Octavio de Barros, ex-economista-chefe do Bradesco, destacou que avanços tecnológicos e de conhecimento terão efeito brutal sobre as pessoas e a economia

Octavio de Barros: avanço da economia digital vai provocar fortes mudanças, com reflexos no cotidiano, nos modelos empresariais, no mercado de trabalho e mesmo na política.

 

Sociedade e governo têm subestimado os impactos da revolução digital e cognitiva que está ocorrendo no mundo todo e que deverá trazer transformações brutais para o mundo do trabalho. O alerta é do economista Octavio de Barros, palestrante do Encontro Democrático realizado nesta segunda-feira (10), que teve por tema “A Nova Globalização: Os Bárbaros Atacam os Impérios”.

O evento, transmitido ao vivo pelo Facebook (veja aqui a íntegra), integra a série de debates que o Espaço Democrático – fundação do PSD para estudos e formação política – vem realizando para analisar temas relevantes para a sociedade brasileira e gerar conteúdo para orientar a ação dos integrantes do partido que atuam nas diversas instâncias de governo. O encontro desta segunda-feira foi coordenado pelo economista Luiz Alberto Machado e teve a participação do ex-ministro das Comunicações Andrea Matarazzo e do economista Roberto Macedo.

 

 

Octavio de Barros, que foi economista-chefe do Bradesco por 15 anos e do Banco Bilbao Vizcaya Argentaria (BBVA) por outros cinco, tem doutorado pela Universidade de Paris 10-Nanterre e é cofundador e sócio da Quantum4 Soluções de Inovação e presidente do conselho do think tank da República do Amanhã no Brasil e do Institut République na França.

Em sua palestra, mostrou que o avanço da economia digital e do conhecimento vai provocar fortes mudanças nos próximos anos, com reflexos no cotidiano das pessoas, nos modelos empresariais, no mercado de trabalho e mesmo na política. “No mundo do trabalho, haverá um generalizado processo de trabalho ‘on demand”, com o fim gradual do trabalho assalariado clássico, empregos cada vez mais fragmentados, carreiras voláteis e ocupações temporárias, associadas a projetos específicos por prazo determinado”, previu.

Para ele, essa transformação já está ocorrendo e sociedade e governo do Brasil devem iniciar a busca de soluções para os problemas que estão chegando, uma preocupação que já está presente em muitos países, em especial nas economias mais avançadas.

Em sua visão, “em um horizonte de aproximadamente 20 anos a criação de empregos não terá a menor condição de superar a destruição de postos de trabalho”. Mesmo que o ajuste ocorra num momento posterior, afirma Octavio de Barros, “é fundamental a construção de um sistema de proteção social que permita que as pessoas mudem com frequência de atividade sem ficarem desprotegidas”.

Barros disse acreditar que o mundo terá de pagar um preço para reduzir a desigualdade e as novas tecnologias forjam novas formas de se produzir. “Assim, as regras trabalhistas devem se adaptar e não tentar interromper esse processo, evitando a degradação social”, afirmou.

No cenário desenhado pela revolução digital e cognitiva, lembrou o economista, os trabalhadores serão cada vez mais autônomos, colocando em xeque a proteção social, os acordos salariais, a representação coletiva, os sindicatos, a justiça do trabalho e outras instituições. “A médio prazo, os sindicatos entrarão em colapso e a luta política poderá se radicalizar”, previu, destacando que os sindicatos ainda são a forma mais organizada de reivindicação social.

Octávio de Barros ressaltou também os desafios no campo da qualificação de profissionais, citando que 65% das crianças de hoje terão no futuro um emprego que ainda não existe. “O paradoxo é que, mesmo num mundo em que o emprego tradicional está encolhendo, as empresas seguirão tendo dificuldade de treinamento e as qualificações terão que ser dinâmicas”, disse.