De saída da prefeitura de São Paulo, presidente nacional do PSD fala sobre seus quase 7 anos de gestão e sobre planos para o futuro do partido.

Chegou o tempo de esvaziar as gavetas no 5º andar do Edifício Matarazzo. “Passou rápido”, diz o homem que comandou de lá a Prefeitura de São Paulo nos últimos 6 anos e 9 meses. Gilberto Kassab (PSD) abre o sorriso e brinca ao falar da vida depois de 1º de janeiro. “Vai ser bom, quando estiver chovendo, falar: ‘Olha só’. Na vida, você tem várias fases. Eu estou encerrando a de ser o responsável.”

A nova fase desse homem de 52 anos deve levá-lo à disputa pelo Palácio dos Bandeirantes em 2014. “Seria uma honra muito grande ser governador de São Paulo.” Kassab ainda não diz ser candidato – ritual conhecido na política -, mas fala, pensa e se comporta como se fosse. “Caso eu venha a ser, já existe um trabalho a ser apresentado.”

Seu horizonte inclui o aluguel de um apartamento em Brasília, onde quer preparar o apoio do PSD à reeleição de Dilma Roussef (PT). Por fim, diz não se preocupar com a baixa da popularidade. “O tempo vai mostrar o que foi a gestão. A cidade melhorou.”

O senhor pensou que um dia sentaria na cadeira de prefeito? 
Quando fui eleito vereador, não trabalhava com essa perspectiva, mas também não excluía. Na vida pública, as missões aparecem…

E se daqui a dois anos aparecer uma missão para ser governador?
Eu tenho dito que, depois de ser prefeito de São Paulo, é evidente que seria uma honra muito grande ser governador e eu não teria nenhum problema em atender a um chamamento partidário para disputar o cargo.

É um sonho? 
Não diria que é um sonho, mas seria uma honra muito grande ser governador. Mas precisa ver as circunstâncias do PSD e do Estado.

O objetivo do PSD é ter candidato próprio a governador em todos os Estados?
A direção nacional recomendou a todos os Estados que se esforcem para ter candidato a governador, porque isso ajuda a consolidar um partido novo, como o PSD. Aqui em São Paulo, não será diferente, até para dar exemplo.

O senhor pretende, como Gabriel Chalita (PMDB), atrair o eleitorado de centro?
Não sou candidato, mas, caso eu venha a ser, o discurso será um pouco diferente, pois existe um trabalho a ser exibido e um partido que por sete anos administrou a capital e tem propostas para o Estado. A experiência traz credibilidade à candidatura.

O prefeito eleito Fernando Haddad disse que o senhor era um enigma. Agora, ele o elogia. O que houve?
Nos últimos meses, a gente viveu um ambiente eleitoral e, na primeira fase, eu mesmo e meu partido tivemos a intenção de apoiar Haddad porque víamos nele qualidades, experiência, motivação e enraizamento na cidade. Quando o Serra se dispôs a sair, também fui claro: do ponto de vista político, não havia como não o apoiar.

O que estou fazendo agora com Haddad faria com qualquer um. As secretarias disponibilizaram os dados para alertar sobre os problemas que serão enfrentados. Depois da posse, vou ligar para o Fernando e transmitir o que estou vendo, com a maior humildade, pois quero que a administração dele dê certo, quero que São Paulo dê certo. Quero que daqui a quatro anos Haddad tenha 100% de aprovação.

O senhor fala do Serra, não do PSDB…
Quando falo do Serra, é por ele ter sido prefeito no primeiro ano de nossa gestão. É natural isso. Já com o PSDB, tivemos alianças em várias eleições..

Há no PSDB quem ache que sua lealdade era com Serra e não com o PSDB…
Para se cobrar lealdade do PSD, tem de haver lealdade do PSDB conosco.

O senhor continua dando nota dez para sua gestão? Como o senhor a avalia?
É uma gestão que se esforçou muito. E os resultados são expressivos. Em todas as áreas, a cidade melhorou. No atendimento público de saúde, no ensino público, no combate à poluição, sustentabilidade, política habitacional…

A nota seria dez ainda? 
Não é uma questão de nota. A gestão encerrada não cabe mais dar uma nota. O tempo vai mostrar o que foi a gestão. Saímos muito orgulhosos da gestão, sabendo das dificuldades que enfrentamos e dos resultados conquistados, expressivos em todas as áreas.

Haddad disse que Marta Suplicy (PT) foi a melhor prefeita de São Paulo. Na opinião do senhor, quem foi melhor?
Ele quis homenagear a Marta, até porque participou da gestão. Prefiro não falar. Creio que cada um fez sua parte. Tenho admiração por várias gestões.

Por exemplo? 
As gestões de Prestes Maia, de Olavo Setúbal e de Mário Covas. Eles fizeram o melhor com os recursos disponíveis.

O senhor ficou conhecido pelo incentivo às ciclofaixas, mas faltaram os corredores de ônibus. Por quê? 
Em um projeto, você o elabora, faz a licitação, busca recursos e tudo isso foi feito nos corredores. Agora vai começar a obra, que é a fase mais fácil. Não estamos na estaca zero. Avançamos 40%. Como em outras áreas. Não tínhamos na cidade ciclovias e ciclofaixas. A ideia existia há muitos anos, mas faltava vontade política de enfrentar a resistência dos proprietários de carros. Uma marca importante que tivemos na gestão foi esse enfrentamento, a necessidade de mudar hábitos da cidade. Vamos lembrar a restrição à circulação de caminhões, vamos lembrar as ciclofaixas, a Cidade Limpa, os camelôs. É fundamental que uma cidade tenha regras e elas sejam cumpridas.

O senhor se arrepende de ter assumido alguma das metas de sua gestão?
O que acontece é que assim que a lei de metas foi aprovada, começou a haver uma manipulação política do projeto. E vou dizer: a lei acabou. Porque qualquer prefeito vendo a manipulação vai apresentar um plano de metas muito aquém para fazer 100%.

O senhor tem o túnel Imigrantes, a Nova Luz, corredores e outras obras que…
Avançaram muito.

…Só o futuro prefeito verá resultado.
Ótimo…

Mas isso não deixa o senhor frustrado? 
Não, porque…

O senhor não gosta de cortar a fita?
Infelizmente existem pessoas na vida pública que só pensam em cortar fita. Se tivesse pensado nisso, não deixaria bilhões em caixa para fazer essas obras e teria feito 20 pontes, colocado placas e feito outras obras de curto prazo, né? E torrado o dinheiro, como se costuma fazer. Essas grandes obras precisam ser feitas. Vou ter muito orgulho quando o Haddad inaugurar obras que a cidade não contaria com elas se nosso governo não as tivesse encaminhado. Como foi o caso dos CEUs. Inaugurei 25, mais do que a Marta. E essa é uma marca dela. Ela inaugurou 21. Mas as áreas estavam definidas, as licitações feitas. Ela fez a parte dela. Vou ficar feliz, não vou ficar frustrado. Estarei na plateia aplaudindo.

Principalmente se o senhor for governador, não é? 
Aí estarei do lado.

O senhor descarta ocupar um ministério no governo Dilma? 
Todos sabem que a presidenta Dilma mostrou muita disposição em ter o PSD em sua base. Acho que ela está fazendo um bom governo e, se depender de mim, merecerá nosso apoio. O importante é definir nosso caminho para 2014. Hoje estamos divididos entre quem apoiou Dilma e os que apoiaram Serra. Devemos procurar a unidade. Definindo-se o partido pela reeleição da Dilma, o que acredito que seja a tendência, será natural governarmos juntos.

O senhor pretende alugar um apartamento em Brasília? 
Terei uma presença maior em Brasília, intercalando semana sim, semana não. Minha prioridade, agora, será desenvolver um projeto na Universidade de São Paulo, para implantar lá um núcleo de estudos da gestão de cidades. E comigo estarão diversos colabores dessa Prefeitura.

O senhor costuma trabalhar com homens de confiança. Sentiu-se traído durante o escândalo do caso Hussain Aref (ex-diretor do departamento de aprovação de projetos da Prefeitura que conseguiu 125 imóveis nos sete anos que ocupou o cargo)? 
Não. A traição é de parte daqueles que tinham o dever de servir a todos e se serviram. Eu fico contente de ter explodido um esquema desse, de pessoas que já estavam trabalhando há décadas na Prefeitura.

Na Feira da Madrugada, também há denúncias de corrução…
Lá é diferente. É o crime. Uma área pública invadida pelo crime. Idealizamos um projeto para o local. Jamais conseguiríamos avançar como avançamos sem o apoio da polícia… Porque lá é o crime organizado que intimida, cobra para pessoas ficarem lá, que já matou. É um dos poucos lugares na cidade em que o crime enfrenta a autoridade.

Pelo visto o senhor acha injusto seu índice de popularidade? 
Eu não pauto a gestão pelos índices. Pauto pelas realizações.

Vai sentir saudade de ser prefeito?
Saudades sim. Tenho saudades da infância, da escola, do clube, dos mandatos legislativos e terei da Prefeitura. Só levarei boas recordações.

Mas não tem muito problema? Quando o senhor acorda cedo, por exemplo, e vê que está chovendo…
Vai ser bom em janeiro, quando estiver chovendo, falar: ‘Olha só’ (risos). Na vida, você tem várias fases. Estou encerrando essa fase de ser o responsável. Imagine ser o responsável pela gestão de uma cidade de 11 milhões de pessoas e por liderar uma equipe com enormes desafios.

Se o senhor pudesse definir a cidade que pegou e a que deixou, como seria? 
Definiria com uma frase: uma cidade melhor.

Qual o maior desafio de Haddad? 
Ele vai ter na área da Saúde e na Habitação, talvez, os maiores desafios.