O sentimento de que a cidade está abandonada à própria sorte pode explicar o pânico provocado em São Paulo, na semana passada, com a disseminação de mensagens pelo WhatsApp – um aplicativo de celular – impondo toques de recolher e ondas de violência nas zonas Leste e Norte de São Paulo. A opinião é do Coronel Camilo, ex-comandante da Polícia Militar no Estado de São Paulo, vereador na capital e deputado estadual eleito pelo PSD.
Segundo ele, o atual clima de insegurança facilita a proliferação de boatos de toque de recolher. “Há o sentimento de que a cidade está largada, um clima de impunidade, além de a segurança pública ter desempenho abaixo do necessário. O governo municipal deixa a desejar na zeladoria da cidade e nas ações relativas ao aumento de ocupações irregulares, além de falta de fiscalização e combate ao comércio ilegal. Há uma inversão de valores da área municipal, que não cobra a postura correta das pessoas.
Suspeita-se que a ordem para o toque de recolher da ZN tenha relação com a morte de um integrante de uma facção criminosa. Nas mensagens de voz que circularam entre usuários do aplicativo, criminosos alertavam comerciantes e moradores que iriam atear fogo em pessoas, comércios abertos e carros e que estivessem em determinadas ruas da cidade à noite.
Para o ex-diretor do Departamento Nacional de Segurança Pública e ex-chefe da Coordenadoria de Análise e Planejamento da Secretaria da Segurança Túlio Kahn, os toques de recolher são tentativas de mostrar poder e atemorização da população. “Eles ocorrem em situações especiais, como a morte de criminosos e são como uma “retaliação” ou vingança pelo ocorrido. Uma diminuição no grau de letalidade nas ações policiais, focando o objetivo na prisão do criminoso, e não no confronto, pode diminuir essas situações”, analisa.
No caso da ZN, no período da tarde, houve relatos de que bandidos passaram em algumas ruas dessa região exigindo que os comerciantes fechassem as portas mais cedo, mas a Polícia Militar informou que não registrou ocorrências mais graves.
Na zona Leste, os boatos causaram a interrupção dos serviços de ônibus de uma empresa, suspensos às 22h por ordem do Sindicato de Cobradores e Motoristas, que temia ataques incendiários. Segundo a PM, houve apenas uma tentativa de depredação na avenida Jacu-Pêssego.
O Governo do Estado divide como o Municipal a responsabilidade pelo atual clima de insegurança, diz Camilo. “Tem faltado uma ação firme do Estado para coibir esse tipo de situação. O Estado tem que ter pronta a resposta, assim que começar o boato ou for verificada uma ocorrência desse tipo. Através da própria policia, tem que fazer uma saturação momentânea rápida colocando policiais no local do foco, se possível identificar o autor das mensagens e comunicar a população sobre os avanços, como prisões de criminosos. Isso desestimula novas ações. Se deixar esse tipo de ação se tornar corriqueira, ela pode ganhar dimensões maiores e fugir ao controle do Estado”, conclui.
Operação Delegada
A gestão de Gilberto Kassab na Prefeitura de São Paulo fez investimentos em segurança, com foco em gestão e fiscalização. Essa política de segurança reforçava a presença do poder público, empenhada em combater o avanço de atividades criminosas.
A Operação Delegada foi a principal ferramenta utilizada para a redução de crimes como roubos, furtos e o comércio de mercadorias irregulares.
No convênio entre a Prefeitura de São Paulo e a Polícia Militar do Estado de São Paulo, a Operação Delegada colocou mais de 4 mil policiais para atuar nos principais pontos comerciais da cidade.
Na região da Rua 25 de Março, a mais movimentada de São Paulo, a operação reduziu os índices de roubo em 59%. Em áreas comerciais da Mooca, Santo Amaro e da Sé, por exemplo, houve queda de 70% na criminalidade.