O entorno do elevado Costa Silva, o Minhocão, poderá ganhar um corredor verde formado por 8 mil metros quadrados de parques verticais nas faces sem janelas e sem utilidade de 20 prédios. O projeto é do grupo urbano Movimento 90°, que, conforme reportagem publicada neste domingo (16) pelo jornal O Estado de S.Paulo, pretende implantá-lo na via elevada na região central da capital ao longo de um ano.
A ideia é ocupar com plantas as paredes nuas. “Vimos que os locais mais poluídos e sem verde na cidade estão próximos de grandes avenidas. O Minhocão é um ícone da degradação e só ali há 140 empenas cegas”, afirma ao Estadão o paisagista e idealizador do Movimento 90°, Guil Blanche.
Empenas cegas são essas paredes lisas, que eram obrigatórias por lei no início do século 20 para que os prédios pudessem se colar uns aos outros. Na década de 1950, a lei mudou e exigiu que houvesse circulação de ar entre as construções. A partir daí, esses grandes espaços passaram a ser ocupados por propaganda, mas voltaram a ficar vazios com o surgimento da Lei Cidade Limpa, implantada na gestão Gilberto Kassab, em 2007.
O jardim vertical que deverá ocupar essas paredes funciona como isolante térmico e pode diminuir em 30% a poluição do entorno. “Passam cerca de 120 mil carros pelo elevado todos os dias. Nossa intenção com esse projeto, além de ‘florestar’ as paredes, é mostrar a impotência dos moradores, que foram atacados com a construção desse aparelho público na década de 1970”, diz Blanche.
A instalação deles depende unicamente da autorização dos moradores do prédio. O investimento, que é de cerca de R$ 850 por metro quadrado, será financiado por empresas privadas, que também vão se responsabilizar pela manutenção. Dos 20 prédios previstos para receber os painéis, oito já concordaram.
Demolição do Minhocão
Em maio de 2010, Gilberto Kassab, então prefeito, e Miguel Bucalem, à época secretário de Desenvolvimento Urbano, apresentaram detalhes da Operação Urbana Lapa-Brás, que permitiria a demolição do Minhocão, com o deslocamento do tráfego para uma nova avenida, a ser construída onde hoje correm os trilhos da CPTM.
A Operação Urbana projetava o rebaixamento da linha férrea, transformando-a num sistema subterrâneo desde a Lapa até o Brás – numa extensão aproximada de 12 km. Na superfície, a proposta prevê uma via de porte estrutural, mas com características urbanísticas diferenciadas – de uso lindeiro intenso, com parques e ciclovias. Com isso, seriam proporcionadas melhorias na acessibilidade, ao permitir que os eixos transversais de ambos os lados, hoje interrompidos pela presença dos trilhos, possam se conectar.
Para Bucalem, professor da Escola Politécnica da USP, o modelo ideal para a cidade, em um cenário de longo prazo, é o previsto nessa Operação Urbana, com a demolição do Minhocão e a revitalização de seu entorno. “A proposta prevista na Operação Urbana Lapa-Brás ainda segue em análise pela atual gestão na Prefeitura. Se for adotada, cria um eixo de desenvolvimento urbano que beneficiará a cidade ao longo das próximas décadas”, afirma Bucalem.