Em debate sobre causas da violência policial, no ciclo Encontros Democráticos, especialista mostra que índice de prisões após abordagens ainda é muito baixo no Brasil
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Encontro teve participação da cientista política Tânia Pinc, do comandante geral da PM de São Paulo, coronel Álvaro Camilo, e do especialista em segurança pública, Túlio Kahn.

 

Instrumento essencial para a ação da polícia, a abordagem de suspeitos precisa ser aprimorada para ganhar mais eficácia, evitar casos de violência policial e garantir realmente a segurança pública. Esse foi o recado da cientista política e major da reserva da Polícia Militar paulista, Tânia Pinc, em sua palestra no Encontro Democrático realizado nesta quinta-feira (10) pelo Espaço Democrático, a fundação do PSD para estudos e formação política. Desta vez, o tema foi “Abordagem Policial: Como deve ser? Por que há tanta polêmica?”

Também participaram do evento o deputado estadual Coronel Camilo, ex-comandante geral da PM de São Paulo, e o especialista em segurança pública Túlio Kahn, consultor do Espaço Democrático.

 

Em sua intervenção, Camilo concordou com a necessidade de aprimorar a ferramenta e enfatizou que os procedimentos de abordagem são tratados hoje com cuidado e que os casos de violência policial que causam polêmicas na imprensa são muito poucos em relação ao total das abordagens realizadas. Além disso, completou, “esse tipo de ação tem também o benefício de transmitir à população a noção de que a polícia está trabalhando, reduzindo a sensação de insegurança”.

Por sua vez, Túlio Kahn citou pesquisas indicando que políticas públicas adequadas podem reduzir as mortes provocadas por erros nas abordagens de suspeitos.

O Encontro Democrático desta quinta-feira – que teve a participação também da coordenadora nacional do PSD Mulher, Alda Marco Antonio, e de líderes e candidatos do partido às eleições deste ano –, integra a série de debates que vêm sendo realizados pelo Espaço Democrático há mais de um ano para discutir questões de interesse da sociedade brasileira.

Os encontros têm o objetivo de produzir conteúdo que sirva de base para as ações e propostas de parlamentares e gestores do partido. Nos últimos meses, em razão das eleições municipais de outubro, os temas têm sido voltados para o interesse de prefeitos e candidatos a prefeito e vereador. O propósito final é produzir conhecimento por meio da divulgação de boas práticas de gestão. A íntegra dos debates é publicada no site da Fundação.

Tânia Pinc: “É preciso investir em uma nova política de abordagem, com melhor preparo profissional dos policiais e incentivo à obediência às leis, mediante sistema de recompensas”.

Tânia Pinc: “É preciso investir em uma nova política de abordagem, com melhor preparo profissional dos policiais e incentivo à obediência às leis”.

Doutora em Ciência Política pela USP e com 25 anos de experiência na Polícia Militar paulista, Tânia Pinc ressaltou em sua palestra que a abordagem policial é legítima e necessária, mas é preciso discutir o quanto se aborda e o quanto se prende e medir a eficácia desse procedimento.

Como exemplo da possibilidade de aumentar a eficiência das abordagens, ela citou estatísticas mostrando que, enquanto o Estado de São Paulo realizou quase 17 milhões de abordagens em 2015 (39,3% da população), enquanto no mesmo período a polícia de Nova York fez pouco menos de 23 mil abordagens (ou 0,3% da população). “Embora tenha feito muito menos abordagens, a força nova-iorquina mostrou uma eficácia muito maior, pois as ações resultaram em 20% de prisões, enquanto em São Paulo esse índice é de 0,9%”, informou.

Segundo Tânia Pinc, isso mostra ineficiência no procedimento, pois o baixo índice de prisões não compensa a sensação de parte da população de que se está interferindo no direito de ir e vir e invadindo-se a privacidade das pessoas. Por isso, afirmou, “o aprimoramento é necessário e é preciso investir em uma nova política de abordagem, com melhor preparo profissional dos policiais e incentivo à obediência às leis, mediante sistema de recompensas”.

Ela destacou também a importância, nesse processo, da sistematização da coleta de dados sobre as abordagens, registrando-se mais informações e detalhes, o que permitiria melhor análise das eventuais deficiências e correção de problemas.