Alexandre Schneider, ex-secretário municipal de Educação e colaborador do Espaço Democrático
São Paulo não é uma cidade fácil. Complexa, policêntrica, multifacetada, sofisticada, injusta. Administrá-la exige mais que competência gerencial. Exige ouvir, construir consensos, projetar o futuro e buscar de forma incessante materializá-lo.
A prefeitura deve trabalhar para todos, mas sua energia deve estar concentrada naqueles que mais precisam e dependem dos serviços públicos. Infelizmente, não é o que estamos vendo em São Paulo.
Ao contrário dos seus críticos habituais, sou a favor da implantação das ciclovias, o principal programa da gestão Fernando Haddad. Mas adotar essas boas práticas nas regiões centrais não esconde o fato de que a gestão patina em todas as outras áreas administrativas, fracassa nas políticas públicas mais importantes para quem mais necessita.
Enfrentando as mesmas restrições financeiras que seus antecessores, o prefeito deixou de lado as atividades de zeladoria.
E a cidade vê uma a uma as principais promessas de campanha se desmancharem no ar, envoltas em um cipoal de desculpas e atribuição de responsabilidades a outros: a oposição, o conservadorismo, o Tribunal de Contas, o Judiciário, a Fiesp, o Movimento Passe Livre etc.
A primeira vítima do encontro entre a fantasia eleitoral e a realidade da gestão foi sua principal vitrine de campanha: o Arco do Futuro, uma belíssima peça de propaganda eleitoral. Logo no início do mandato, a gestão assumiu que o projeto não sairia do papel.
A prefeitura reconheceu que entregará menos da metade das creches prometidas na campanha eleitoral de 2012, para as quais, segundo o então candidato Haddad, havia dinheiro da União esperando a solicitação de São Paulo.
As obras ainda não foram iniciadas e o dinheiro não veio. Todas as escolas entregues ou em construção até o momento foram contratadas ainda na gestão Kassab. Até agora a rede de creches foi ampliada em cerca de 30 mil matrículas. Para efeito de comparação, a administração anterior ampliou em 154 mil as matrículas em creche.
A velocidade média dos ônibus caiu, voltando ao patamar anterior ao da ampliação das faixas exclusivas. A implantação dos corredores de ônibus é lenta: estão em obras apenas parte dos contratados por Gilberto Kassab, que correspondem a 20% da promessa de Haddad.
A saúde enfrenta problemas como falta de médicos e de medicamentos, que pareciam superados. Houve uma queda de mais de 1,5 milhão de consultas na rede municipal de saúde. As Unidades Básicas de Saúde estão sobrecarregadas e as Organizações Sociais resistem a assumir novos contratos com a prefeitura por causa de recorrentes atrasos de pagamento.
Foi interrompido o programa de urbanização de favelas, um dos maiores do mundo. Por causa disso, comunidades como a de Paraisópolis, que desde a gestão Marta receberam investimentos da prefeitura, adiaram seu sonho de transformar-se em bairros. E depois de prometer manter, Haddad desmontou a inspeção veicular, deixando sem controle a poluição dos carros.
Ciclovias e faixas de ônibus são políticas importantes. Posso atestar como usuário. Mas, como diria o candidato Haddad, são muito pouco para uma gestão compatível com a riqueza e os desafios de São Paulo. Migalhas dormidas do banquete prometido na campanha eleitoral.
Artigo publicado no jornal Folha de S.Paulo em 30 de junho de 2015.