Agência Reguladora de Saneamento e Energia de São Paulo (Arsesp), que fiscaliza a empresa paulista, divulgou relatório técnico confrontando os cálculos da companhia e mostrando que o volume anual de água perdida aumentou em 85,7 bilhões de litros entre 2011 e 2012.

O Estado de S. Paulo

Embora tenha lançado campanha pela economia de água até com desconto para quem reduzir o consumo, a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) não cumpriu suas metas nos últimos anos e desperdiçou mais água durante a distribuição à população do que os 24% que tem divulgado. Na prática, o índice real de perdas no trajeto entre a represa e a caixa d’água dos consumidores atingiu 31,2% de todo o volume produzido em 2013.

O dado só foi revelado pela empresa ontem após questionamento feito pelo Estado, que confrontou o cálculo da companhia com o relatório técnico divulgado neste mês pela Agência Reguladora de Saneamento e Energia de São Paulo (Arsesp), que fiscaliza a Sabesp. O documento mostra que o volume anual de água perdida aumentou em 85,7 bilhões de litros entre 2011 e 2012, atingindo 32,1% da produção, enquanto que a Sabesp informou que o índice permaneceu estável em 25,7%.

A quantidade desperdiçada é suficiente para abastecer uma cidade com mais de 1,1 milhão de habitantes como Campinas, que só não iniciou racionamento ontem porque os governos federal e paulista decidiram aumentar a vazão de água do Sistema Cantareira para a região no último sábado.

A diferença de quase sete pontos porcentuais ocorre porque o índice divulgado pela Sabesp compara o volume de água produzido ao volume faturado (pago pelos usuários) e não com o que é efetivamente consumido pela população. “Na situação atual, este conceito não reflete adequadamente as perdas que ocorrem no sistema de abastecimento”, diz a Arsesp.

A agência alega que como a Sabesp cobra tarifa mínima de R$ 16,82 por mês de quem consome até 10 metros cúbicos, mas nem todos gastam toda a cota, o índice da empresa fica em patamar inferior ao real. “A alteração ou eliminação desse consumo mínimo, que deverá ser analisada na proposta da nova estrutura, provocará significativa alteração no nível das perdas de faturamento e manterá inalterado o nível de perdas efetivas”, afirma a Arsesp, citando a revisão tarifária que deve vigorar a partir de abril. A Sabesp queria reajuste de 13%, mas a agência o limitou a 4,66%.

Até na hora de comparar o seu índice ao resto do País, a Sabesp usou a perda sobre o volume faturado ante a média nacional de 38,8% de desperdício efetivo calculada pelo Ministério das Cidades em 2011, último dado disponível. Na França, por exemplo, o índice é 29% e no Japão, 11%. Os novos números em São Paulo surpreenderam até quem atua no setor, como o engenheiro hidráulico e professor da Escola Politécnica da USP Rubem La Laina Porto.

“Isso (diferença entre os índices) é novidade para mim, mas mostra a importância de se ter uma agência reguladora para um serviço que é um monopólio natural, que é o abastecimento de água. A maior parte das perdas ocorre nos ramais, que fazem a ligação dos dutos até as residências. Eles ficam enterrados, são muito antigos e têm um diagnóstico e um reparo mais difícil”, disse Porto.

Tendência. Em nota, a Sabesp informou que “não há índice certo ou errado para calcular as perdas no sistema de abastecimento” e que “cada indicador tem uma finalidade e deve ser usado de acordo com a necessidade para avaliar o sistema”.

“É importante ressaltar que cada ponto porcentual reduzido em perdas significa uma sobra de água para abastecer 300 mil pessoas. Em qualquer critério. Assim, a queda de dez pontos porcentuais ocorrida entre 2004 e 2013 resulta em uma sobra de água suficiente para abastecer 3 milhões de moradores”, informou a companhia.