Separada dos pais, portadores da doença, quando era recém-nascida, a assistente social Maria Teresa Oliveira atua contra preconceitos e ajuda pessoas em situação semelhante

Maria Teresa: “Ainda há um longo percurso a percorrer na batalha pelo empoderamento feminino.”

 

Uma vida marcada pela superação e a luta por igualdade de direitos. Assim poderia ser definida a trajetória da assistente social Maria Teresa da Silva Santos Oliveira, liderança do PSD Mulher em Barueri, município da Região Metropolitana de São Paulo. Desde que nasceu, há 61 anos, no antigo Hospital Santo Ângelo, em Mogi das Cruzes — um dos cinco hospitais-colônia do Estado onde pacientes com hanseníase viviam em isolamento —, ela conhece a necessidade de vencer barreiras.

Os pais eram portadores da doença e, logo após o parto, Maria Teresa foi separada da mãe e encaminhada a um educandário. Uma lei federal de 1949 estabelecia a separação compulsória nesses casos.

Causada pelo bacilo Mycobacterium Leprae, a hanseníase é infecciosa e atinge, principalmente, a pele e os nervos, sobretudo os da face e extremidades. Além dos transtornos provocados pela doença, os pacientes eram estigmatizados pela sociedade.

Aos quatro meses de idade, a assistente social foi adotada por um casal de classe média alta da zona Norte de São Paulo, Antonio e Yolanda Oliveira, por intermédio do programa Clube do Papai Noel, exibido pela extinta TV Tupi. Apesar do conforto e a tranquilidade proporcionados pelos pais adotivos, cresceu questionando sua origem. “Sempre fui muito investigativa e sentia que tinha algo de diferente. Tenho cabelo crespo e todos eles tinham cabelos lisos”, relembra Maria Teresa.

A família afetiva, como ela define, era de origem portuguesa e estava sempre envolvida com instituições ligadas aos direitos humanos, causas sociais e chás beneficentes. “Eles sempre participavam de tudo o que estivesse ligado à comunidade. Cresci acostumada a discutir essas questões”, explica a assistente social, que também se formou em Pedagogia e Administração de Empresas.

Descobertas – Somente em 2002, quando o casal responsável pela criação de Maria Teresa já havia morrido, o irmão adotivo mostrou a ela uma reportagem de jornal com o relato de uma ex-interna do hospital-colônia, Raimunda Vieira, e contou todos os detalhes do sofrimento dos pais biológicos da assistente social. A partir de então, ela começou a resgatar sua história particular.

Antes de ser adotada, foi batizada como Maura Regina, nome que constava nos registros do hospital em que nasceu. Baseada em pistas fornecidas pela ex-interna, Maria Teresa descobriu que tinha mais duas irmãs: Elza Amélia e Marisa Luchetti, que, assim como a assistente social, foram levadas para a Associação Santa Terezinha, em Carapicuíba, logo após o nascimento. Na época, Maria Teresa teve acesso aos prontuários e às cartas em que a mãe biológica demonstrava a tristeza pela ausência das filhas.

Oito anos depois, em 2010, como ativa militante do Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase (Morhan), participou de um cadastramento nacional dos filhos separados das mães portadoras da doença. Curiosamente, a iniciativa fez com que conhecesse a irmã Marisa, uma das primeiras participantes a preencherem o formulário. Cerca de um mês depois, com a repercussão do caso pela mídia, um site de notícias encontrou a outra irmã, Elza. Posteriormente, Maria Teresa descobriu que possuía outros três irmãos: Mário, estabelecido nos Estados Unidos, Luiz Paulo, que mora em Araraquara, e Mauro, já falecido.

Em 2014, ela criou o projeto Hansenpontocom, que combate o preconceito em relação à doença e promove a inclusão social de pacientes e ex-pacientes. Movimentos ligados à causa estimam que até 40 mil brasileiros podem ter passado pela traumática separação dos pais em função da hanseníase. “Queremos políticas públicas efetivas e lutamos para que o Estado pague uma indenização aos filhos separados. Não recebemos verba pública nem privada”, destaca a assistente social, que mantém um bazar de artigos usados para financiar as atividades do projeto.

PSD – A principal referência de Maria Teresa no PSD é a coordenadora nacional do PSD Mulher, Alda Marco Antonio. “Ela é uma mestra, uma pessoa que me influenciou muito desde a juventude. Eu quero ser a Alda.” A deputada estadual Rita Passos também é citada pela assistente social como apoiadora dos seus projetos.

Candidata a deputada estadual, em 2014, e vereadora, em 2016, Maria Teresa ressalta que o envolvimento com a política só ajudou a fortalecer a sua luta, mas acredita que ainda há um longo percurso a percorrer na batalha pelo empoderamento feminino. “Estamos fazendo aqui em Barueri reuniões com pequenos grupos, reunindo as mulheres. Estou sempre aberta a discutir e espero que isso seja um caminho.”