O Brasil ganharia muito se os brasileiros dedicassem à política uma pequena parte da energia aplicada ao futebol, escreveu outro dia um articulista. Embora as batalhas se travem em arenas bem diversas, a afirmação ficou quicando na minha cabeça. O futebol de fato mexe – e muito – com os brasileiros.
Gols, dribles, vitórias e derrotas se distribuem imprevisíveis e generosamente pelo ano inteiro. São campeonatos estaduais, nacionais e internacionais que alegram e torturam os torcedores. Ano após ano, unidos, incentivando e criticando seus times, brasileiros driblam frustrações, extravasam sentimentos. E mesmo após lamentos e lágrimas engolidas entre um jogo e outro, lá estão eles novamente juntos, esperançosos, torcendo por seus times.
Sofre-se muito e muito se aprende nessa fantástica arena, principalmente que o futebol é assim mesmo, repleto de altos e baixos, perdas e ganhos. E, como na vida, exige treinamento, superação, muita luta, responsabilidade e obediência a regras dentro e fora das quatro linhas do campo.
Nessa batalha cruenta, uma coisa simples os torcedores percebem e os jogadores aprendem desde o começo: união e trabalho em equipe são fundamentais. E obediência – mais que obediência, lealdade – a uma estratégia de marcação, posicionamento e ação em campo é vital. Como uma orquestra, não pode desafinar.
A grande diferença entre os dois grandes embates que mexem com a vida dos brasileiros é que na política toda a torcida entra em campo pra valer, escala o time de verdade, chuta pênaltis e, travestida de juiz, pode dar cartão vermelho se os eleitos não fazem gols, não dão o sangue em campo.
É muito poder! Por isso, mais do que cobrar – e até para estimular o político – o eleitor não deveria deixar o jogo correr solto e só aparecer na partida final. Ou, pior que isso: se omitir, faltar, sequer ver os lances da partida e ficar apenas vaiando de fora.
Cabe a esse torcedor especial – ainda distante – tocar a bola para frente com determinação, sem desanimar, pois é nessa arena, dos parlamentos e dos governos, que se decide boa parte da sua vida. Também é verdade que os políticos têm de sair mais dos gabinetes e ir para a linha de frente para ouvir, ouvir bastante, ver com clareza e entender melhor o jogo da vida.
Agir assim significa sair da mesmice e lutar com transparência o bom combate. Significa conviver com as diferenças, entendê-las para tentar superá-las e buscar avanços sociais e políticos que diminuam as desigualdades. Simples assim.
O exercício da política não é um bate-bola simples, um treinamento de dois toques. Joga-se mais uma vez, nestas eleições, um importante e complexo passo no aperfeiçoamento das instituições e no fortalecimento da democracia participativa.
Quem sabe o que é sair de seu campo e jogar em campos da periferia; quem tem e quem teve o prazer de plantar postos de saúde; escolas com qualidade; investir em transporte público de verdade, em casas para os que mais precisam. Quem suja os pés de barro (não apenas em época de eleição) e enche o coração de aflições, sabe do que estamos falando.
Há que se participar dessa luta dura, procurando consensos que geram esperanças, pontes que não dão passagem para ódios e violências. Há que se lutar para derrotar, de verdade, a burocracia onde viceja a corrupção.
Enfim, há uma luta grande pela frente para seguirmos avançando, estimulando os empreendedores, os que querem investir num Estado e num país que trazem na sua história a força, o espírito da igualdade e a vibração do futebol.
Esta participação cidadã na política – assim como o exercício de torcer num campo de futebol – para mim tem a mesma alegria de um gol. Um gol de placa, que se marca à frente de um cargo administrativo, ou num embate transparente no Senado. Com firmeza, determinação e lealdade.
Artigo publicado no UOL nesta sexta-feira, 11 de julho.