Debate promovido pelo Espaço Democrático avaliou os resultados dos primeiros meses do governo de Donald Trump. Para os participantes, ele teve mais derrotas que vitórias, mas pode melhorar

 

A professora Fernanda Magnotta ao lado do cientista político Rogério Schmitt e do economista Luiz Alberto Machado.

Além de contabilizar mais derrotas do que vitórias, o presidente norte-americano Donald Trump chega ao final dos seus primeiros 100 dias de governo vivendo uma fase de moderação, na qual tenta atenuar suas promessas de campanha, que eram bastante radicais, e assumir um figurino mais moderado. Esse foi o diagnóstico apresentado pela professora e pesquisadora Fernanda Magnotta no Encontro Democrático promovido nesta quarta-feira (3) pelo Espaço Democrático, a fundação do PSD para estudos e formação política.

O evento teve também a participação do cientista político Rogério Schmitt, consultor do Espaço Democrático, que, em sua palestra, procurou demonstrar que Trump não é exatamente o aventureiro populista descrito nas redes sociais e na análise de muitos especialistas.

Para Schmitt, Trump, na verdade, foi eleito com base na conjunção de dois fatores: a rejeição ao governo Obama e a tradição norte-americana de alternância no poder. “A vitória de Trump foi a vitória consistente do partido republicano e não uma vitória do candidato”, disse, lembrando que as pesquisas continuam mostrando que a aprovação do partido é muito maior que o apoio a Trump.

Transmitido ao vivo pela página do Espaço Democrático no Facebook, o encontro desta quarta-feira integra uma série de debates que vêm sendo realizados há mais de dois anos, sempre com o objetivo de avaliar temas de interesse da sociedade, com impacto direto na atuação daqueles que estão ou pretendem entrar na vida pública. As palestras e debates são publicadas na íntegra no site do Espaço Democrático.

Fernanda Magnotta acredita que existirá, daqui para a frente, um maior equilíbrio entre o “Trump candidato” e o “Trump presidente”.

Em sua palestra, a professora Fernanda Magnotta – que é coordenadora do curso de Relações Internacionais da Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP) e desenvolve pesquisas nessa área –, destacou que os 100 primeiros dias de Trump frustraram as expectativas dos analistas. “Ele não conseguiu levar adiante suas promessas de campanha, que assustaram muita gente, e também não se transformou num republicano moderado, como muitos acreditavam”, disse.

No entanto, ela ressalvou que o processo de moderação de Trump tem um limite. “Ele não pode ir muito longe no sentido de uma normalização, pois isso seria estelionato eleitoral. Seria o fim da conexão entre ele e seus eleitores”, afirmou. De qualquer modo, a professora acredita que existirá, daqui para a frente, um maior equilíbrio entre o “Trump candidato” e o “Trump presidente”.

Fernanda Magnotta citou também um estudo realizado por pesquisadores da Universidade do Estado de São Paulo (Unesp) que avalia o percurso de Trump nesse período inicial de governo, indicando que ele registrou mais derrotas que vitórias (veja a íntegra aqui). “Ele foi barrado pelas instituições moderadoras dos EUA em vários temas nos quais tentou avançar, como no caso da proibição de ingresso de imigrantes de alguns países muçulmanos, na modificação do plano de saúde Obamacare e na construção do muro na fronteira com o México, para evitar a entrada de imigrantes ilegais”, lembrou.

Nesta quinta-feira (4) a Câmara dos Representantes aprovou uma versão alternativa do Obamacare, que vai, na prática, o substituir o programa projetado pelo ex-presidente Barack Obama. O projeto de lei agora segue para o Senado, onde vai exigir esforços do Partido Republicano para aprová-lo.

Rogério Schmitt: índices de confiança do consumidor e de desempenho do mercado de ações indicam que a popularidade de Trump pode melhorar no futuro

Entre as vitórias, disse a professora Magnotta, o presidente norte-americano pode contabilizar o ataque aéreo à base síria de onde partiram os aviões que bombardearam com armas químicas a região de Khan Sheikhoun, matando mais de 80 pessoas. “Os líderes políticos e a opinião pública aprovaram a decisão”, disse, lembrando que Trump ainda pode conseguir bons resultados com propostas como a redução de impostos, desregulação do mercado financeiro e fim de acordos comerciais como o TPP (Parceria Transpacífico, acordo de livre-comércio estabelecido entre 12 países banhados pelo Oceano Pacífico).

Por sua vez, o cientista político Rogério Schmitt mostrou que, embora venha registrando os piores índices de aprovação popular da história norte-americana recente, Trump pode vir a ganhar pontos nesse quesito. “Os índices de confiança do consumidor e de desempenho do mercado de ações vão muito bem, atingindo os níveis mais altos dos últimos anos, indicando que sua popularidade pode melhorar no futuro”, afirmou.