O Dia da Consciência Negra, celebrado nesta quinta-feira (20) em várias cidades brasileiras, além de relembrar a data da morte de Zumbi dos Palmares, ícone da luta contra o preconceito racial no Brasil, é momento oportuno para a reflexão sobre a inserção dos negros na sociedade brasileira e, em particular, na política.
“É uma data não somente para refletir a história de luta dos ancestrais escravos pela liberdade, mas sobretudo para dar continuidade a essa luta pelos nossos direitos, espaços em uma sociedade racista, espaço na política, no mercado de trabalho, na mídia, nas grandes empresas e indústrias com cargos de liderança”, avalia Joel Penha, presidente e fundador do PSD Afro no Mato Grosso do Sul. “Zumbi dos Palmares nos deixou um legado de luta e determinação pelos direitos de um povo que ajudou a construir esse país, cuja maior riqueza e herança é a alegria e poder de superação”,
Penha, que também é presidente da ONG Projetarts Brasil – que desenvolve projetos para a população negra nas áreas da educação e cultura – e é membro do Conselho Estadual dos Direitos do Negro (Cedine) no Estado, é autor de livros sobre a desigualdade social. Na presidência do PSD Afro do Mato Grosso do Sul, colabora com a inserção do negro na sociedade.
“O nosso foco e meta está em incentivar o jovem afrodescendente a estudar, fazer uma faculdade e ser uma referência em sua profissão, por isso realizamos todos os anos o projeto Negro Nota 10, pelo qual premiamos os melhores alunos da Rede Estadual do Ensino Médio”, destaca. “A outra missão é preparar e eleger o maior número de parlamentares negros e negras em nosso Estado. Atualmente temos dois vereadores negros do PSD aqui na capital, Campo Grande, Chiquinho Teles e Ademar Vieira Jr”.
Outra tarefa importante para os movimentos é reforçar o orgulho de ser negro. Nos dez últimos anos, a população autodeclarada afrodescendente no Brasil cresceu 2,1 pontos percentuais, passando de 5,9% do total de brasileiros, em 2004, para 8%, em 2013, segundo dados da Pnad (Pesquisa Nacional de Amostras de Domicílios) 2013.
“Essa estatística revela que precisamos trabalhar a autoestima do povo negro e conscientizá-lo a eleger parlamentares que defenderão a causa e os direitos do nosso povo”, enfatiza.
A coronel da reserva da Polícia Militar Vitória Brasília acha que o avanço rumo à igualdade tem sido vagaroso. Ela também reforça a necessidade de maior representação política da população negra. “O Dia da Consciência Negra é importante para valorizar todo o histórico de lutas e unir os grupos que batalham por melhorias”, diz. “Mas infelizmente os avanços rumo à igualdade têm sido lentos. Por isso, é fundamental que tenhamos maior representação política da população negra. Precisamos eleger vereadores e deputados para podermos diminuir a desigualdade”, pontua.
Para Arthur de Souza Neto, presidente do Movimento Afro Cultural Nacional, a participação dos negros nos processos políticos e nos movimentos sociais tem importância fundamental para diminuir essa disparidade atual. “Os movimentos afro, partidários e apartidários, têm levantando diversas bandeiras nessa luta por uma participação igualitária do negro na sociedade brasileira. Entre elas, podemos destacar o Estatuto da Igualdade Racial”.
O Estatuto, que entrou em vigor em 2010, é um conjunto de regras e princípios jurídicos que visam coibir a discriminação racial e estabelecer políticas para diminuir a desigualdade social existente entre os diferentes grupos raciais. De acordo com Neto, ainda há muito a avançar, mas ele celebra o fato de haver cada vez mais a agregação entre os grupos. “Nós, dos movimentos afro, temos organizado cada vez mais eventos, reuniões e marchas para reforçar, discutir e organizar projetos e tarefas que são essenciais nesse caminho pela igualdade”, conclui.
O Dia da Consciência Negra foi criado para coincidir com a data da morte de Zumbi dos Palmares, em 1695, quando liderava o Quilombo do Palmares, principal refúgio dos negros que resistiam contra a escravidão à época.