Núcleo feminino do partido promoveu em São Paulo palestra com Angela Lupo, psicóloga do Hospital Pérola Byington

 

A palestrante Angela Lupo abordou o atendimento que oferece no Hospital Pérola Byington às crianças e pré-adolescentes de 7 a 12 anos vítimas de violência sexual.

 

O PSD Mulher de São Paulo promoveu nesta quarta-feira (9) a palestra Violência Sexual e Abortamento Legal nas Diversas Fases da Vida, ministrada pela psicóloga Angela Lupo. Durante o encontro, organizado pela coordenadora nacional do núcleo feminino do partido, Alda Marco Antonio, a palestrante abordou o atendimento que oferece no Hospital Pérola Byington, na capital paulista, às crianças e pré-adolescentes de 7 a 12 anos vítimas de violência sexual.

De acordo com a psicóloga, em janeiro de 2018, apenas no hospital, foram atendidos 331 casos de violência sexual. Desse total, 117 vítimas eram adultas, 73 adolescentes e 141 tinham entre 0 e 11 anos. Nessa faixa etária, 44 pacientes eram meninos.

Pós-graduada em Psicopatologia e Psicossomática pelo Centro Universitário São Camilo, Angela destacou que 80% dos abusos sexuais praticados contra crianças não são cometidos por pedófilos, mas abusadores ocasionais, e explicou a diferença de perfil entre os responsáveis. A pedofilia, doença que consiste na atração patológica por crianças, pode trazer grande sofrimento psíquico também ao pedófilo. Já o abusador ocasional se aproveita de situações e não sente culpa alguma pelo crime que pratica.

Em comum, os agressores têm como principal característica o poder de manipulação. Na maioria dos casos, são pessoas próximas às crianças e adolescentes, geralmente familiares.

Além do trauma, as vítimas sofrem com o isolamento social, alterações alimentares e no sono, enurese (emissão involuntária de urina), encoprese (incontinência fecal), regressão ou paralisação do desenvolvimento e agressividade, entre outros sintomas. “Acho importante sempre prestar atenção à criança e levar em conta o sentimento dela. Uma coisa que é bem complicada é quando os familiares não acreditam. Alguns ficam do lado do abusador”, explicou a psicóloga.

Em relação ao aborto legal, Angela lembrou os casos autorizados pela legislação brasileira: quando não há outro meio de salvar a vida da gestante; se a gravidez é resultado de estupro e a mulher deseja interromper a gestação; e se ocorre má-formação do feto ou anencefalia. No caso de má-formação, há necessidade de alvará judicial que autorize o procedimento.

O Hospital Pérola Byington atende 80% dos casos de abortamento legal no País. A quase totalidade é composta por mulheres que decidem pelo procedimento após terem sido vítimas de estupro. “O fluxo de atendimento no hospital é de 24 horas e não é necessário apresentar Boletim de Ocorrência. O que vale é a palavra da vítima, isso é bem importante lembrar”, disse a psicóloga.

“O PSD Mulher patrocinou um debate altamente doloroso, mas muito necessário, riquíssimo”, disse Alda Marco Antonio, coordenadora do PSD Mulher.

Depoimento

A palestra motivou a autônoma Eliana Fazanni a relatar uma experiência pessoal que não envolveu violências sexuais, mas agressões físicas constantes. Durante oito anos, ela foi agredida diariamente com socos e pontapés e chegou a ser ameaçada com uma faca pelo ex-marido.

Eliana, que havia perdido a mãe na época do início do relacionamento, conta que o agressor era manipulador e se aproveitou de sua fragilidade emocional. “Quando ele estava na frente de outras pessoas, demonstrava ser outra coisa: era o melhor homem, amigo e marido”, contou a autônoma.

Toda vez que Eliana falava em separação, recebia ameaças do então companheiro. Cansada de ser agredida, terminou o relacionamento e resolveu denunciá-lo, mas o agressor até hoje não foi punido. Ao final do relato, ela foi bastante aplaudida pelas participantes do encontro.

Debate necessário

A coordenadora nacional do PSD Mulher, Alda Marco Antonio, fez um balanço positivo da palestra. “O PSD Mulher patrocinou um debate altamente doloroso, mas muito necessário, riquíssimo. A coroação foi um depoimento pessoal de uma companheira nossa que foi violentada pelo marido até o momento em que criou coragem e buscou ajuda. A violência tem que ser combatida na primeira manifestação e o que sempre falamos para as mulheres é que elas não enfrentem a violência sozinhas e busquem ajuda”, frisou Alda.