A barreira de atitudes é a que mais inibe o processo de inclusão, na sociedade, das pessoas com deficiência. Esse foi um dos alertas feitos pela deputada federal Mara Gabrilli na palestra que realizou nesta sexta-feira (14) no Encontro Democrático que teve por tema “Acessibilidade: a cidade sem barreiras”. Falando para um público integrado por ativistas e lideranças políticas, a deputada fez uma análise da situação atual das pessoas com deficiências no Brasil e destacou a importância da Lei Brasileira de Inclusão, que entrou em vigor este ano, para tornar as cidades mais humanas e amigáveis para milhões de pessoas (veja exemplo de Florianópolis aqui).
O Encontro Democrático desta sexta-feira – que foi mediado pelo jornalista Sérgio Rondino e teve a participação da coordenadora nacional do PSD Mulher, Alda Marco Antonio, e do vereador Andrea Matarazzo (PSD), além de ativistas como a psicóloga Erséa Maria Alves (leia o relato dela aqui), que integra a direção de duas ONGs voltadas para a defesa de deficientes visuais –, faz parte de uma série de debates que vêm sendo realizados pelo Espaço Democrático há mais de um ano para discutir questões de interesse da sociedade brasileira. Os encontros têm o objetivo de produzir conteúdo que sirva de base para as ações e propostas de parlamentares e gestores do partido. A íntegra dos debates é publicada no site da Fundação.
Veja em vídeo como foi o evento.
Impossibilitada de se mexer do pescoço para baixo desde que sofreu um acidente de automóvel em 1994, a deputada Mara Gabrilli vem se destacando na defesa dos direitos das pessoas com deficiência desde então, tendo se tornando uma das principais lideranças nessa área.
Inspiradora da criação, em 2005, da Secretaria Municipal da Pessoa com Deficiência, na Prefeitura de São Paulo, Mara Gabrilli foi a primeira titular da pasta e, com sua atuação, se tornou uma das maiores lideranças nacionais do movimento pela acessibilidade nas cidades brasileiras.
Em sua palestra, ela contou que, à frente da secretaria, batalhou para elevar os investimentos municipais nos equipamentos de acessibilidade, mas descobriu com surpresa que o grande problema era a atitude das pessoas comuns frente às dificuldades das que têm deficiências. Citou, por exemplo, o caso de motoristas de ônibus, que nem sempre estão dispostos a ajudar cadeirantes. “Muitas vezes, eles alegam que o equipamento de elevação das cadeiras está com problema e sugerem que a pessoa espere a próxima condução”, contou.
Para ela, “todos nós temos em algum momento esse tipo de atitude e precisamos lembrar que, a cada vez que a superamos, estamos contribuindo para avançar no sentido de ter políticas públicas realmente acessíveis”.
A importância disso, em sua opinião, está no fato de que 45 milhões de brasileiros têm algum tipo de deficiência. “Isso significa 24% da população, mas nem sempre conseguimos enxergar a dimensão desse problema porque muitas dessas pessoas sequer saem de casa, diante das dificuldades que enfrentam”, afirmou, lembrando que 78% das deficiências incidem em pessoas idosas, um grupo que vai aumentar bastante, em relação ao total da população, nos próximos anos. “É um contingente muito grande para o qual precisamos melhorar as cidades. Se tivermos uma cidade boa para as pessoas com deficiência, ela será maravilhosa para o resto da população, pois a atenção à acessibilidade é uma forma de fazer políticas públicas de qualidade”, completou.
Nesse sentido, ela destacou a importância da Lei Brasileira de Inclusão (LBI), que entrou em vigor em janeiro deste ano depois de um longo processo de discussão no Congresso Nacional. Para a deputada, a LBI trouxe uma mudança de visão sobre o assunto ao criar diretrizes e punições para gestores públicos, estimulando-os a cumprir as normas de acessibilidade nas diversas áreas de atuação das administrações municipais. “A fiscalização do cumprimento das normas passou para os tribunais de contas e até mesmo a aprovação das contas das prefeituras depende disso”, concluiu.