP no ranking de reputação acadêmica mundial é preocupante. Quando uma instituição é bem classificada, ela é procurada por melhores alunos e melhores professores – e isso resulta em mais financiamentos para suas atividades. Quando despenca no ranking, ela tem menos oportunidades de obter financiamentos e firmar parcerias mundiais, o que tende a prejudicar ainda mais sua imagem. “Se a reputação cai, há o risco de um círculo vicioso”, lembra Phil Baty.

Nos últimos anos, a USP enfrentou diversos problemas – de gestões que se revelaram incapazes de fixar prioridades, a atos de vandalismo praticados por minorias de estudantes e servidores em nome de teses tão radicais quanto estapafúrdias. Enquanto problemas como esses não forem equacionados, a USP continuará perdendo posições nos rankings comparativos.