Em editorial, jornal questiona as razões que levaram o governador Geraldo Alckmin a não adotar o racionamento de água.

Folha de S. Paulo

O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), enfim esclareceu um aspecto dos mais relevantes na atual tentativa de evitar racionamento de água: seu custo para os cofres públicos. Serão R$ 800 milhões caso o programa de bônus se estenda até o final do ano.

Inicialmente destinada aos 9 milhões de usuários do sistema Cantareira, a campanha foi ampliada nesta semana para os 31 municípios da Grande São Paulo, incluindo a capital, alcançando 17 milhões de pessoas. Quem reduzir o consumo de água em pelo menos 20% terá desconto de 30% na conta.

Além dessa diminuição de arrecadação da Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo), há gastos com obras emergenciais, como a construção de estruturas para captar água das partes mais profundas das represas –o chamado volume morto.

O impacto total das medidas deve ficar perto de R$ 1 bilhão, ou cerca de 9% da receita anual da Sabesp. Com isso, a estatal suspenderá R$ 700 milhões de seu plano de investimentos de 2014, o equivalente a pouco mais de 25% do montante previsto para essa finalidade.

Não se sabe, no entanto, de que maneira será feito o contingenciamento. Pela dotação inicial, a Sabesp esperava investir R$ 1,642 bilhão em tratamento e coleta de esgoto e outros R$ 981 milhões em abastecimento de água. Como as rubricas serão prejudicadas?

Essa não é a única pergunta que continua sem resposta. As mais relevantes delas dizem respeito aos motivos que levaram o governo Geraldo Alckmin a não adotar o racionamento de água e às consequências futuras dessa opção.

Desde que a crise hídrica se mostrou incontornável, especialistas têm afirmado que o mais prudente seria implementar pelo menos um racionamento moderado, a fim de evitar danos de longo prazo.

Por razões eleitorais –e tudo o mais sugere que apenas por elas–, o tucano prefere não pôr em prática tal medida, decerto impopular. Conta com a volta das chuvas a partir de outubro, um evento incerto, e arrisca deixar parte da Grande São Paulo na mais pura seca.

Nos últimos dois meses, as reservas do Cantareira caíram de 22,4% –no que já era seu menor nível em 39 anos– para 13,4%.

Sem trocadilho, o tempo dirá se, por trás das escolhas de Alckmin nessa crise, há alguma dose de responsabilidade.