Bom Dia Brasil – TV Globo
Quase a metade dos alunos de escolas estaduais de São Paulo dizem passar de ano mesmo sem aprender o conteúdo. O levantamento feito a pedido do Sindicato dos Professores mostra que a maioria dos estudantes avalia o ensino como regular, ruim ou péssimo.
Um dos motivos apontados é a violência dentro das escolas, que torna quase impossível estudar em paz. Boa parte de professores e alunos disse que já sofreu algum tipo de agressão na escola. Outro problema: os alunos ficam quase uma semana por mês sem aula por causa das faltas de professores.
O conceito de ensino público anda bem baixo entre os alunos da rede estadual de São Paulo. Segundo uma pesquisa encomendada, sete em cada dez alunos dizem que a qualidade das escolas é regular, ruim ou péssima.
Pesquisa também mostrou que os alunos percebem que não estão aprendendo como deveriam: 46% dos estudantes entrevistados admitiram que já passaram de ano sem saber o conteúdo das matérias.
“A escola empurra o aluno, também vai embora rapidinho e não aprende nada. Chega no mercado de trabalho e não tem o que fazer”, afirma Ruan Vieira.
Eles são aprovados porque existe o sistema de progressão continuada. O sistema limita o número de vezes que um aluno pode ser reprovado e foi criticado por 94% dos pais.
“A criança vai passando e ela não sabe ler nem escrever”, diz uma mulher.
O presidente do instituto responsável pela pesquisa diz que a progressão continuada esconde as falhas no aprendizado. “Faz com que a gente só perceba quando ele entra no mercado de trabalho, quando não passa no vestibular de uma universidade pública, que aquilo que os pais juravam que seus filhos estavam aprendendo na verdade era só um diploma sem conteúdo”, afirma Renato Meirelles, presidente do Instituto Data Popular.
A pesquisa também investigou por que os alunos não aprendem. Pais, estudantes e professores destacam um mesmo problema: a violência, que cria um ambiente ruim para o aprendizado, como afirma um professor que prefere não aparecer.
“A gente vive um perigo constante dentro da escola, são drogas, bombas, alunos armados dentro da escola”, conta.
O levantamento mostra ainda que 44% dos professores e 28% dos alunos já sofreram algum tipo de agressão dentro do colégio. “Foi três criança que pegou ela, levou para o banheiro, diz que um jogava para lá, outro jogava para cá. Eu fui falar para o diretor e ele falou que era mentira da minha filha”, lembra a dona de casa Zoraide Matos.
Os alunos ouvidos pela pesquisa contaram ainda que, na média, ficam sem aula seis vezes por mês porque os professores faltam. “Às vezes quando aparece substituto já está há um bom tempo sem professor. Não é de imediato a substituição desse professor que está em falta”, ressalta a dona de casa Elizabete Felipe.
Para a diretora-executiva do Movimento Todos Pela Educação, a pesquisa mostra ainda que o modelo de ensino está ultrapassado. “Um professor precisa ser mediador, saber orientar a busca por conhecimento desses alunos e uma formação que esteja atrelada à sala de aula”, completa Priscila Cruz.
Em nota, a Secretaria Estadual de Educação afirma atuar em parceria com as instituições e com as cinco mil escolas para combater a violência. Sobre a progressão continuada, a informação é que o sistema foi aperfeiçoado no fim do ano para corrigir a defasagem de conteúdo. A secretaria diz ainda que novos professores serão convocados ainda este ano.