A primeira operação dessa modalidade de empréstimo, idealizada pelo ex-ministro Guilherme Afif, foi realizada nesta quinzena. As ESC serão tema de Encontro Democrático dia 28 de junho

 

As empresas simples de crédito (ESC), criadas por lei sancionada no final de abril pelo presidente Jair Bolsonaro, já começaram a operar no Brasil. De acordo com reportagem publicada pelo jornal Valor Econômico (veja aqui), a primeira operação da modalidade feita no Brasil aconteceu nesta segunda quinzena de maio, quando a microempresária Karolina Duarte – que precisava de dinheiro para expandir seu negócio, mas não tinha acesso a crédito bancário – obteve um empréstimo de R$ 10 mil na recém-inaugurada Simple Credit, uma empresa simples de crédito (ESC).

Essa nova modalidade de negócios, que, segundo estimativas do governo e do próprio mercado, pode alcançar rapidamente R$ 20 bilhões em operações por ano, tem no ex-ministro da Micro e Pequena Empresa Guilherme Afif Domingos o seu patrono. Hoje assessor especial do ministro Paulo Guedes, da Economia, Guilherme Afif defende a ideia há anos.

Ele voltará a tratar do assunto no próximo dia 28 de junho, uma sexta-feira, quando participará de Encontro Democrático para debater temas como Empresa Simples de Crédito, Simples, MEI e Refis, iniciativas das quais participou desde a elaboração até sua implementação no dia a dia dos pequenos empreendedores brasileiros.

Presidente do Espaço Democrático – fundação do PSD para estudos e formação política – Afif foi o idealizador também dos Encontros Democráticos, série de debates que há mais de cinco anos vem apresentando palestras de especialistas de diversas áreas, sempre com o objetivo de produzir conteúdo para orientar a atuação dos integrantes do partido nas suas diversas instâncias de atuação.

Operação inicial

A primeira operação das ESCs no Brasil, como mostra a reportagem do Valor Econômico, foi realizada pela Simple Credit, criada pela dona de uma empresa de cobranças, Elaine Ferri, que viu na ESC a oportunidade que vinha buscando para investir suas economias. “Tenho um dinheiro guardado na poupança e algumas aplicações na XP, mas não rende nada. Queria algo em que o risco não fosse tão alto e que o dinheiro fosse a própria matéria-prima”, diz a empresária. Ela e um sócio deram entrada na papelada para fundar a Simple Credit, em São Paulo, no dia seguinte à publicação da lei.

Karolina Duarte, a primeira tomadora de um empréstimo feito por ESC é uma conhecida de Elaine, que era cliente da Cybersilk, a confecção de Karolina. O empréstimo, com prazo de 12 meses, foi fechado com taxa de 3,5% ao mês – metade do que a microempreendedora teria de pagar se tomasse dinheiro em seu banco. “Tenho um excelente relacionamento com meu banco. Tenho investimentos, meu nome é limpo, tenho limite de crédito imobiliário, cartão de crédito e mesmo assim não conseguia o empréstimo. Quando consegui, a taxa era de 7% ao mês”, afirma.

A empresa simples de crédito tem como objetivo aproximar investidores pessoa física de pequenos empresários que precisam de crédito. A ESC não é uma instituição financeira e não será regulada pelo Banco Central (BC), mas poderá conceder empréstimos e financiamentos com ou sem garantia. O modelo tem semelhanças com as factorings – embora essas só atuem com a compra de direitos creditórios – e, por isso, deve atrair o interesse de várias delas. No entanto, há uma série de exigências que tornam a atuação sob esse novo formato mais restritiva que a das companhias de fomento mercantil.

Ouvido pelo Valor, o especialista em direito tributário do Massicano Advogados, Vitor Luiz Costa, diz que o modelo é um misto de banco e factoring e está sujeito ao Coaf, o que também deve reduzir o interesse de agiotas. “Há quem diga que a ESC é a legalização da agiotagem. Mas ela não é viável para agiotas, que cobram 300% por ano”, afirma.

De acordo com o advogado José Luís Dias da Silva, consultor jurídico da Associação Nacional de Fomento Comercial (Anfac), as ESCs não estão sujeitas à limitação de juros imposta pela lei da usura, mas ele acredita que o próprio mercado vai se ajustar. Para ele, as exigências previstas na lei são fortes o suficiente para afastar agiotas e aventureiros no novo modelo. “Muitos acreditavam no romantismo do crédito olho no olho, mas houve o cuidado de não se transformar a empresa simples de crédito numa aventura”, diz.