Gilberto Kassab, presidente nacional do PSD
Aqui, correm de maneira tranquila as eleições municipais. E no mesmo dia da votação, 15 de novembro, praticamente todos os 5.568 municípios brasileiros saberão o nome dos novos prefeitos e vereadores eleitos. Sim, ainda haverá o segundo turno, que definirá disputas em até 95 municípios. O PSD tem 1.641 candidatos a prefeito. É a segunda legenda com mais candidaturas. Viva a nossa democracia de 31 anos. Viva o sistema eleitoral brasileiro, nossa tecnologia e a rapidez da apuração.
Nos Estados Unidos, embora o pleito presidencial já tenha proclamado – ainda não oficialmente, já que se trata de uma contagem de votações nos Estados em andamento e que deverá ser referendada no Colégio Eleitoral, – a vitória do democrata Joe Biden, ele só tomará posse em 20 de janeiro, após a votação pelos delegados dos Estados, além do julgamento de eventuais ações interpostas por Donald Trump, que tentam rever os resultados atualmente apurados das urnas. Biden teve 75 milhões de votos, contra 71 milhões de Trump. Pleito muito disputado. Viva a democracia de 240 anos.
Mas enquanto não chega janeiro, Biden bem que gostaria de estar de fato trabalhando, embora não tenha nem acesso aos projetos que estavam sendo tocados por Trump. Como, por exemplo, o que ele iria fazer para combater e enfrentar a Covid-19. Biden pode, no máximo, falar o que pretende fazer. E, assim, cada um dos 50 Estados norte-americanos faz o que pode.
Aqui, nossos prefeitos e vereadores eleitos começam a trabalhar dia 1º de janeiro. E têm muitos compromissos pela frente. Por exemplo, somar esforços com legislativos, governadores, presidente e ministros na luta ainda prioritária contra a Covid-19, associada à retomada do crescimento econômico, à criação de empregos e outros elementos dessa importante equação. Esses e outros problemas graves exigem um gigantesco trabalho solidário que em grande parte se cristaliza e se ramifica pelas cidades, envolvendo empresas, escolas, centros de saúde, hospitais, delegacias, indústrias – ou seja, diferentes atividade. Os prefeitos dos municípios do Oiapoque ao Chuí precisam estar conscientes e unidos para manter um Brasil saudável. Nos dois sentidos: sanitária e financeiramente.
Enquanto isso, nos EUA o governo Biden-Harris terá pela frente, além da pandemia, um desafio gigantesco: unir um país politicamente muito dividido. Uma mudança de comportamento, maior tendência para o diálogo, ajudaria muito. Democratas e republicanos protagonizaram uma longa campanha que demonstrou protestos, violência e conflitos em vários estados. O que os últimos tempos mostraram é que Trump se pauta pelo enfrentamento, pelo confronto.
Aqui, num universo de 12,7 mil candidatas a vereadoras, teremos 6.197 postulantes negras. Muitas serão eleitas, mas certamente ainda deveremos lutar bastante para tê-las atuantes em maior número nas câmaras municipais de todo o país. Lá, os americanos têm a vice Kamala Harris, primeira mulher eleita como vice na história política dos EUA; e as mulheres bateram um recorde no congresso nesta eleição: foram eleitas 24 senadoras e 111 deputadas. Além disso, Kamala, com pais de origem negra e asiática, é uma presença importante na equipe de Joe Biden. Uma ponte na reaproximação de entidades e movimentos negros e imigrantes. Peça importante no fortalecimento de um diálogo inclusivo e de união na sociedade americana.
Por aqui no Brasil, embora numa eleição mais curta, por conta das restrições impostas pela pandemia, se prevê que antes de sua posse, cada prefeito eleito seja posto a par dos problemas econômicos, sociais e, no atual contexto, dos desafios sanitários que deverá enfrentar. Normalmente, é tradição no Brasil (e era nos EUA antes de Trump) acontecerem, após as eleições, reuniões entre a administração encerrando seu ciclo e a que entrava. Encontros urbanos, civilizados, entre técnicos e funcionários das várias áreas de governo. Saber o que está acontecendo, em detalhes, na administração que se finda, principalmente num contexto de pandemia, pode acelerar a tomada urgente e abalizada de decisões. Ainda mais diante da grave retração econômica que aqui enfrentamos.
Lá, infelizmente como cá, o negacionismo sanitário correu solto em relação a uso de máscaras, obrigatoriedade de vacinação – aceitação ou não de vacina “chinesa”; indústrias e comércio fechados ou abertos com critérios diversos, funcionamento ou não de escolas, discordâncias sobre prática de esportes, tamanho de aglomerações, entre tantas situações.
No mundo todo a pandemia exigiu e ainda exigirá (enquanto todos não forem vacinados) respeito à ciência, diálogo permanente entre entes federativos, obediência e participação de entidades e organizações de saúde, internacionais e locais.
Os partidos políticos – PSD incluído –, envolvidos nas próprias eleições, não podem se esquecer de que, mesmo em meio à pandemia, a vida segue. E eleitores-cidadãos, todos certamente pedem, lá e aqui, respeito ao voto colocado nas urnas. Norte-americanos e brasileiros, em um contexto pós-eleição, esperam – e têm direito a isso – que os governos funcionem sem agressões ao estado democrático de direito. E que as questões sociais e econômicas – diminuição das desigualdades, retomada do crescimento, equilíbrio fiscal, aprovação de reformas, aportes a municípios e Estados – sejam discutidas e resolvidas com transparência, com séria e ativa participação do governo, do Congresso, envolvimento da sociedade.
A crise é longa e é de todos. Não podemos, nem devemos, nos iludir com soluções enganosas, nem guiadas por decisões que visem, extemporaneamente, as próximas eleições. Sobre a relação com o novo governo dos Estados Unidos, os brasileiros torcem e desejam um comportamento civilizado, uma reaproximação e um pragmatismo sério, responsável e consequente.
Que discussão e solução de interesses bilaterais de Estado, quer sejam comerciais, de segurança, ambientais, se resolvam com diálogo, busca de consensos, respeito aos princípios e valores democráticos. Sem precipitações e populismos que não levam a nada, a não ser ao descrédito diante dos quase 148 milhões de brasileiros de boa fé aptos a votar no domingo.
Que as liberdades de imprensa e comunicação sejam protegidas e respeitadas. E que nas nossas eleições municipais prevaleça o exercício do voto democrático, pelo qual lutam todos os partidos regularmente inscritos nos TREs – incluindo o nosso PSD, segundo partido a apresentar maior número de candidatos na eleição de domingo: 38.953.
Partido de centro, independente, desde sua fundação, o PSD luta, com orgulho, pela democracia, pelo bem dos brasileiros e pelo progresso do nosso País.
Artigo publicado no jornal Diário de S.Paulo em 14 de novembro de 2020.