Documento da Cetesb mostra que a qualidade do ar está piorando na região em função do aumento da frota de automóveis e de medidas como a suspensão da inspeção veicular, pela Prefeitura paulistana, em 2013.
São Paulo- SP- Brasil- 12/02/2015- Trânsito na avenida 23 de maio nesta quinta-feira (12/02). Na foto, trânsito no sentido aeroporto de Congonhas bastante carregado no final da tarde de hoje. Foto: Paulo Pinto/ Fotos Públicas

Para colocar a poluição do ar nos eixos, as viagens de carro na Grande São Paulo precisariam cair 26%. Foto: Paulo Pinto/ Fotos Públicas

Neste 5 de junho, Dia Mundial do Meio Ambiente, os 20 milhões de moradores da Grande São Paulo têm mais uma oportunidade para refletir sobre a questão da poluição ambiental. Segundo reportagem publicada no final de maio pelo jornal Folha de S. Paulo, estimativas do Instituto Saúde e Cidadania indicam que 62,5 mil pessoas vão morrer na cidade de São Paulo em 15 anos por causa da poluição, que vem aumentando nos últimos anos em função do aumento da frota de automóveis e de medidas como a suspensão da inspeção veicular, pela Prefeitura paulistana, em 2013.

O Programa de Inspeção Veicular Ambiental foi uma importante ferramenta de redução da emissão de poluentes. De acordo com estudos da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, levando-se em conta apenas os veículos a diesel que fizeram a inspeção em 2011 na cidade, foram evitadas 1.515 internações hospitalares e 584 mortes por problemas respiratórios. Além dos benefícios diretos à saúde das pessoas, esses resultados também resultaram numa economia estimada em mais de US$ 79 milhões ao sistema público de saúde, valor 20 vezes maior do que o custo das inspeções.

Se a inspeção fosse adotada em toda a Região Metropolitana, como determina o Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), esses benefícios poderiam ser triplicados. O estudo aponta ainda que o ganho com a Inspeção, apenas no exercício 2011, equivale a retirada dos poluentes emitidos por uma frota de mais de 1,4 milhão de veículos, sendo 1,285 milhão de automóveis, 87 mil motocicletas e 36,3 mil veículos movidos a diesel. O programa verificava todos os veículos da cidade e foi implantado gradativamente.

Veja aqui mais informações sobre o programa de inspeção veicular

Poluição de volta

De acordo com a Folha, diagnóstico feito pelo governo paulista por meio do Plano de Controle de Poluição Veicular 2014-2016, aprovado há seis meses pelo Conselho Estadual de Meio Ambiente, mostra que a frota de automóveis, principal vilã da má qualidade do ar em São Paulo, não para de crescer –só a capital ganhou 400 mil em três anos.

Ao mesmo tempo, a poluição por ozônio, provocada especialmente por carros, está em patamar alto na Grande SP: em 2014, esse poluente ultrapassou os limites seguros para a saúde em 43 dias, contra 12 dias em 2008.

Para colocar a poluição do ar nos eixos, as viagens de carro na Grande São Paulo precisariam cair 26%. O documento que aponta a necessidade de reduzir 3,3 milhões viagens diárias – de um total de 12,6 milhões – não menciona soluções radicais para atingir a meta.

O trabalho recomenda medidas como inspeção veicular metropolitana e estímulo ao transporte coletivo e bicicletas. Além disso, a reportagem da Folha diz que há especialistas que defendem pedágio urbano e ampliação do rodízio. Cita, por exemplo, o engenheiro, sociólogo e pesquisador da ANTP (associação de transportes públicos), Eduardo Vasconcellos, para quem “a redução de 26% é fisicamente possível, no sentido de as pessoas poderem encontrar formas alternativas de deslocamento. É preciso ver se as reduções são politicamente viáveis e quais seriam os meios para atingir isso”.

Inspeção travada

Segundo a Folha de S. Paulo, o plano de combate à poluição feito por técnicos da Cetesb, a agência ambiental paulista, também propõe a realização da inspeção veicular obrigatória periódica –pelo menos nas cidades da Grande São Paulo. “A inspeção ambiental é uma importante ferramenta para o controle das emissões de veículos em uso”, segundo o texto do plano.

Consultor ambiental e ex-presidente da Cetesb, Alfred Szwarc diz que, “com a fiscalização muito solta, como está, as emissões só vão aumentar”.