A bicicleta é uma alternativa de transporte viável para grandes cidades? Na opinião de José Police Neto, vereador do PSD em São Paulo, sim. Há três anos, entusiasmado com o sucesso das Ciclofaixas de Lazer que o ex-prefeito Gilberto Kassab criou na cidade, ele adotou a bike na sua rotina. Praticamente todos os dias se desloca da sua casa, no bairro de Moema, na zona Sul de São Paulo, até o Palácio Anchieta, onde está sediada a Câmara Municipal de São Paulo. Um percurso de oito quilômetros.
Hoje, 20 quilos mais magro, ele tornou-se não só um apoiador de projetos que incentivam o uso da bicicleta na maior cidade da América do Sul, mas principalmente um especialista na discussão sobre como a bicicleta pode melhorar a mobilidade urbana. Nesta entrevista ele conta um pouco das suas ideias.
Dá para criar um sistema cicloviário eficiente em cidades como São Paulo?
Sim, é possível. Grandes metrópoles como Nova York, onde o tráfego é intenso, e Bogotá, capital da Colômbia, que é uma cidade menos rica que São Paulo, conseguiram. Isso prova que nós também podemos. É só ter vontade política, criatividade e ousadia.
O que foi feito em Nova York e Bogotá?
Segundo o jornal The New York Times, de 2008 a 2012 Nova York fez 400 km de vias para bike. O espaço público de Manhattan, que antes pertencia quase que exclusivamente ao carro, foi compartilhado para acomodar, de forma igualitária, os ciclistas, os pedestres e os ônibus. Áreas exclusivas para veículos na Times Square, por exemplo, deram lugar a praças para ciclistas e pedestres. E tudo isso em apenas quatro anos! E Bogotá tem uma excelente integração entre a bicicleta e o transporte público. Para se ter uma ideia, as bicicletas têm chips que facilitam seu armazenamento nos bicicletários. O segurança do estacionamento de bikes consegue ver, no computador, de quem é aquela bicicleta e onde ela está guardada.
Tais medidas poderiam ser implantadas em São Paulo?
Com certeza. Em todas as vias em que a velocidade média do ciclista não é inferior a duas vezes a do automóvel, o uso da bike é absolutamente possível. Vou dar um exemplo: Em vias em que os automóveis trafegam a uma velocidade média entre 30 e 50 quilômetros por hora, o viário pode ser compartilhado com a bike, já que ela trafega entre 15 e 25 km/h. O paulistano pode usar a bike como alternativa para percorrer curtas distâncias. Em vez de usar o carro, porque não pedalar? É mais saudável e não polui. Exemplo: muitas pessoas deixam o carro no estacionamento e pegam o metrô para irem ao trabalho. Isso pode ser feito de bike. É só deixá-la no bicicletário. E além de tudo é mais barato!
Dá para implantar um sistema cicloviário na cidade sem gastar muito dinheiro?
Não só dá como é necessário que seja assim. Se você for esperar a Prefeitura ter recursos para gastar com viário para bicicleta, isso não acontecerá nunca. É preciso mapear a cidade e mesclar alternativas de viário para bike conforme a velocidade dos automóveis nas ruas e avenidas. Há vias em que é possível compartilhar o viário entre carros e bikes, outras não. O que eu quero dizer com isso é que não é necessário fazer ciclovias exclusivas em toda a cidade. Um quilômetro de ciclovia exclusiva custa R$ 1 milhão. Já um quilômetro de ciclofaixa definitiva segregada com cones ou não custa R$ 50 mil. E em 1 km de via compartilhada o gasto é de apenas R$ 10 mil.
O uso do carro nas grandes cidades está com os dias contados?
Muitos especialistas em mobilidade acham que sim. São Paulo está entupida de carros, a cidade não anda mais, e isso só vai piorar. É preciso investir maciçamente em transporte público e em soluções alternativas de mobilidade, como a bike. Erra quem continua fazendo a opção política do incentivo ao automóvel.