Gilberto Kassab, ministro das Cidades e ex-prefeito de São Paulo
Foi em Paris, em 1862, que a história registrou pela primeira vez um prefeito preocupado em construir caminhos para separar velocípedes e bicicletas de carruagens e charretes nos parques da cidade.
Hoje, ainda preocupados com segurança e alternativas para vencer distâncias e diminuir o estresse nas nossas metrópoles, cá estamos nós às voltas com a necessidade de harmonizar a convivência e a circulação entre carros, ônibus, trens, VLTs (veículos leves sobre trilhos), motocicletas e as 70 milhões de bicicletas – e seus usuários pelo Brasil.
No nosso caso, os trajetos não são só em parques mas também em ciclovias, ciclofaixas, ciclorrotas e vias partilhadas com pedestres.
Sou estudioso do tema e apaixonado por ele. Como prefeito de São Paulo, deixamos a cidade com mais de 240 km de malha cicloviária. Ao final de 2012, tínhamos 120 km de ciclofaixas de lazer aprovadas por 98% dos ciclistas, segundo o Ibope. Instalamos a primeira ciclofaixa definitiva, que funciona 24 horas por dia, no bairro de Moema.
Implantar e reproduzir ciclovias, principalmente nos grandes centros urbanos, requer políticas viárias consistentes e adequadas. Exige diálogo com a comunidade e, acima de tudo, planejamento sério e consciência de que se trata de um processo complexo e gradual. Isso requer coragem para abrir espaço para corredores de ônibus, VLTs e linhas de metrô.
Lembro-me bem da primeira ciclorrota da capital paulista, a do Brooklin, em junho de 2011. Deixamos 58 km de ciclorrotas sinalizados e, funcionando, o compartilhamento de bicicletas, que inauguramos em 2012, com 7.200 bikes.
Dessa forma, a “Cartilha do Ciclista” e – até o início de 2016 – o lançamento do “Manual Cicloviário” fazem parte desse esforço do Ministério das Cidades, num exemplo de integração entre a Secretaria Nacional de Mobilidade e Transporte e o Denatran (Departamento Nacional de Trânsito).
Esses dois documentos servem para conscientizar ciclistas e condutores de veículos que ocupam as vias públicas sobre seu papel e suas responsabilidades no trânsito.
A segurança é a principal preocupação presente ao longo de 60 páginas da “Cartilha do Ciclista”, que informa quais são os acessórios indicados, dicas de comportamento no trânsito, conceitos de vias específicas, sinalização e como fazer a manutenção preventiva. Tudo isso para proteger vidas, não apenas do ciclista, mas a do pedestre, e estabelecer maior tranquilidade a todos os condutores de veículos.
Os dois manuais que anunciamos nesta terça-feira, Dia Mundial sem Carro, são ambiciosos no seu escopo de seguir debatendo e aperfeiçoando normas nacionais para, por meio de regras de circulação e de sinalização adequadas, garantir a tranquilidade de todos que saem para trabalhar, praticar esporte, fazer pequenas entregas ou simplesmente para passear pelas cidades.
Nesse contexto, o reforço na fiscalização e a realização de campanhas e programas educacionais são vitais. Relembro que em 2012, em obediência ao Código Brasileiro de Trânsito, a CET (Companhia de Engenharia e Tráfego de São Paulo) passou a multar motoristas em flagrante desrespeito a ciclistas na cidade de São Paulo.
Isso depois de desenvolvermos um amplo programa educativo, reforço de sinalizações, pintura de faixas e iluminação de ciclovias etc.
Já temos, apenas nas capitais, mais de 2.000 km de ciclovias. Vejo com alegria a proliferação, ainda que tímida, porém estimulante, de táxis elétricos, semente que lançamos na nossa gestão em São Paulo.
O Ministério das Cidades estará, com as novas normas e os dois manuais, ainda mais próximo dos municípios, de ciclistas e de pedestres, contribuindo para aumentar a segurança e a mobilidade sustentável. Juntos, vamos lutar para diminuir os acidentes e tornar melhor e mais solidária a convivência nas nossas cidades.
Artigo publicado no jornal Folha de S.Paulo em 23 de setembro de 2015.