Depois de praticamente quatro anos sem ações na capital paulista, o programa Córrego Limpo deve voltar a despoluir cursos d’água da cidade. Iniciado pelo ex-prefeito Gilberto Kassab em 2007, em parceria com a Sabesp, o projeto despoluiu mais de 150 córregos, que abastecem grandes rios como o Tietê e o Pinheiros, antes de ser interrompido pela administração municipal que comandou a cidade entre 2013 e 2016. Agora, Estado e município anunciam a retomada do projeto.
Entre março de 2007 e o final de 2012, o projeto despoluiu totalmente ou os trechos principais de 153 córregos da cidade, ao longo de três fases. No total, foram despoluídos 193,17 km de córregos, beneficiando mais de 2 milhões de pessoas.
Entre os córregos despoluídos estão o Rincão, na Penha, que beneficiou cerca de 19 mil moradores; o Tenente Rocha, que passa pelos bairros de Santana, Tucuruvi e Casa Verde, cujo tratamento melhorou a vida de 40 mil pessoas; e o Invernada, em Santo Amaro, cujas obras beneficiaram 3 mil habitantes.
Entre as ações sob responsabilidade da Prefeitura estava o atendimento habitacional, incluindo as remoções e reassentamento de famílias que viviam em áreas que não podiam ser urbanizadas. Dezenas de córregos despoluídos também receberam grandes intervenções habitacionais, com urbanizações e construção de unidades habitacionais, e a implantação de parques lineares.
Esses parques, construídos nas margens dos córregos, aumentam a área permeável, capaz de absorver águas dos períodos mais chuvosos, evitam ocupações irregulares que, muitas vezes tornavam-se áreas de risco aos moradores, e são áreas de lazer implantadas em áreas carentes desse tipo de alternativa. A última gestão da Prefeitura reduziu drasticamente a criação de novos parques, entre eles os lineares.
Uma medida adotada pela última administração alterou uma compensação ambiental imposta a construção de um condomínio de prédios, que cortou árvores nativas, que previa a implantação de quatro parques lineares, Morumbi Sul, Horto Ipê, Itapaiúna e Paraisópolis, na Zona Sul. No lugar dos parques, a Prefeitura determinou a implantação de jardins verticais na empena cega de prédios privados localizados ao longo do elevado Costa e Silva, no centro.
Em 2016, a coordenadora do programa Rede das Águas da Fundação SOS Mata Atlântica, Malu Ribeiro, criticou a interrupção do programa e apontou graves prejuízos com a medida. Ela também ressaltou o abandono de ações por parte da então gestão municipal, marcada pelo crescimento de invasões a áreas de risco e o fim de mutirões, com a participação da população, que ajudava a preservar os córregos que estavam sendo recuperados.
Segundo ela, o crescimento da mancha de poluição do Tietê, que saltou de 71 km para 154,7 km, entre setembro de 2014 e agosto de 2015, estava relacionado ao fim do programa Córrego Limpo. “O Córrego Limpo terá de começar do zero. Esse programa é fundamental para que tenhamos rios urbanos saudáveis e principalmente para o avanço da despoluição dos rios Tietê e Pinheiros”, explicou. “É impossível despoluir o rio Tietê, com mais de cem córregos e outros rios caindo nele, sem que um trabalho como esse seja feito.”