Tema de muita polêmica nas últimas semanas – a Justiça de São Paulo determinou a paralisação das obras de ciclovias na cidade, por falta de projeto – as bicicletas no sistema viário dos grandes centros urbanos foram tema do segundo Encontro Democrático, o novo ciclo de painéis que vem sendo desenvolvido pelo Espaço Democrático para discussão de temas sobre a atualidade brasileira.
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Para os participantes do debate, mais do que uma possibilidade, o incentivo ao uso da bicicleta como um dos meios de transporte à disposição da população das grandes cidades é uma necessidade. Essa modalidade de transporte é essencial para a mobilidade nos conglomerados urbanos e precisa ser tratada com muito cuidado, evitando-se equívocos que comprometem sua aceitação pela população e a própria implantação dessa alternativa. É o caso, por exemplo, das faixas pintadas pela Prefeitura paulistana nas grandes avenidas, que atrapalham o fluxo de veículos motorizados e colocam em risco a vida dos ciclistas, entre outros problemas apontados pela população.
Para José Police Neto (vereador do PSD paulistano), Marcelo Branco (ex-secretário de Transportes da Prefeitura de São Paulo) e Rubens Figueiredo (cientista político e coordenador de conteúdo do Espaço Democrático), a grande questão, nessa área, é encontrar formas de racionalizar e tornar mais seguro o uso das bikes nos grandes centros.
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Conduzido pelo jornalista Sérgio Rondino, o debate teve início com Marcelo Branco, ex-secretário Municipal de Transportes, de Infraestrutura e Obras, e ex-presidente da Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU). Para ele, essa questão é tão importante que deveria ser criado um programa federal que oferecesse aos municípios condições para implantar projetos de adequação e estímulo aos ciclistas e pedestres, “com planejamento, educação, segurança e integração com o transporte público”.
De acordo com ele, os congestionamentos no trânsito de São Paulo custam ao País R$ 30 bilhões por ano e as bikes constituem uma solução que precisa ser disciplinada. “Sem isso, a cidade se tornará cada vez mais caótica e o papel do poder público é conduzir a sociedade a utilizar os meios de transporte de forma equilibrada”, disse.
Contudo, ele lembra que há um longo caminho a ser trilhado para que as bicicletas se tornem de fato uma alternativa de transporte. “Ao contrário do que ocorre nas cidades menores, ou com configuração geográfica favorável como as litorâneas, em conglomerados como São Paulo as exigências são muito maiores”, explicou.
Planejamento cuidadoso das vias para ciclistas, infraestrutura de apoio, regras claras e campanhas educativas são alguns dos pontos que, em sua opinião, precisam ser considerados com muita atenção num processo de integração das bicicletas ao sistema viário.
Ele citou como exemplo os projetos implantados em São Paulo durante a gestão Gilberto Kassab, entre 2006 e 2012. Nesse período, a cidade recebeu grandes estímulos da Prefeitura de São Paulo para o uso da bicicleta. Além das ciclofaixas de lazer, foram criados 60 km de ciclovias e outros 60 de rotas de bicicletas, totalizando uma malha cicloviária de mais de 200 km.
Ao lado desses investimentos, o Plano de Proteção ao Ciclista, lançado em maio de 2012, apresentou resultados expressivos e mudou o cenário na cidade. Segundo reportagem publicada pelo jornal Metro, o índice de ciclistas mortos em São Paulo caiu 32% em 2013 em virtude da maior fiscalização e orientação aos motoristas.
Para Marcelo Branco, os resultados mostram que é perfeitamente possível induzir o uso das bikes como um modal de transporte. “Desde que haja planejamento e objetivos bem definidos – e não apenas faixas pintadas em grandes avenidas – o uso das bicicletas para levar o cidadão de sua casa até o ponto de ônibus ou estação do Metrô é uma excelente alternativa”, afirmou.
Para o vereador José Police Neto, um entusiasta do uso das bicicletas como meio de transporte urbano, a inserção das bikes no sistema viário é cada vez mais urgente em função do esgotamento dos outros meios de transporte público. “Não podemos jogar fora essa alternativa, usando-a mal ou implantando vias exclusivas de forma equivocada”, diz ele.
O caminho, na opinião de Police Neto, é ampliar a experiência realizada na gestão Kassab na Prefeitura paulistana, quando se ofereceu estrutura adequada (bicicletários nos terminais de ônibus e Metrô, por exemplo) para que as pessoas usassem as bicicletas em seus percursos iniciais. “Distâncias de 10, 12 ou no máximo 15 km são o teto, não há sentido em expor o ciclista a riscos em vias de alta velocidade, mesmo com segregação de pistas, o que eleva os custos e reduz a vantagem desse modal”, afirma.
Para ele, “é preciso estabelecer uma relação de parceria entre carros e bikes”. Segundo disse, os equívocos cometidos pela administração municipal no último ano – criando por exemplo ciclofaixas sem um destino programado – acabaram por afastar os ciclistas (“hoje anda-se menos de bicicletas do que antes”) e criaram um clima de ódio contra as bikes na cidade.
Em sua opinião, os 96 distritos da cidade de São Paulo devem ser encarados como 96 polos, nos quais se ofereceria infraestrutura para que os usuários utilizassem as bicicletas em percursos curtos, até pontos de ônibus, terminais ou Metrô, onde poderiam deixar seus veículos e seguir até seu destino final usando o transporte público.
O cientista político Rubens Figueiredo lembrou que parte do conflito que se observa hoje em São Paulo entre ciclistas e motoristas deriva do fato de as bikes serem usadas como principal meio de transporte por apenas 1% da população. “Portanto, para os milhares de motoristas que sofrem no trânsito paulistano diariamente, não tem sentido criar estruturas de apoio a um grupo reduzido de usuários, em detrimento da esmagadora maioria que utiliza outros meios de transporte. Com isso, gerou-se uma profunda antipatia contra os ciclistas, por parte de motoristas e passageiros de ônibus que ficam parados nos congestionamentos, enquanto vêem um ou outro bicicleteiro passando pelas ciclofaixas”, comentou Figueiredo.
Para Marcelo Branco, contudo, as estatísticas retratam o passado e não podem definir o futuro. “O modal bicicleta não deve ser descartado porque atende apenas uma minoria. Na verdade, defendo um trabalho rigoroso para criar uma nova lógica de transportes, com o incentivo ao uso de bikes para atender a demanda por transporte nos percursos iniciais, dentro dos bairros, em condições mais seguras e sem sobrecarregar as vias de mais trânsito”, explica.
Em sua opinião, é preciso investir também no desenvolvimento de boas condições para quem anda a pé. “Esse é o principal meio de transporte para um terço da população e, na verdade, todo mundo anda a pé em determinados trechos. A complementariedade desses modais é absolutamente compatível e salutar”, afirma.
Os participantes do Encontro Democrático também discutiram a necessidade de se criar regras e punições para irregularidades cometidas por ciclistas. Para o vereador Police Neto, a população sempre foi educada para dar preferência total ao automóvel. “Criamos a forma errada, não tenho dúvida de que há condições de transmitir e cobrar regras dos ciclistas, mas isso exige também respeito por parte dos motoristas”, afirmou.
Marcelo Branco também acredita no sucesso de um processo educativo. “No trânsito, a falta de regras e punições é uma das grandes causas de abusos e acidentes. O programa de proteção aos pedestres criado na gestão Kassab salvou 400 vidas e teve grande repercussão por agir exatamente nesse sentido”, explicou. “Regramento é necessário, mas ainda não foi feito nem em relação aos carros. Na verdade, faltam regras claras para todos os envolvidos no trânsito”.
Novo ciclo
O Encontro Democrático que discutiu a inclusão das bicicletas no sistema viário foi o segundo de um novo ciclo de painéis promovido pelo Espaço Democrático. Desde o final de 2011, quando foi formalizada, a fundação do PSD para estudos e formação política vem realizando seminários e debates sobre as grandes questões nacionais e internacionais, buscando respostas para os problemas que afligem a população.
Entre o final de 2011 e o segundo semestre de 2012, foram realizados seminários em 7 capitais de Estado, reunindo lideranças locais, filiados e simpatizantes para apresentação das propostas do partido e discussão de medidas de estímulo ao desenvolvimento regional.
Consulta feita via SMS aos participantes do Seminário “PSD – Um Partido Ligado no Brasil”, realizado em Teresina, no dia 18 de maio de 2012, mostrou que o evento teve a aprovação de quase todos os participantes. Entre os que responderam à enquete, 32,6% consideraram o encontro motivador. Outros 25% o classificaram como informativo. Para 42,3%, o seminário atendeu às expectativas. Nenhum deles classificou o evento como insatisfatório.
O resultado registrado em Teresina é semelhante ao obtido nos seminários realizados em Curitiba, Belo Horizonte, Salvador, Vitória, Goiânia e Rio de Janeiro. Nesta última, o evento ocorreu em maio e quase 80% dos participantes o consideraram motivador (49,2%) ou informativo (29,2%). A enquete via celular foi realizada com os 382 participantes cadastrados durante o evento.
Ainda em 2012, teve início o ciclo de debates “Desatando os nós que atrasam o Brasil”, no qual foram realizados 19 encontros entre especialistas, empresários, acadêmicos, políticos e dirigentes de entidades de classe com o objetivo de reunir sugestões para solucionar os grandes problemas que travam o desenvolvimento econômico e social do País.
Desde então foram debatidos temas como privatização, infraestrutura, saúde, educação, segurança pública, empreendedorismo, economia criativa e qualidade de vida, entre outros. Todos esses eventos foram transmitidos em tempo real pela internet, permitindo que interessados de todo o País pudessem acompanhar as discussões e enviar perguntas e sugestões.
Em março de 2014 foi realizado também seminário internacional, em parceria com a FAES, fundação do Partido Popular espanhol, para debater a situação política dos países ibero-americanos. O evento reuniu em São Paulo ex-presidentes de países latino-americanos, parlamentares da Europa e da América do Sul e ainda acadêmicos das duas regiões.