O ar que o paulistano respira está pior a cada dia. Na última quinta-feira (7), por exemplo, São Paulo entrou em estado de alerta depois que o CGE (Centro de Gerenciamento de Emergências), revelou que a umidade relativa do ar chegou a 19,3% na Lapa e a 19,9% na estação de Santana e Tucuruvi.
O quadro de poluição do ar é agravado especialmente pelo fato de a Prefeitura de São Paulo ter deixado de fazer, desde fevereiro deste ano, a inspeção veicular obrigatória.
Implementada durante a gestão do ex-prefeito Gilberto Kassab na Prefeitura de São Paulo, o programa de inspeção veicular foi uma das mais importantes ferramentas de redução da emissão de poluentes já implementadas na cidade.
Um estudo da Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo), que considerou apenas os veículos movidos a diesel que fizeram a inspeção em 2011, revela que com a redução de poluentes emitidos por esses veículos foram evitadas 1.515 internações hospitalares e 584 mortes por problemas respiratórios. A relação custo-benefício é enorme, já que isso equivale a uma economia estimada de mais de US$ 79 milhões para o sistema público de saúde, valor que é 20 vezes maior do que o custo das inspeções.
De acordo com estimativas do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), caso a inspeção fosse adotada em todos os 39 municípios da Região Metropolitana de São Paulo esses números poderiam ser triplicados. O mesmo estudo aponta que o ganho com a inspeção, apenas em 2011, foi equivalente à retirada dos poluentes emitidos por uma frota de mais de 1,4 milhão de veículos, sendo 1,2 milhão de automóveis, 87 mil motocicletas e 36,3 mil veículos movidos a diesel.
Funcionamento – O Programa de Inspeção Veicular implementado por Kassab verificava todos os veículos da cidade e foi implantado gradativamente, a partir de 2008, inicialmente avaliando as condições da frota de veículos movidos a diesel, motocicletas e carros movidos a álcool, gás ou gasolina registrados no Detran entre 2003 e 2008. Em 2010, todos os carros, motos, ônibus e caminhões com placa da cidade de São Paulo foram obrigados a passar pela inspeção Ambiental veicular.
Até novembro de 2012 foram feitas mais de 13 milhões de inspeções em mais de 10,4 milhões de veículos. Com o programa, até o final 2012 não houve nenhum dia em que os níveis de emissão de monóxido de carbono ultrapassaram os padrões do CONAMA, segundo relatórios de qualidade do ar divulgados pela CETESB.
Lei de Mudanças Climáticas – O cenário de poluição atmosférica de São Paulo fica ainda pior pelo fato de a atual gestão da Prefeitura de São Paulo não ter adotado a maior parte das medidas de combate à poluição previstas na Lei de Mudanças Climáticas. A lei, proposta em 2009 pela gestão Gilberto Kassab, foi aprovada pela Câmara.
Reportagem do jornal Metro mostrou, em maio, que a atual gestão municipal nem mesmo iniciou a substituição dos ônibus movidos a óleo diesel por sistemas de combustão limpa – a lei prevê que os coletivos devem ser trocados até 2018 por modelos que utilizam combustíveis renováveis, mas o programa Ecofrota foi suspenso.
Entre 2011 e 2012, dois últimos anos da gestão Kassab, quase 10% da frota de 15 mil coletivos do sistema de transporte municipal à época passaram a utilizar combustíveis renováveis. O Programa Ecofrota previa a utilização progressiva de combustíveis limpos na frota de ônibus de São Paulo e conseguiu, antes de ser suspenso, reduzir em 14% as emissões dos poluentes dos ônibus no primeiro ano de sua implantação, entre fevereiro de 2011 e janeiro de 2012.
Entre 2009 e 2012, Kassab renovou quase a metade dos 200 trólebus – movidos a energia elétrica – que circulam em São Paulo. E até o fim da sua gestão à frente da Prefeitura 1.200 ônibus que usavam uma mistura de 20% de biodiesel de grãos ao diesel já circulavam. A utilização do combustível conhecido como B20 nesses veículos reduziu em até 22% a emissão de material particulado, 13% de monóxido de carbono e 10% de hidrocarbonetos.