Jornal diz, em editorial, que até agora nada se descobriu que pudesse comprovar que a última falha no sistema do Metrô tivesse sido provocada por ações de vândalos. "A estratégia já foi usada outras vezes para justificar algumas das inúmeras falhas que se verificam no sistema de transporte sobre trilhos", diz o texto.

Folha de S.Paulo – Editorial

Seria sem dúvida mais cômodo, do ponto de vista do governo de São Paulo, que as panes ocorridas no metrô nos últimos dias fossem consequência de uma ação orquestrada por vândalos.

Essa hipótese foi aventada pelo governador Geraldo Alckmin (PSDB) e por seu secretário de Transportes Metropolitanos, Jurandir Fernandes. Até aqui, no entanto, nada se descobriu que pudesse confirmar a conjectura.

O mais provável é que o discurso oficial seja apenas uma nova tentativa de desviar a atenção de problemas recorrentes. A estratégia já foi usada outras vezes para justificar algumas das inúmeras falhas que se verificam no sistema de transporte sobre trilhos.

No episódio de terça-feira, uma pane em uma das portas de um trem da linha 3-vermelha, na estação Sé, provocou tumulto de grandes proporções no final da tarde.

Após 25 minutos de espera e incomodados com o calor, a superlotação e a falta de informações, usuários de diversos trens daquela linha –que estavam parados, aguardando o conserto da composição na Sé– apertaram botões de emergência, saíram de seus vagões e caminharam pelos trilhos.

Por razões de segurança, a energia foi desligada, e a circulação no sistema, interrompida. A paralisação durou cinco horas. Dos 40 trens que circularam naquele trajeto, 19 sofreram algum tipo de dano, como vidros quebrados.

Ontem pela manhã, a mesma estação registrou nova pane no fechamento das portas. Dessa vez, o problema afetou a circulação na linha 1-azul, felizmente sem que se prolongasse por tanto tempo.

Tais ocorrências testemunham a sobrecarga da rede do Metrô e a defasagem na atualização de sua infraestrutura. De acordo com o presidente do sindicato dos metroviários, Altino de Melo Prazeres Júnior, já chega a 16 o número de problemas registrados no sistema durante este ano.

É um triste indicador de que pouco tem sido feito para reverter a tendência de aumento das falhas: foram 28 em 2010 e 66 em 2012 –o Metrô não informou quantas ocorreram no ano passado.

Trens antiquados, porém, continuam em operação, e não há sinal de progresso nos procedimentos de segurança ou no atendimento ao usuário em momentos de crise. Ainda pior, a malha metroviária tem se expandido a passos de cágado nas últimas duas décadas.

Segundo o Ministério Público, o ritmo das propinas é bem mais intenso. Contratos superfaturados teriam causado prejuízo de R$ 800 milhões ao Metrô. Se confirmado o desvio, será o caso de dizer que esse dinheiro, obviamente, faz muita falta à população.