Planejamento deve ser cuidadoso, com serviços próximos aos residentes, escrevem Andrea Matarazzo e Hubert Alquéres

 

Andrea Matarazzo, ex-ministro da Secretaria de Comunicação (1999-2001), na gestão de Fernando Henrique Cardoso, ex-secretário estadual de Cultura (2010-12), nas gestões de Alberto Goldman e Geraldo Alckmin) e ex-secretário municipal de Subprefeituras (2006-2009), na gestão de Gilberto Kassab.

Hubert Alquéres, professor e presidente da Academia Paulista de Educação.

 

O conceito de cidades inteligentes, ou smart cities, vai muito além do mero uso da tecnologia para a eficiência dos serviços públicos. Uma cidade inteligente é aquela que incorpora valores de boa governança, sustentabilidade, nova matriz energética, mobilidade, valorização da inclusão e da igualdade em todos os campos da atividade humana. Valoriza a qualidade de vida de seus cidadãos.

Hoje é plenamente possível um planejamento do espaço urbano dinâmico que utilize as ferramentas disponíveis a partir da quarta revolução tecnológica, especialmente da inteligência artificial. O gestor público de hoje pode ter em suas mãos uma série de ferramentas que inexistiam em um passado recente.

Mas a cidade inteligente começa com um planejamento urbano cuidadoso, onde os serviços essenciais estão próximos dos residentes, como postos de saúde acessíveis, escolas de qualidade, centros esportivos e parques.

A acessibilidade é fundamental, garantindo que todos, incluindo idosos e pessoas com deficiência, possam se mover facilmente pela cidade. Calçadas de qualidade e rotas estratégicas são essenciais para garantir a mobilidade de todos os cidadãos. Além disso, o transporte público deve ser eficiente e acessível, permitindo deslocamentos rápidos e confortáveis.

Um elemento crucial é o zoneamento inteligente, que assegura uma distribuição equilibrada de regiões comerciais, industriais, de serviços e residenciais. Um bom Plano Diretor prioriza a qualidade de vida dos cidadãos em vez de seguir apenas modismos ou interesses do mercado imobiliário. A diversidade funcional é um conceito importante em cidades inteligentes, onde se busca uma mistura adequada de atividades residenciais e comerciais. Isso evita que determinadas áreas fiquem desertas em certos horários, melhorando a segurança e a vitalidade econômica local.

Serviços públicos eficientes são vitais para uma cidade inteligente. Isso inclui a limpeza urbana bem organizada, com coleta de lixo e varrição em horários apropriados, evitando que a sujeira se espalhe pelas vias públicas. A iluminação pública deve ser adequada, privilegiando parques, praças e calçadas, para melhorar a segurança e a qualidade de vida.

Uma legislação eficiente para regular a publicidade urbana evita a poluição visual e assegura que a cidade não seja ocultada por anúncios agressivos e de mau gosto. Além disso, a definição de horários para a circulação de caminhões e veículos maiores é importante para evitar congestionamentos e ruídos desnecessários.

Educação, cultura e saúde de qualidade são pilares fundamentais da cidade inteligente. Esses serviços devem ser acessíveis a todos. É necessário um foco especial na educação e na cultura, já que as escolas precisam preparar nossas crianças e jovens para profissões que ainda não existem, mas que se tornarão realidade ao completarem seu ciclo de aprendizagem.

Formar professores e desenvolver habilidades socioemocionais nos alunos é tão importante quanto fornecer um ensino acadêmico de qualidade. A sociedade e o mercado de trabalho moderno exigem jovens com espírito colaborativo, capacidade de trabalho em equipe, liderança e resiliência.

O planejamento de uma cidade inteligente é dinâmico e em constante evolução, adaptando-se às mudanças na sociedade e garantindo que a cidade esteja sempre melhorando. Curitiba é um bom exemplo de cidade inteligente no Brasil, devido ao seu planejamento urbano eficiente e políticas inovadoras focadas na qualidade de vida dos cidadãos.

Em resumo, cidades inteligentes são centradas nas pessoas, com uma abordagem que integra planejamento urbano, acessibilidade, serviços públicos eficientes, legislação adequada, diversidade funcional e um compromisso contínuo com a evolução e melhoria da qualidade de vida de todos. Há muitos outros conceitos a serem abordados, que ficarão para outros artigos.

 

Artigo publicado no jornal Folha de S. Paulo em 31 de julho de 2024.

 

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