A seca em São Paulo deve continuar em 2015, desta vez associada também ao desenvolvimento do fenômeno El Niño, segundo o secretário-geral adjunto da Organização Mundial de Meteorologia (OMM), Jeremiah Lengoasa. A informação foi publicada nesta terça-feira (28) pelo jornal O Estado de S. Paulo.
O aquecimento das águas equatoriais do Oceano Pacífico, na altura do Peru e do Equador, provocará a formação de nuvens que tendem a ser arrastadas pelos ventos na direção oeste. Mas não para a América do Sul, explicou o cientista sul-africano, que participou na segunda-feira (27) da abertura da 40ª Sessão do Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática (IPCC, em inglês), em Copenhague.
“É a natureza tentando se modelar para atingir seu normal”, declarou, em entrevista ao Estado. “Se entendermos melhor os padrões de oscilação do fenômeno El Niño, poderemos prever de forma mais precisa e tornar disponível essa informação para os governos e as populações a serem atingidas. Mas a mudança do clima está tornando essa tarefa muito difícil.”
Lengoasa explicou que o fenômeno El Niño foi mais agressivo entre 1997-98, quando provocou o aumento médio de 0,5 grau Celsius na temperatura média mundial e levou a uma mudança severa na distribuição das chuvas. Em 2010, voltou a apresentar-se de maneira intensa, mas não tão forte como antes. “Já há 70% de chances de o El Niño surgir muito cedo, ainda no final deste ano. Se tiver o mesmo efeito de 97-98, isso será caracterizado por uma imensa seca no mundo”, disse. “Mas ainda há possibilidade de ele não se desenvolver de maneira tão forte.”
A OMM apresentará, nas próximas semanas, um relatório preliminar sobre o comportamento meteorológico de 2014. O ano é considerado o mais quente desde 2004, segundo análise dos dez primeiros meses, mesmo com os efeitos em curso do fenômeno de resfriamento conhecido como La Niña. Durante conferência neste mês, a organização estudará particularmente os dois fenômenos, El Niño e La Niña, com especial atenção para o efeito do primeiro no aquecimento das camadas mais profundas do Oceano Pacífico, abaixo de 2 mil metros. Esses dados serão acrescentados aos modelos atuais de previsão do clima. Em especial, para a melhor detecção de eventos extremos.
Para países que enfrentam eventos climáticos extremos, como o Brasil, Lengoasa faz algumas recomendações. Primeiro, fortalecer os serviços hidrometeorológicos, que oferecem as informações sobre o clima. Segundo, de acordo com ele, os países devem intensificar o diálogo entre diferentes ministérios sobre a mudança climática. O apoio aos esforços mundiais, como o da 21.ª Conferência das Partes sobre Mudança Climática (COP21), é sua terceira sugestão. A expectativa é de um acordo sobre compromissos de redução de emissões de gases de efeito estufa na COP21, em maio, em Paris.