O governador Geraldo Alckmin (PSDB), que tenta a reeleição, o ex-ministro da Saúde, Alexandre Padilha (PT), o presidente da Federação de Indústrias do Estado, Paulo Skaf (PMDB), e o ex-prefeito de São Paulo Gilberto Kassab (PSD) montaram agendas voltadas para o interior.

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Se cada um dos pré-candidatos ao governo de São Paulo estivesse disposto a visitar todas as 645 cidades do Estado em busca de votos, eles teriam de passar em sete delas por dia durante os três meses de campanha. Talvez não desse tempo para tomar uma única xícara de café na principal padaria de cada cidade – parada consagrada do corpo a corpo eleitoral brasileiro. Não à toa, eles precipitaram para esta semana a batalha pelos 22,8 milhões de votos que estão fora da capital paulista.

O governador Geraldo Alckmin (PSDB), que tenta a reeleição, o ex-ministro da Saúde, Alexandre Padilha (PT), o presidente da Federação de Indústrias do Estado, Paulo Skaf (PMDB), e o ex-prefeito de São Paulo Gilberto Kassab (PSD) montaram agendas voltadas para o interior.

Só nesta sexta, Alckmin esteve em cinco municípios da região de Itapeva, para anunciar obras do governo estadual em recuperação de estradas. Skaf inaugurou uma unidade do Serviço Social da Indústria (Sesi) em Itapira e firmou convênio educacional em Mogi Mirim. Neste sábado, Padilha dará sequência a uma caravana de ônibus em Ribeirão Preto, ao lado do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, idealizador da candidatura, destinada ao antigo sonho de tentar quebrar a hegemonia do PSDB no governo paulista. O ex-ministro da Saúde passará por treze cidades até a próxima sexta-feira. E Kassab, também de ônibus, viajará de São Paulo para um encontro do PSD em Bauru.

O discurso oficial dos partidos é que as incursões pelo interior servem para ajudar a montar os respectivos programas de governo. Por trás das palavras, a intenção é usar o período em que a Justiça Eleitoral veda a campanha – até 6 de julho – para aproximar os pré-candidatos de potenciais eleitores. Na lista de eventos, há homenagens, visitas a feiras e universidades, seminários e plenárias com vereadores.

Os pré-candidatos disfarçam a caça aos votos, mas o tom eleitoral é evidente. Em Igarapava, Padilha caminhou com apoiadores na ponte sobre o Rio Grande e tirou fotos abraçado com crianças na Câmara Municipal. O ex-ministro participa das atividades como “coordenador de caravana” – cargo recém-criado no diretório do partido para abrigá-lo. Na prática, uma formalidade para evitar acusações de campanha antecipada. A estratégia do PT é fazer seu pré-candidato conhecido no interior com a imagem de político experiente e realizador. Historicamente, o partido obtém votações mais expressivas nas periferias das grandes cidades. O extremo Oeste paulista também se destaca no mapa de votação petista.

O desempenho petista costuma ser o inverso do tucano, que obteve votação pulverizada pelo Estado. As regiões de pior votação de Alckmin em 2010 foram justamente na Grande São Paulo e no entorno de Campinas. Nas demais regiões, Alckmin conseguiu votações expressivas em pequenas e médias cidades, do Vale do Paraíba a Ribeirão Preto.

Políticos dos mais variados matizes avaliam que o favoritismo de Alckmin no interior remete ao perfil e ao estilo interiorano do governador, de lidar com o eleitorado “na base da conversa na rua” e não ter o nome associado a grandes escândalos. Para o secretário da Casa Civil, Edson Aparecido (PSDB), o favoritismo também é fruto de ações de governo direcionadas ao agronegócio – como financiamentos e recuperação de estradas – e a interiorização do ensino técnico. “Temos uma agenda positiva muito forte para o interior”, diz Aparecido.

Uma das apostas para a campanha eleitoral é o investimento em mobilidade urbana. Alckmin colocará na propaganda de TV a duplicação de rodovias estaduais e a expansão do Metrô. O governo deixou para o ano eleitoral uma série de inaugurações de estações das linhas 5 e 4 do Metrô, o primeiro trecho do monotrilho que vai para a Zona Leste e a extensão da Linha 8 – Diamante da CPTM até Itapevi. Em dezembro, Alckmin entregou mais de 2.000 apartamentos populares em catorze cidades do interior e da Região Metropolitana, entre elas Osasco, São Bernardo do Campo, Carapicuíba e Diadema – redutos do PT.

Fiesp – Paulo Skaf, por enquanto, tem apoiado sua pré-candidatura na superexposição que conseguiu na TV e no rádio com propagandas da Federação de Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), entidade que preside. Segundo cálculo do Ministério Público Eleitoral, que representou contra Skaf e cobra dele multa de 34 milhões de reais, o peemedebista protagonizou 97 horas de anúncios na TV e 119 horas no rádio, em 2013. O PSDB também representou contra Skaf – que virou desafeto do prefeito da capital Fernando Haddad (PT), ao barrar na Justiça o aumento do Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU).

“Ele está sob fogo pesado e vem dos dois lados. Vamos comprar capacete e colete à prova de bala para ele. Se a gente conseguir proteger o Skaf, o PT e o PSDB atiram um no outro, morre todo mundo, e no fim sobra só ele”, diz o presidente do PMDB paulista, deputado estadual Baleia Rossi.

A cúpula do PMDB avalia que a campanha está atrasada. Skaf ainda não montou a coordenação, nem agenda partidária. O marqueteiro deve ser Duda Mendonça, que produziu comerciais para a Fiesp e trabalhou na campanha de 2010, à época pelo PSB. Naquela campanha, as duas melhores votações de Skaf foram obtidas em Pederneiras (17%) e Santa Rita do Passa Quatro (14%) com apoiadores locais.

Após o Carnaval, o PMDB planeja uma agenda com Skaf aos sábados, no interior, e aos domingos na capital. As visitas devem ser expressas, com várias cidades num só dia. Durante a semana, ele pretende manter a rotina institucional de inaugurações que tem feito pela Fiesp e o Sesi/Senai. Skaf se afastará da entidade em junho.

Kassab – Das 32 prefeituras do PSD, as de maior destaque são Mogi das Cruzes (Marco Bertaiolli) e Ribeirão Preto (Dárcy Vera) – que também sofre forte influência de tucanos e da família Rossi, do PMDB. Kassab deve apoiar sua candidatura nas bases eleitorais dos deputados que disputam a reeleição à Câmara, como Guilherme Campos (Campinas), Eleuses Paiva (São José do Rio Preto) e Ricardo Izar Jr. (Bauru). Na montagem do partido e nas eleições municipais de 2012, ele entregou as estratégias locais a coordenadores pelo Estado. A campanha também aposta no apoio de setores da Polícia Militar, de igrejas evangélicas Assembleias de Deus, e de Associações Comerciais.

Kassab decidiu lançar uma chapa pura, sem coligações, com objetivo de reeleger a terceira maior bancada de Brasília. “O Kassab reconhece que partido só cresce quando elege deputado federal, que dá acesso ao fundo partidário e projeção na TV”, diz o vereador José Police Neto, que articula o PSD na Região Metropolitana. “Agora ele vai poder defender seus mandatos na TV pela primeira vez, porque em 2012 o candidato era o José Serra. Ele sofreu muito em São Paulo na criação do partido, foi um castigo.”

Na última pesquisa Datafolha, em dezembro, Alckmin aparece na liderança, com 43% das intenções de voto. Skaf aparece com 19%, Kassab com 8%, e Padilha, com 3%. O tucano atinge seu melhor desempenho no interior – 51% – e cai para 36% na capital paulista. Além dele, só Kassab consegue melhorar o índice com os interioranos: chega a 9%, enquanto fica em 7% entre os paulistanos – devido à alta taxa de rejeição herdada do último mandato como prefeito. Skaf e Padilha crescem entre os eleitores da capital: o peemedebista vai a 22%, e o petista a 5%. Mas caem fora dela: Skaf para 17% no interior e Padilha para 3%.