Segundo as diretrizes orçamentárias, 99,96% do orçamento de R$ 5 bilhões estão comprometidos com o pagamento de pessoal.

O Estado de S.Paulo

A Universidade de São Paulo (USP) reduziu em 29,43% a dotação orçamentária para custeio e investimentos em 2014, em comparação com o ano anterior. Segundo as diretrizes orçamentárias, obtidas pela reportagem, 99,96% do orçamento de R$ 5 bilhões estão comprometidos com o pagamento de pessoal.

O corte foi revelado ontem pelo estadao.com.br. A proposta prevê a utilização adicional de R$ 574 milhões das reservas da universidade, o que representa 12,52% do total. Por causa do comprometimento das contas com salários e aposentadorias, a USP tem recorrido às suas reservas para manter as contas em dia (de custeio e investimento). Desde o ano passado, cerca de R$ 1 bilhão dessas reservas já foi consumido, segundo fontes ouvidas pela reportagem.

A projeção da USP é de que suas finanças só sejam ajustadas em dois anos. A crise financeira já havia sido apontada como principal desafio da gestão do reitor Marco Antonio Zago. A proposta, elaborada pela Comissão de Orçamento e Patrimônio, será analisada no próximo dia 25 pelo Conselho Universitário, órgão máximo da USP.

Praticamente todos os gastos da universidade sofreram cortes. Recursos para o “apoio às viagens e atividades de campo” e “manutenção de animais para ensino e pesquisa” tiveram redução de 33,23%. Os valores previstos para as unidades de ensino, institutos especializados, museus e prefeituras terão redução de 35%. O dinheiro para o mobiliário caiu 90%.

O orçamento para os projetos especiais, voltados para as áreas de pesquisa, graduação, pós e extensão, tiveram uma queda de 73% – passando de R$ 44,4 milhões para R$ 11,7 milhões. O corte deve provocar um impacto considerável em iniciativas como os Núcleos de Apoio à Pesquisa (NAPs). Tiveram pequenos aumentos ou se mantiveram no mesmo nível os recursos para permanência estudantil, restaurantes, serviços de utilidade pública e material bibliográfico.

Impacto. De acordo com um pesquisador da área biomédica, os cortes podem ter impactos “catastróficos”. “Vai ser um grande problema em relação ao desenvolvimento das pesquisas, mas também tem toda a estrutura física. Boa parte dos novos laboratórios não deve sair”, disse ele, que pediu anonimato.

A reitoria já informou que contratações e novas obras estão congeladas ao menos até abril, mas já existe sinalizações de que o congelamento seja estendido até o meio do ano. O reitor Marco Antonio Zago diz que, apesar dos cortes, não haverá prejuízos. “Não vamos cair 50 posições nos rankings internacionais porque um laboratório que seria feito agora ficou para o segundo semestre ou para o ano que vem. De saída, a melhor solução é brecar. Depois, analisaremos caso a caso”, disse ele ao Estado.

Os cortes não pouparam a USP Leste, que permanece interditada por causa de passivos ambientais. Zago garantiu que a unidade é prioridade. “Se for necessária a remoção de terra, por exemplo, gastaremos o dinheiro”, garantiu. Estima-se que a operação de remoção de terras poluídas custe R$ 20 milhões.