Estado mais rico do país, deveria dar o exemplo na segurança pública. A administração Alckmin, todavia, tarda em adotar iniciativas satisfatórias, avalia editorial do jornal paulistano.

Editorial

Enquanto a segurança pública aparecia como tema principal do debate entre os candidatos ao governo de São Paulo, na segunda-feira, a secretaria responsável pela área divulgava dados desconcertantes sobre a ocorrência de roubos no Estado e na capital.

Paulistas e paulistanos ficaram sabendo que, em julho, a incidência desse crime patrimonial cometido com violência cresceu pela 14ª vez consecutiva. Trata-se da maior sequência de aumentos dessa modalidade delituosa desde o início da série estatística, em 2001.

Até julho deste ano, houve 186.588 roubos no Estado. De 2004 a 2008, esse número era registrado apenas em novembro.

Não surpreende, portanto, que, no encontro promovido por Folha, UOL, SBT e Jovem Pan, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) tenha sido alvo preferencial de perguntas e críticas sobre suas políticas para o setor. Mesmo sem informações atualizadas, os adversários do tucano já dispunham de farta munição para questioná-lo.

Como de costume, Alckmin usou a seu favor a redução histórica da taxa de homicídios em São Paulo, que tem se mantido na faixa de 10 a 11 casos por 100 mil habitantes –a média nacional é de 29, segundo o “Mapa da Violência”.

Embora louvável, tal conquista –consolidada na década passada e para a qual contribuíram diversos fatores, como os demográficos– em nada melhora os resultados pífios da atual gestão no enfrentamento dos roubos.

Basta dizer que, nesse campo, o governo teve o desplante de comemorar ligeira redução no ritmo de crescimento, como se os paulistas fossem se contentar com uma criminalidade que aumenta devagar.

Na comparação com julho de 2013, os roubos subiram 12,6% no Estado e 20,3% na capital; em junho, os avanços haviam sido de 14,7% e 21%, respectivamente; nos 12 meses anteriores, a elevação média fora de 22,3% e 29,3%.

Mantido o padrão de desaceleração, seriam necessários seis meses para cessar a escalada no Estado, e mais de dois anos na capital.

O governo diz que as notificações pela internet, iniciadas em dezembro passado, contribuíram para ampliar os registros; argumenta ainda que o fenômeno é nacional.

Tais explicações não convencem. As estatísticas mostram que a tendência começou antes de dezembro, e São Paulo, o Estado mais rico do país, deveria dar o exemplo na segurança pública. A administração Alckmin, todavia, tarda em adotar iniciativas satisfatórias.

É saudável que essa área seja objeto de discussão na campanha eleitoral. Pena que o tema se repita a cada pleito, servindo antes para alimentar a retórica beligerante das candidaturas do que para estimular estratégias eficazes.