É só o domingo amanhecer ensolarado que a paisagem de São Paulo se transforma. Milhares de pessoas tiram as bicicletas das garagens e vão pedalar em pistas reservadas exclusivamente para elas nas principais ruas e avenidas da cidade, ao lado dos veículos, mas com toda a segurança.
As chamadas Ciclofaixas de Lazer foram criadas em agosto de 2009, pelo então prefeito de São Paulo Gilberto Kassab, hoje presidente nacional do PSD. A primeira foi na zona Sul da cidade, ligando os parques do Povo, Ibirapuera e das Bicicletas. Depois, vieram as das zonas Norte, Oeste e Leste. No final de 2012, quando acabou a gestão Kassab, já eram mais de 120 km de faixas exclusivas para as bicicletas, mantidas ainda hoje.
Para Arley Ayres, diretor da SP Turis, que em 2012 coordenou os trabalhos das várias secretarias envolvidas na ampliação da malha para bicicletas na cidade, a Ciclofaixa de Lazer acrescentou a cultura das duas rodas moradores da cidade. Aquelas pessoas que de segunda a sexta-feira saem de carro, aos domingos tornam-se ciclistas. Isso despertou um maior respeito às bicicletas. “Onde estavam, antes da Ciclofaixa, essas 120 mil pessoas que andam hoje de bicicleta aos domingos? Ou seja, as Ciclofaixas são um ponto de lazer muito importante para toda a população de São Paulo”, comenta Arley.
O sucesso das Ciclofaixas de Lazer foi tão grande que várias cidades brasileiras se inspiraram no modelo criado por Kassab para fazer também as suas. São os casos de Campinas, Ribeirão Preto, Brasília, Rio de Janeiro, Curitiba e Caxias do Sul.
Depois da Ciclofaixa de São Paulo, Ribeirão Preto criou a sua, em 2010. “Nós nos baseamos em São Paulo, inicialmente, que foi a primeira cidade brasileira a implantar a Ciclofaixa de Lazer”, lembra a prefeita Dárcy Vera (PSD).
Campinas veio em seguida e já ampliou o conceito. As Ciclofaixas de Lazer fazem parte de um projeto chamado Plano Cicloviário, que está sendo elaborado para o município, que pretende criar, nos próximos cinco anos, mais de 100 km de vias e dezenas de bicicletários na cidade. O objetivo é atingir quase 140 km de ciclovias e ciclofaixas de uso permanente.
O secretário de Transportes e presidente da Empresa Municipal de Desenvolvimento de Campinas (Emdec), Sérgio Benassi, explica o projeto: “Nós queremos implementar uma mudança de cultura, colocando a bicicleta como uma opção real de transporte para pequenos percursos, para o trabalho ou estudo. É um processo que leva tempo e conscientização da importância de uma convivência harmônica no trânsito entre ciclistas, pedestres, motociclistas e motoristas”.
Histórias
Andando pela Ciclofaixa de São Paulo há histórias de todo tipo. Há aqueles ciclistas de carteirinha, que frequentam as pistas desde que elas foram abertas e gente que está ali pela primeira vez. Uma coisa é certa: quem experimenta gosta e quer mais.
Há cerca de três anos, Alexandre Antonioli e mais sete amigos do condomínio onde mora formaram um grupo chamado Piazza Bikers. Todo domingo eles saem da Mooca, na zona Leste, e vão até o Parque Villa-Lobos, na zona Oeste, passando pela avenida Paulista. “Fazemos 57 quilômetros”, conta ele.
Seu Aroldo Luiz Rosa é outro frequentador assíduo. Usa a Ciclofaixa há um ano e meio. Fazia o trajeto entre os parques Villa-Lobos e do Povo antes da inauguração da pista na avenida Paulista. Ele sempre teve bicicleta, mas não andava em São Paulo por considerar inseguro. “Hoje eu me sinto tranquilo andando na Ciclofaixa”, diz.
Já o aposentado João Luis Battestin vem de muito longe. Logo cedo sai de Santo André e vai para o Centro de São Paulo. De lá, pega a avenida Paulista e segue para o Parque Ibirapuera. Dali, volta para Santo André. São cerca de 5 horas pedalando. Determinação que não falta também ao músico Mário do Couto, para quem a ciclofaixa serviu de ânimo para começar a pedalar. “Desencostei a bicicleta que estava esquecida em casa e agora todo domingo estou aqui. Já perdi dois quilos”, comemora.
Para Anne Elise Rodrigues e o namorado André Ferreira Salvador percorrer circuitos variados é o mais legal. Às vezes, acrescentam até uma volta na Ciclovia da Marginal Pinheiros, além da Ciclofaixa, ou mesmo uma carona de metrô para subir da avenida Brigadeiro Faria Lima até a avenida Paulista. E raros são os domingos que faltam ao passeio.
Ivan Gomes de Almeida aproveita a vinda de Americana para São Paulo nos domingos em que sua esposa dá aulas na avenida Paulista. Enquanto ela trabalha, ele passeia com seu filho na garupa da bike.
São muitas histórias. Ângela Maria Golfeto é quase novata. Há cerca de dois meses tem ido pedalar com o marido e a filha. Ela sofre de fibromialgia e a atividade tem ajudado a aliviar as dores. “Estou melhor e meu humor está ótimo”, comenta.
E tem até gente que está acostumado a andar centenas de quilômetros nas estradas e frequenta a Ciclofaixa. É o caso de Edson Rocha. Ele faz parte de um grupo de bikers chamado Pedalando com Fé. “Nossa próxima viagem é para Aparecida do Norte”.
Veja o que os usuários da Ciclofaixa de Lazer de São Paulo falam sobre ela.