“Gestores públicos ainda não entenderam que investir no esporte é também investir em saúde, educação, segurança e, enfim, qualidade de vida”. A afirmação é do secretário-geral da Confederação Brasileira de Futebol, Walter Feldman, que foi secretário de Esportes da Prefeitura de São Paulo entre 2005 e 2008, durante a gestão Kassab. Ele foi o palestrante do 12º Encontro Democrático, que teve por tema “A inserção social através do esporte”.
Veja o que disseram os participantes do encontro.
Apresentado pelo cientista político e colaborador do Espaço Democrático Rubens Figueiredo, o evento teve a participação da diretora executiva da ONG Atletas Pelo Brasil, Daniela Castro; e do ex-secretário de esportes de São Paulo Toni Moreno. Também estavam presentes a ex-tenista Patrícia Medrado; o campeão mundial de boxe na categoria Super Galo da organização World Pugilism Comission (WPC), Giovanni Andrade; a boxeadora campeã sul-americana WPC na categoria Mini Mosca, Élica Jamile; e a corredora Ana Luiza “Animal”. O debate contou ainda com a coordenadora nacional do PSD Mulher, Alda Marco Antonio, e com o economista Roberto Macedo, além de gestores municipais.
Gestão Kassab
Para demonstrar como as ações na área esportiva podem gerar uma gestão mais inclusiva, Feldman, que também já exerceu mandatos como vereador, deputado federal e estadual, fez uma síntese das realizações desenvolvidas durante sua atuação à frente da Secretaria de Esportes do município de São Paulo, ressaltando que os governantes devem dedicar mais atenção ao esporte. “Na minha avaliação, uma das questões mais complicadas do Brasil do ponto de vista de políticas públicas é a total incompreensão em relação ao papel que o esporte pode desempenhar. O esporte é uma preciosidade não utilizada. É preciso ficar claro que investindo em esportes você obtém ganho em outras áreas como saúde, educação, cultura e combate às drogas ”, analisou Feldman. Ele também lembrou que o investimento em esporte tem como benefício extra um retorno positivo de mídia, essencial em momentos que prefeitos e gestores enfrentam grande volume de queixas e críticas.
Com essa visão, em sua gestão à frente da Secretaria, Feldman implementou diversas ações para reestruturar os equipamentos esportivos da Capital paulista que, segundo ele, estavam combalidos. “O prefeito Gilberto Kassab me deu liberdade para implantar e coordenar as ações de políticas públicas de esportes e lazer para todo o tipo de público. Com isso, firmamos parcerias para preparar o quadro de funcionários para o novo momento e principalmente, para referendar uma nova estrutura”, conta.
Uma grande dificuldade de quem faz a gestão de esportes e lazer, segundo Feldman, é a pequena quantidade de recursos destinados a essa pasta. Em média, 0,4 a 0,6% do orçamento de uma prefeitura é destinado aos esportes. Em São Paulo, o investimento cresceu de 0,2%, em 2005, para 0,9% do orçamento em 2011, contribuindo com melhorias significativas no setor.
Entre os destaques da gestão de Gilberto Kassab estão a reforma e construção de equipamentos esportivos, a instalação de Clubes Escola, ciclovias e ciclofaixas, a reforma do Estádio Municipal do Pacaembu, e programas e projetos como Ruas de Lazer, Circuito Popular de Corrida de Rua e Virada Esportiva, entre outros.
Benefícios à saúde
Os Clubes Escola, equipamentos que oferecem diversas atividades para a saúde, bem-estar, lazer e recreação da população, é um dos melhores exemplos de como o esporte pode promover a integração entre o cidadão e os espaços públicos, gerando saúde e qualidade de vida.
Os Clubes Escola atingiram a marca de 70 mil matriculados nas 53 modalidades esportivas, culturais e recreativas disponíveis, chegando a 300 mil atendimentos mensais. Uma pesquisa feita pela prefeitura em 2011 apontou que 67% dos entrevistados consideravam que o Clube Escola ajudava a obter melhor desempenho nos estudos e 54% que o esporte beneficia a saúde.
Um exemplo do poder transformador de projetos como o Clube Escola foi relatado pelo boxeador Giovanni Andrade, que coordenou o Clube Escola Jardim Cabuçu. “A inclusão que os Clubes Escola e suas atividades gratuitas proporcionam têm o poder de mudar completamente a vida de pessoas. No trabalho que desenvolvo com o grupo de voluntários Força Jovem, dentro dos clubes, há casos de pessoas que estavam envolvidas com drogas e hoje são campeões em diferentes modalidades esportivas. A semente que foi plantada lá atrás com os Clubes Escola, não morreu. Ela ainda dá muito frutos e tem que ser espalhada”, disse.
Para Feldman, relatos como o de Giovanni reforçam a necessidade de tornar o acesso ao esporte e ao lazer mais acessível. “Os gestores devem oferecer acesso fácil às práticas esportivas. Com o esporte o desempenho dos alunos aumenta, o idoso se exercita e melhora sua saúde, a comunidade se mobiliza, todos têm uma elevação na qualidade de vida”, afirmou.
Sistema Nacional de Esportes
Quem compartilha o pensamento de que recursos devem ser direcionados visando tornar o esporte acessível a todos os públicos é a diretora executiva da ONG Atletas Pelo Brasil, Daniela Castro. A ONG é presidida pela ex-jogadora de vôlei Ana Moser, e reúne atletas de diferentes gerações e modalidades que lutam por melhorias no esporte.
Durante o Encontro Democrático, Daniela destacou a discussão que vem sendo travada sobre a criação do Sistema Nacional do Esporte, proposta que deve incluir normas sobre financiamento e repartição de responsabilidades entre União, Estados, municípios e o Distrito Federal, definindo uma política permanente e sistemática para o setor no Brasil. “As discussões ainda estão em sua fase inicial, mas há o consenso de que hoje as políticas esportivas estão muito voltadas para o alto rendimento, e que precisamos fazer modificações para levar o esporte a todos. A expectativa é que o projeto de lei seja apresentado em breve”, diz Daniela.
O ex-secretário de Esportes de São Paulo Toni Moreno, destacou a urgência da aprovação do Sistema Nacional do Esporte. “Precisamos aprovar antes das Olimpíadas de 2016, porque se ficar para depois, todos os esportes olímpicos serão deixados de lado. A mídia voltará a focar somente no futebol. Hoje, a média do orçamento destinado aos esportes nos municípios é muito pequena. Com o sistema teremos um papel bem definido de qual é a função do poder público e da entidade privada em relação ao esporte”, conclui.