A Copa do Mundo acabou e eles tomaram as ruas de São Paulo outra vez. Sem fiscalização da Prefeitura, os camelôs voltaram a ocupar os principais corredores comerciais da cidade e as vias que dão acesso a terminais de ônibus e estações de metrô e da CPTM. Vendem de tudo: carregadores para celulares, fones de ouvido, camisetas, meias, chocolates – produtos sem comprovação de origem.

Durante os pouco mais de 30 dias da Copa, a presença ostensiva de policiais militares em pontos de grande circulação de pessoas inibiu a ação dos ambulantes e fez muita gente lembrar do período em que a Operação Delegada – parceria firmada entre o ex-prefeito Gilberto Kassab, hoje presidente nacional do PSD, e a Polícia Militar – estava em franca atividade, entre 2009 e 2012.

Reportagem publicada na edição da última segunda-feira (14) pelo jornal Agora mostra que em pelo menos cinco regiões da cidade percorridas – Centro, Brás, São Miguel Paulista, Santo Amaro e Lapa – os camelôs voltaram e estão usando uma nova técnica para disfarçar a atividade e facilitar a fuga no caso de uma blitz: juntam-se em pequenos grupos. O fato é que as calçadas voltaram a servir de vitrines para ambulantes que não tem permissão para trabalhar e vendem produtos que podem ser perigosos para as pessoas, já que não tem certificação de origem.

Não era assim quando Kassab estava no comando da Prefeitura. Ele investiu pesado na fiscalização de ambulantes ilegais, que atuavam sem o TPU (Termo de Permissão de Uso), e também no comércio de produtos contrabandeados, falsificados e roubados, o que permitiu devolver muitos espaços públicos para as pessoas. Um exemplo emblemático desta linha de gestão é o do Largo da Concórdia, na Mooca, que por muitos anos foi ocupado por centenas de camelôs. Kassab tirou-os de lá, reurbanizou o largo e devolveu-o para a livre circulação das pessoas.

O mesmo aconteceu no Largo Treze, uma das áreas visitadas pela reportagem do Agora e que está tomada pelos ambulantes outra vez – os outros pontos onde o jornal constatou a presença de camelôs foram a Avenida Paulista, a 25 de Março, a rua Albuquerque Lins e a praça Marechal Deodoro, no Centro; o largo da Concórdia e a avenida Rangel Pestana, no Brás; Praça do Forró, em São Miguel Paulista; a avenida Adolfo Pinheiro, a rua Desembargador Bandeira de Melo e a avenida Padre José Maria, em Santo Amaro; a rua Dr. César, em Santana; a rua 12 de outubro e o túnel da estação Lapa, sob a linha 7-Rubi da CPTM.

Brasília

A livre operação dos camelôs pelas ruas chegou até ao Congresso Nacional, em Brasília. Nesta terça-feira (15), o deputado federal Ricardo Izar (PSD-SP) foi à tribuna da Câmara Federal para cobrar mais fiscalização contra a venda de produtos falsificados na rua 25 de Março, em São Paulo.

Ele apontou que a fiscalização age de forma implacável contra lojistas que estão de acordo com a lei e pagam impostos em dia, enquanto os ambulantes circulam e vendem produtos piratas, contrabandeados e até roubados livremente: “A fiscalização faz parte do trabalho da polícia. Aquele lojista que paga imposto na 25 de Março e que contribui direitinho a polícia enche a paciência e, o cara que vende pirataria bem em frente, fica solto”, criticou.

Izar referia-se à Operação Delegada criada por Kassab, que chegou a mobilizar mais de 4.200 homens no patrulhamento de ruas de comércio de grande movimento. Os policiais militares trabalhavam fardados e armados, em seus dias de folga, e recebiam da Prefeitura. Hoje a Operação Delegada foi esvaziada pela Prefeitura. O último dado disponível, publicado na edição de 16 de junho do jornal Agora, é de que 1.800 policiais estavam mobilizados.

Quem ajudou a colocar em pé o projeto da Operação Delegada nas ruas da cidade foi o coronel Álvaro Camilo, à época comandante da Polícia Militar no Estado e hoje vereador pelo PSD em São Paulo. Ele aponta um benefício colateral da Operação Delegada: “Reorganizou o espaço urbano e foi eficaz também na redução da criminalidade nas 31 subprefeituras onde foi introduzida. Especificamente na rua 25 de Março, por exemplo, os roubos caíram 59%”. Houve áreas onde o resultado foi melhor ainda. Nas Subprefeituras da Mooca, Santo Amaro e Sé, a criminalidade caiu 70%.

Kassab investiu na Operação Delegada, entre 2009 e 2011, R$ 513,9 milhões. O sucesso foi tão grande que 20 outros municípios do Estado de São Paulo adotaram a ideia. Grandes cidades, como Santos e Mogi das Cruzes, por exemplo.