Marcelo Cardinale Branco e Rubens Linhares: ‘Um passo à frente, por favor!’


Em artigo, ex-secretário municipal de Transportes e jornalista discutem como seria o modelo de transporte público ideal para a capital paulista.

02/10/2013

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Marcelo Cardinale Branco, ex- secretário de Transportes da Prefeitura de São Paulo

Rubens Linharesjornalista

Os jovens dos Estados Unidos estão mudando o foco quanto à mobilidade urbana: dobrou o número dos que não possuem carteira de habilitação nos últimos 30 anos. Entre os de 18 anos, 40% não têm habilitação para dirigir. Uma das interpretações para essa mudança cultural é que o carro deixou de ser o símbolo de status e sinônimo de liberdade, sendo substituído por novas tecnologias de comunicação.

No Brasil, a cultura do carro segue forte. No Estado de São Paulo, a frota registrada de veículos cresceu 15% entre 2010 e 2012, passando de 21,5 milhões para 24,3 milhões. Nesse período, houve crescimento de quase 25% no número de carteiras de motoristas expedidas no Estado: de 613.556, em 2010, para 763.040, em 2012.

A despeito desses números, a sociedade tem dado sinais de que a mobilidade urbana deve ser vista pelos governantes de forma diversa à das últimas décadas, em que se apostou no automóvel. A discussão atual trata da ideia de sobretaxar a gasolina e utilizar os recursos daí provenientes para a ampliação do sistema de transporte público. A medida seria uma restrição ao transporte individual, pelo aumento do custo no uso do automóvel, com consequente migração de usuários de carros para o transporte público, já lotado. Será que essa conta fecha?

Hoje, 55% das viagens motorizadas são feitas por meio de transporte público na cidade de São Paulo ante 45% em veículos individuais. No transporte público, os ônibus respondem por 65% do volume de viagens, ou 36% do total dos deslocamentos motorizados.

Se os congestionamentos fossem eliminados na cidade, a consequência imediata seria a duplicação da velocidade comercial do sistema de ônibus. Naqueles corredores em que os ônibus andam com velocidade média de 12 km/h seriam criadas condições para circularem a 25 km/h ou até 30 km/h. O mesmo sistema, com o mesmo número de veículos (em torno de 15 mil ônibus), seria capaz de transportar o dobro de sua capacidade, de 36% para 72% de todos os percursos motorizados. Esse processo já foi iniciado na capital paulista, com a ampliação das faixas exclusivas de ônibus à direita da via a partir de 2012. Somando-se a oferta de transportes por trilhos, teríamos um sistema suficiente.

O que a voz das ruas clama a seus governantes pode ser sintetizado naquele bordão usado por cobradores de ônibus muitos anos atrás: “Um passo à frente, por favor!”

Artigo publicado no jornal O Globo em 2 de outubro de 2013.

 

 

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1 comentário

  1. Radical, em relação aos costumes dos velhos problemas… Mas também, viável…




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