A colunista da Folha de S. Paulo comenta os primeiros meses da atual gestão da Prefeitura de São Paulo.

Coluna publicada no jornal Folha de S. Paulo

Continuo aqui falando para as paredes e o pessoal segue sem dar a mínima. E a cada semana que passa a polarização aumenta.

A presidente Dilma manda seu boneco de ventríloquo, Celso Amorim (tão pequenino que dá para sentá-lo no colo e manipular sua cabecinha, uma graça, não?) garantir que ninguém irá tripudiar sobre a decisão derradeira do STF, de 2010, que decidiu manter a Lei da Anistia intocada. Mas alguém duvida que a presidente não esteja doidinha pra ver a Comissão da Verdade bagunçar tudo?

É justo e necessário, do ponto de vista histórico e emocional, para as famílias das vítimas e para nossa memória, que se reconstituam os fatos. Mas daí a rever o que já foi sacramentado e funciona dentro do limite do possível já são outros 450.

Há mais benefícios ou perdas a serem computados naquilo que propõe a Comissão da Verdade, neste momento em que o país passa por um delicado confronto ideológico, que só pode acabar servindo a uma oposição humilhada por uma derrota atrás da outra que, no afã de eleger José Serra a qualquer custo, entregou-se aos braços do que há de mais atrasado no que diz respeito ao conservadorismo da elite tapuia?

Será que o embate só terá fim quando a cabeça de Lula, Zé Dirceu, Aécio ou Eduardo Campos for apresentada em banquete sobre uma bandeja carregada por uma rebolante Salomé?

E que contribuição para equilibrar e elevar a conversa tem prestado Fernando Haddad, que deveria ser um expoente de seu partido, mas, até agora, se revelou um zero a esquerda (o trocadilho cai de letra)? Pois é, parece que o prefeito de São Paulo se contentou em trocar o papel de gestor por aquele de líder de torcida em dia de Fla-Flu. Sinal de sua colossal falta de sensibilidade foi um dos primeiros gestos simbólicos, o de endossar com entusiasmo a lei que muda o nome de vias públicas que tenham sido batizadas com nomes de militares aqueles que violaram direitos humanos durante o regime militar.

Ora, ora. Se tem uma coisa que paulistano odeia é vereador que dá nome a rua. Trata-se do símbolo máximo do descaso da Câmara com a cidade, de perder tempo com aquilo que não é prioridade.

Iluminação, limpeza, pavimentação, dedetização de mosquito, poda em praça, melhora na coleta de lixo, nem aos menos nas ações mais prosaicas o paulistano viu qualquer melhora nestes primeiros meses de Haddad na prefeitura.

Agora vem esse aumento da tarifa de ônibus inferior ao esperado e o prefeito anuncia como vitória e forma de “ajudar no desenvolvimento do país” por ser medida que serve para conter a inflação.

Alô, Fernando Haddad! O paulistano não é mané. Sua medida é um modo de maquiar índices da inflação e iludir. A Petrobras vende gasolina mais barata do que custa para produzir. Esse nabo sempre sobra para a gente. E sua gracinha com a tarifa significa subsidiar empresas de transporte em R$ 1,25 bilhão em vez dos R$ 660 milhões previstos, comprometendo Orçamento e renegociação da dívida da prefeitura.

Prefeitura, diga-se, cujo secretariado é composto por um saco de gatos que vai desde os apadrinhados daquele que contraiu boa parte desse ônus monumental, ou seja, Maluf, até a turma do PC do B. Como essa gente interage?

É cedo para previsões, mas se tivesse de apostar um picolé de limão sobre um termo para definir a prefeitura de Haddad, eu diria que ele será… “inércia”.