"Não acredito que haja coisa mais bela do que ser um educador"

 

 

 

Gilberto Kassab, presidente nacional do PSD

 

 

Acredito que uma das principais qualidades da minha formação como ser humano, e que me enche de orgulho, é o fato de ser filho de pais educadores. O professor Rubem Alves (1933-2014), mineiro de Boa Esperança, autor do título e da frase acima, foi um dos mais importantes pedagogos brasileiros.

Além de psicanalista, teólogo, escritor, professor da Unicamp e detentor de dois títulos nos EUA: o de Mestre em Teologia pela Union Theological Seminary (NY); e o de Doutor (PHD) em Filosofia no Seminário Teológico de Princeton.

Num dos seus livros, “Lições do Velho Professor” (Papirus Editora, 2013), Rubem Alves diz que “a primeira tarefa da educação é ensinar a ver. Quando os olhos deles (estudantes) sorriem, o mestre se sente feliz: estão vendo as mesmas coisas”. O professor explica, porém, que “além de ver, para compreender esse mundo cheio de assombros, é preciso pensar. É quando passamos do visível para o invisível. Compreender é ver o invisível; foi assim que nasceram as ciências”.

É assim também que ao longo de 270 páginas Rubem Alves vai ensinando, em 86 temas curtos, com conceitos técnicos e filosóficos e de muita paixão pela educação. Exemplo sensível, muito oportuno diante da urgência que o Congresso tem (até o fim do ano) para regulamentar a Emenda Constitucional 108 ou um projeto de lei vindo do Executivo. E tudo diante de um contexto de pandemia e cortes de verbas somados aos déficits de até R$ 56 bilhões na arrecadação dos estados e municípios.

Antes que o ano acabe, enfatizo, falta “apenas” discutir, mudar, melhorar, aprovar essa regulamentação da EC-108. E enviá-la para promulgação do presidente da República. Uma grande batalha que temos pela frente – Governo Federal e Congresso.

Batalha em que o PSD se empenhará, pois sem isso 1.500 municípios de alta vulnerabilidade e seus 7 milhões de alunos podem deixar de receber cerca de R$ 3 bilhões em 2021.

Já falei da urgência, do prazo exíguo, da presença da pandemia. Falo agora de prefeitos e vereadores que serão eleitos brevemente, de futuros administradores responsáveis pelo ensino municipal básico e fundamental. Em harmonia, claro, com políticas educacionais federais e estaduais. E em consonância com o art 205 da Constituição de 1988: “Educação é direito de todos e dever do Estado e da família, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”.

Como presidente do partido, estou orgulhoso de termos entre os nossos mais de 39 mil candidatos, um número expressivo de professores e educadores concorrentes a prefeito(a): 72; vice: 67; e vereador(a): 1.782. O que dá, no país, um total de 1.921 candidatos, com destaque para os estados da Bahia (247), São Paulo (232), Minas Gerais (195), Paraná (149), Pará (113), Santa Catarina (111), Piauí (107) e Ceará (106), em que ultrapassamos uma centena de candidatos da Educação. Espero que todos os eleitos e eleitas para as prefeituras e câmaras de vereadores de todo o país – além de enfrentar a pandemia – possam investir na educação municipal.

Como fizemos nos quase sete anos em que estive à frente da Prefeitura de São Paulo, desde que assumi em 2006 até o final do meu segundo mandato, reeleito, em 2012.

Conseguimos dobrar o salário dos professores, de R$ 1.215 para R$ 2.600. Acabei com as escolas de lata e galpões improvisados da gestão anterior, realizamos reformas em todas as escolas municipais e erguemos 273 novas unidades, além de deixar mais 72 com obras em estágio final de construção – um total de 345 novas escolas. Com convênios e construção, deixamos 150 mil novas vagas em creches.

Com nova licitação, conseguimos 22% de redução do preço da merenda, servindo 1,8 milhão de refeições de melhor qualidade; 845 mil alunos da rede municipal de ensino passaram a receber em casa leite integral; só em 2012, foram distribuídas em média 1,6 tonelada de leite em pó por mês. O programa Minha Biblioteca distribuiu, entre 2007 e 2012, mais de 4 milhões de livros para alunos da rede municipal.

Também inovamos ao colocar dois professores em salas de crianças do primeiro ano do Ensino Fundamental. Elas passaram a ter, além do professor da turma, mais um universitário pesquisador, de Letras ou Pedagogia, que acompanhava a classe, tirava dúvidas e acelerava o aprendizado. Foi um sucesso: 98% dos pais ou responsáveis pelas crianças aprovaram, segundo pesquisa do Ibope.

Encontramos 21 CEUs (Centros Educacionais Unificados). Melhoramos, incrementamos e fizemos mais 25. Afinal, o que é bom deve continuar.

Assim age o administrador que pensa nas pessoas e, de verdade, na sua cidade. Assim devem refletir e agir governo e Congresso, aprovando as verbas necessárias para a Educação.

E viva o Professor! Afinal, como dizia o mestre Rubem Alves: “Ensinar é um exercício de imortalidade. De alguma forma continuamos a viver naqueles cujos olhos aprenderam a ver o mundo pela magia da nossa palavra. O professor, assim, não morre jamais…”

 

Artigo publicado no jornal Diário de S. Paulo em 15 de outubro de 2020