A ex-secretária de Assistência Social, Alda Marco Antonio, diz que volta das tendas para receber moradores de rua é boa notícia, mas alerta: “Não se deve cometer os mesmos erros que levaram à extinção do projeto”.
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Tendas eram pontos de apoio aos moradores de rua: ofereciam atividades diurnas, espaço para banho e lazer, além de trabalhos sociais.

 

O anúncio de que a Prefeitura de São Paulo voltará a utilizar tendas para acolher moradores em situação de rua, feito nesta quinta-feira (16) pelo prefeito Fernando Haddad, agradou à ex-secretária de Assistência Social do município (gestão Kassab), Alda Marco Antônio. Segundo a atual coordenadora nacional do PSD Mulher, a medida é um reconhecimento de que a atual administração da cidade “errou feio” na gestão do sistema de tendas criado no período 2005-2012. “É bom que eles retomem o projeto, mas não devem cometer os mesmos erros que levaram à extinção da proposta”.

Ela explicou que no final de sua gestão, o então prefeito Gilberto Kassab deixou para 2013 um orçamento de R$ 920 milhões para a Secretaria de Assistência Social, suficiente para manter os projetos em andamento. “Contudo, a nova administração optou para cortar R$ 200 milhões desse montante, um volume significativo, que fez falta à nova titular da Secretaria”, conta, lembrando que, a partir disso, foi necessário restringir a atuação das tendas.

 

Veja aqui depoimento de Alda Marco Antonio sobre as tendas criadas na gestão Kassab
 

Uma das medidas adotadas foi o encerramento dos contratos com as entidades especializadas que geriam o projeto. “Para justificar o corte, usou-se o discurso da auto-gestão, mas o que se viu foi a destruição da infraestrutura das tendas. Banheiros e outros equipamentos que haviam sido instalados no final da gestão Kassab foram depredados ou roubados por viciados que queriam dinheiro para comprar drogas”, lembra Alda.

Assim, diz ela, deixando a administração das tendas por conta de pessoas que têm dificuldade para gerir a própria vida, se decretou a morte do projeto. “Antes de acabar, os espaços onde as tendas estavam localizadas foram tomados por barracos, contrariando a própria filosofia das tendas, que era oferecer assistência durante o dia e estimular a busca pelos albergues durante a noite”.

Para a ex-secretária, a volta das tendas, agora anunciada pela Prefeitura paulistana, pode ser positiva para os moradores de rua e para a cidade, mas é preciso cuidado. “Não se pode imaginar que um projeto com essas características possa ser gerenciado por pessoas sem capacitação. É preciso ter à frente pessoas especializadas no assunto”, afirma.

 

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Na gestão Kassab, havia mais de 10 tendas em funcionamento.

 

Críticas

A retomada do projeto das tendas, agora anunciada pelo prefeito Fernando Haddad, ocorre num momento em que a Prefeitura de São Paulo está sendo bastante criticada por sua política de atendimento a moradores em situação de rua, após a morte de cinco pessoas na mais recente frente fria.

Segundo o portal de notícias G1, o anúncio da instalação das tendas aconteceu dois dias depois de o próprio prefeito negar que a medida seria utilizada. “Oferecer o transporte acho mais adequado que qualquer outro mecanismo”, disse ele na terça (14) durante evento na Zona Leste da cidade.

Agora, segundo o secretário municipal da Saúde, Alexandre Padilha, as tendas a serem criadas terão capacidade para receber mil pessoas e permitirão a presença de animais. “É uma tentativa de fazer um espaço mais aberto, que as pessoas se sintam mais à vontade para vir”, completou Luciana Temer, secretária de Assistência Social.

A princípio, serão quatro tendas com capacidade para 250 ocupantes cada. As instalações serão realizadas na região da Sé, do Anhangabaú, da Mooca e do Glicério, e devem estar disponíveis antes do fim da semana que vem. Segundo a Prefeitura, elas terão equipes de saúde e controle de zoonoses e serão utilizadas até o fim do inverno.

Na gestão Kassab, haviam mais de 10 tendas em funcionamento, a exemplo das existentes no Parque D. Pedro, Avenida 9 de julho, Barra Funda, Complexo Prates, duas na Avenida Alcântara Machado, Santa Cecília, Mauá (em frente à Sala São Paulo), Praça da República e Anhangabaú.

Saiba mais sobre a política de assistência social da gestão Kassab