Sistema Cantareira esvazia em ritmo mais rápido no final de junho, aumentando insegurança hídrica da população de São Paulo

A utilização da água do sistema Cantareira reservada abaixo do nível anterior de captação –o famigerado volume morto– não foi capaz de afastar o espectro de um racionamento traumático para 8,8 milhões de habitantes da região metropolitana de São Paulo.

O governo de Geraldo Alckmin (PSDB) afirma que o abastecimento dos consumidores servidos pelo Cantareira está garantido até março do ano que vem. De fato não houve, por enquanto, racionamento generalizado, embora existam diversos relatos sobre interrupções no fornecimento de água.

Se isso já bastaria para deixar a população insatisfeita e apreensiva, há ainda outro aspecto a ser considerado: os números recentes sugerem que o pior cenário pode materializar-se já em outubro.

Como mostrou esta Folha na quarta-feira, o esvaziamento dos reservatórios ficou mais rápido no último mês. Nos primeiros dez dias de junho, o nível baixava à média diária de 0,11 ponto percentual (pp). Nos dez dias que fecharam o mês, a queda passou a 0,18 pp.

Hoje a reservação se encontra na marca de pouco mais de 20%, aí incluído o volume morto. No ritmo anterior, chegaria a 0% em janeiro. Na toada do fim de junho, isso ocorreria até três meses antes.

Houve um aumento recente de 64% na retirada de água. Parte disso se explica pela baixa precipitação nos mananciais do sistema Cantareira, de 15,8 mm –a média histórica é de 56 mm em junho.

Questionada pela reportagem sobre a hipótese de a aceleração resultar também de um aumento concomitante no consumo, a Sabesp esquivou-se de responder. Apenas afiançou o abastecimento até março, o que implica contar com chuvas a partir de outubro.

Segundo a empresa, até 23 de junho, 80% dos moradores abastecidos pelo Cantareira fizeram economia de água. Surtiram efeito, portanto, a campanha de esclarecimento da população e o bônus de 30% oferecido na conta dos que cortassem 20% do consumo.

Ocorre que, desde então, a companhia diminuiu a propaganda na TV em favor da moderação. A Sabesp diz mantê-la no rádio, em jornais e revistas. Parece claro que se trata de decisão política, com vistas a diminuir o prejuízo eleitoral numa época em que tantos espectadores voltam suas atenções para transmissões de jogos da Copa.

O governador Geraldo Alckmin tampouco voltou a falar dos encargos pecuniários que prometera impor às contas de quem aumentasse o consumo. A medida é antipática e, se implementada, talvez cobrasse seu preço nas urnas.

Pouco importa. Aos paulistas interessa ver crescer sua segurança hídrica –o que não será possível se o governo continuar a planejar com um olho no cronograma eleitoral e o outro nas nem sempre confiáveis previsões meteorológicas.

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