A eleição presidencial de novembro nos Estados Unidos deve ter impacto reduzido no Brasil, porque as relações entre os dois países estão em um de seus pontos mais baixos. Diante disso, para o Brasil, mais importante do que apostar neste ou naquele candidato é investir mais no relacionamento bilateral, buscando formas de tornar-se um parceiro mais relevante para os norte-americanos.
Essa foi, em síntese, a conclusão do debate sobre “A Eleição nos EUA e seu impacto no Brasil” promovido nesta quinta-feira (23/6) pelo Espaço Democrático, a fundação do PSD para estudos e formação política. Participaram do evento os professores Fernanda Magnotta (FAAP) e Carlos Pio (UNB), além do cientista político Rogério Schmitt, colaborador do Espaço Democrático.
Este foi o 24º Encontro Democrático, uma série de eventos que vêm sendo promovidos há mais de um ano para debater questões de interesse da sociedade brasileira e produzir conteúdo que sirva de base para as ações e propostas de parlamentares e gestores do partido. Nos últimos meses, em razão das eleições municipais de outubro, os temas têm sido voltados para o interesse de prefeitos e candidatos a prefeito. O propósito final é produzir conhecimento por meio da divulgação de boas práticas de gestão. A íntegra dos debates é publicada no site da fundação.
O encontro desta quinta-feira foi aberto por Rogério Schmitt, que deu uma rápida explicação sobre o processo eleitoral norte-americano, destacando que a verdadeira eleição, lá, ocorre no Colégio Eleitoral, onde votam os delegados de cada um dos 50 Estados do país, eleitos pelo voto popular. “Para ser presidente, o candidato precisa conquistar um mínimo de 270 delegados, em um total de 538”, contou, lembrando que há ocasiões em que o eleito recebe menos votos que o candidato derrotado, como aconteceu na primeira eleição de George W. Bush. Dadas estas características do sistema eleitoral dos EUA, o cientista político considerou que ainda é muito cedo para qualquer prognóstico sobre o resultado das eleições deste ano, embora se atribua algum favoritismo a Hillary Clinton.
Veja no vídeo como foi o Encontro:
Para a professora e pesquisadora de Relações Internacionais Fernanda Magnotta, embora tenham visões bastante diferentes sobre o papel dos EUA no mundo e, por consequência, sobre as relações de seu país com o Brasil, o impacto da eleição de Donald Trump ou Hillary Clinton na relação bilateral seria semelhante. Segundo ela, isso deve ocorrer por dois motivos: o sistema de freios e contrapesos existente no arcabouço legal norte-americano, que dificulta a concretização de propostas muito radicais, e o papel pouco relevante que o Brasil tem hoje na política externa dos EUA.
De acordo com ela, a cooperação entre Brasil e EUA se enfraqueceu nos últimos anos e o País passou a ter papel acessório na política externa norte-americana, com cooperação muito residual em defesa, educação e comércio, onde alguns setores ainda se interessam em manter os laços. “O aspecto estratégico se perdeu e o Brasil hoje, como notam os analistas, está totalmente ausente dos debates em Washington”, explicou a professora.
Ela acredita que nem mesmo as propostas mais radicais defendidas pelo pré-candidato Donald Trump terão efeito sobre o Brasil, pois “a retórica de campanha não deve, necessariamente, ser tomada como referência para as ações que ele eventualmente adotará se for eleito”, quando terá que se submeter aos limites impostos pela lei norte-americana.
Na mesma linha, o professor e consultor Carlos Pio afirmou que o Brasil tem, de fato, uma importância relativa para os EUA, assim como toda a América Latina. Assim, disse, o futuro das relações entre os dois países depende mais do que o Brasil fará para recuperar seu papel estratégico do que da eleição de Trump ou Hillary. “O impacto depende daquilo que nós vamos fazer”, concluiu.