Andrea Matarazzo é primeiro entrevistado pelo jornal O SÃO PAULO, semanário da Arquidiocese de São Paulo, numa série com os candidatos a prefeito de São Paulo mais bem colocados

O jornal O SÃO PAULO, semanário da Arquidiocese de São Paulo, iniciou uma série de entrevistas com os candidatos a prefeito de São Paulo. Foram convidados os seis primeiros colocados na pesquisa Exame/Ideia de 23 de setembro. Andrea Matarazzo é primeiro entrevistado. Paulistano, ele tem 63 anos, é administrador de empresas e filiado ao Partido Social Democrático (PSD) desde 2016.

O SÃO PAULO – No entender do senhor, quais os principais problemas da cidade e como pretende resolvê-los?

Andrea Matarazzo – A geração de empregos é o principal problema, sobretudo depois da pandemia do coronavírus. Há outras demandas urgentes, como saúde, educação e assistência social, mas a retomada do emprego, da renda das famílias e da economia da cidade são as prioridades absolutas.

Meu programa de governo tem três eixos: o primeiro é o desenvolvimento humano, que vai priorizar as pessoas. Precisamos gerar empregos – o que é possível, por exemplo, com as frentes de trabalho em praças e parques. Na Educação, além da escola formal, as crianças e jovens devem ocupar o restante do dia com esporte e cultura, nos diversos equipamentos públicos que já estão à disposição na cidade inteira. Pretendo dobrar os orçamentos de esporte e cultura. Na periferia não há lazer, e, por isso, vamos colocar de novo uma programação integral nos 50 teatros dos Centros Educacionais Unificados (CEUs) e nas 70 bibliotecas municipais espalhadas por toda a cidade.

O segundo eixo é a infraestrutura. Vou terminar as obras que existem, fazer algumas obras de prevenção de enchentes, pequenas obras que não são caras. O principal, porém, é urbanizar favelas, dar posse da terra e saneamento básico, gerar emprego, para descentralizar a cidade.

O terceiro eixo é desburocratizar, por meio da tecnologia, e assim modernizar e combater a corrupção. Informatizar o licenciamento, a aprovação de projetos – isso combate a corrupção na raiz. A cidade tem muita corrupção. A fiscalização de serviços quem tem de fazer é o morador, usando aplicativos.

A população precisa ser atendida nas questões básicas, por isso não dá para fazer como o prefeito Bruno Covas, que gastou quase R$ 100 milhões com uma fonte luminosa no Vale do Anhangabaú.

A atual pandemia mostrou as dificuldades das famílias mais pobres em manter o isolamento social em casas pequenas e comunidades adensadas. Diante disso, quais os planos do senhor para a Habitação?

Vamos voltar a fazer a urbanização de favelas, que são 1,3 mil em São Paulo. Precisamos dar moradia digna às famílias que ainda vivem sem endereço. Quando fui secretário de Obras da Prefeitura de São Paulo, fizemos a urbanização de parte de Paraisópolis, levamos saneamento, pavimentação de ruas, entre outros. Depois disso, tudo parou.

Outra medida importante é a regularização fundiária, para que os moradores tenham a posse da terra onde já vivem há anos. As pessoas querem continuar morando onde estão, então temos que levar a infraestrutura, já existente no centro expandido, para a periferia.

Como planeja recuperar os meses que os estudantes não puderam ir à escola? Como agirá para sanar o déficit de vagas em creches e na pré-escola?

A primeira ação é fazer um diagnóstico do impacto da pandemia na formação dos alunos e, a partir daí, elaborar e implementar um plano de recuperação para os mais prejudicados. Vou criar, também, programas para valorizar habilidades e competências, com integração da educação com esporte e cultura. Atenção especial à pré-escola, pois, com a pandemia, a fila pode voltar a existir. Quanto às creches, vou ampliar as vagas na periferia, onde as mães mais precisam. Fazer mais convênios, capacitar e valorizar professores e colaboradores.

Na área da Saúde, quais serão as prioridades?

Vou ampliar os serviços das Unidades Básicas de Saúde (UBSs), Assistências Médicas Ambulatoriais (AMAs) e hospitais, que vão oferecer atendimento em todos os turnos e nos fins de semana; modernizar os hospitais; integrar as unidades de saúde municipais e estaduais com um sistema informatizado; ampliar o atendimento para pessoas com deficiência; criar o programa AMA Sorriso, com pronto-socorro odontológico 24 horas; investir em medicina preventiva e melhorar o Programa Saúde da Família.

O senhor tem algum plano para a geração de empregos?

Neste período de pandemia, a Prefeitura teve que fazer o lockdown, fechou todas as lojas, todos os serviços. Todo mundo ficou sem receita, mas a Prefeitura continuou cobrando os impostos como se estivéssemos no apogeu da economia. Foi um erro. Eu teria suspendido a cobrança de imposto neste momento de tanta vulnerabilidade. E é preciso lembrar que o Brasil já estava em crise econômica havia quatro anos; a pandemia a agravou ainda mais. Agora a Prefeitura precisa gerar empregos, com frentes de trabalho para manutenção de praças, parques; ajudar os empreendedores e pequenos empresários com crédito, com refinanciamento de impostos; e pode eliminar por um tempo taxas, fazer frentes de trabalho para tentar segurar um pouco o emprego, além de dar apoio ao trabalhador informal.

A capital paulista tem ao menos 24 mil pessoas em situação de rua, conforme dados da Prefeitura. Como pretende agir diante dessa realidade?

Hoje há 30 mil pessoas nas ruas, metade com dependência química e transtorno mental e a outra metade com falta de emprego ou outras razões econômicas e sociais. A Prefeitura só oferece o albergue à noite, sem atender a todas as necessidades nem adaptações às novas realidades, como as famílias de rua. Para atender a quem tem dependência e transtornos, vamos fazer parcerias com entidades como Hospital das Clínicas e Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), além de instituições que já fazem atendimento, como as igrejas.

Para a população sem esses problemas, vamos oferecer cursos de capacitação e requalificação em parceria com o sistema S e sindicatos, a serem ministrados em igrejas e outras entidades.

O governo tem o dinheiro e a política pública. Igrejas e entidades têm espaço e mão de obra. Essa é a parceria necessária. O que não podemos é fechar os olhos a esse problema, como se os moradores de rua fossem invisíveis.

Como obterá verba para colocar em prática suas propostas de governo?

O orçamento para 2021 deve ficar muito próximo do deste ano, em torno dos R$ 67 bilhões. Há dinheiro para financiar os projetos e políticas públicas em todas as áreas. É preciso definir bem as prioridades. O problema é que o atual prefeito gastou mal, muito mal. Foram quase R$ 100 milhões com fonte luminosa no Vale do Anhangabaú e mais R$ 118 milhões de subsídio às empresas de transporte, como “compensação pela perda de passageiros por causa da pandemia”. Injustificável! Esses valores poderiam ter sido usados para a geração de emprego e renda, na criação de um fundo de microcrédito para os pequenos empreendedores ou na entrega de cem creches, por exemplo. Aliás, está no nosso plano de governo: vamos dar transparência à divisão dos recursos, para que a população saiba como e onde o dinheiro do orçamento está sendo gasto.

Qual apoio a Prefeitura ofertará às vítimas de abuso sexual que resultem em gravidez, a fim de que evitem recorrer ao aborto?

Casos de abuso sexual são os mais dolorosos exemplos do que é a violência doméstica, que por sua vez é um problema multifacetado. Portanto, sua abordagem deve se dar em diversas frentes, desde a assistência social, segurança, educação e saúde. Portanto, as nossas ações deverão ser implementadas em coordenação com as secretarias da Saúde, Assistência Social, Segurança, bem como a participação de parceiros do setor privado e sociedade civil.

Dentro dos limites legais, o município deve atuar efetivamente para prevenção e enfrentamento à violência doméstica contra mulheres, bem como atuar no acolhimento daquelas nessa situação. Uma ação concreta que vamos ter é o aumento das Casas Abrigo, que garantem atendimento integral, em alojamento temporário sigiloso, às mulheres em situação de violência doméstica e familiar que estejam em risco iminente.