05/12/2017
Reportagem do Estado de S. Paulo apresenta estudo realizado na Universidade de São Paulo que mostra que viver por 30 anos respirando os ares da cidade de São Paulo deixa os pulmões de uma pessoa como os de um fumante leve, que consome cerca de dez cigarros por dia. Respirar o ar do trânsito paulistano por duas horas equivale a fumar um cigarro, de acordo com os dados preliminares da apuração, liderada pelo médico patologista Paulo Saldiva. Os achados alarmantes são ainda mais preocupantes diante com o retrocesso administrativo municipal para o setor, que durante a última gestão acabou com a inspeção veicular ambiental e interrompeu o programa Ecofrota, de utilização progressiva de ônibus menos poluentes na frota pública da cidade.
O estudo analisa corpos levados ao Serviço de Verificação de Óbitos (SVO), para medir o carbono no pulmão e investigar a vida dessas pessoas. “O que esse estudo está mostrando é o quanto respirar o ar de São Paulo é equivalente a fumar e tem impacto cumulativo”, explicou ao Estado a bióloga Mariana Veras, do Laboratório de Poluição do Ar da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP). A história de cada pessoa, o tempo que ela passava no trânsito, se fumava ou estava exposta a fumantes, ajuda a demonstrar o impacto da poluição. “Estamos buscando a correlação entre a quantidade de preto no pulmão, o padrão de vida e o tempo em transporte”, diz Mariana.
Cerca de 2 mil pulmões foram avaliados e 350, que tiveram maior detalhamento da história de vida, foram selecionados para compor o estudo, que deve ter mais dados divulgados ao longo das próximas semanas. De acordo com dados da ONU Meio Ambiente e da Organização Mundial de Saúde, cerca de 7 milhões de pessoas morrem por ano em decorrência de poluição do ar, e mais de 80% das cidades têm níveis de poluição acima dos recomendáveis. Em São Paulo, os níveis de partículas finas inaláveis (material particulado ou MP 2,5) está 90% acima dos níveis seguros, que são de 10 microgramas/m³. A concentração média anual da cidade é de 19 microgramas/m³.
Inspeção veicular salvou vidas e economizou verbas na Saúde
Um estudo, também da Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo), liderado por Saldiva, que considerou apenas os veículos movidos a diesel que fizeram a inspeção em 2011, revela que com a redução de poluentes emitidos por esses veículos foram evitadas 1.515 internações hospitalares e 584 mortes por problemas respiratórios. A relação custo-benefício é enorme, já que isso equivale a uma economia estimada de mais de US$ 79 milhões para o sistema público de saúde, valor que é 20 vezes maior do que o custo das inspeções.
De acordo com estimativas do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), caso a inspeção fosse adotada em todos os 39 municípios da Região Metropolitana de São Paulo esses números poderiam ser triplicados. O mesmo estudo aponta que o ganho com a inspeção, apenas em 2011, foi equivalente à retirada dos poluentes emitidos por uma frota de mais de 1,4 milhão de veículos, sendo 1,2 milhão de automóveis, 87 mil motocicletas e 36,3 mil veículos movidos a diesel.
Lei de Mudanças Climáticas
O cenário de poluição atmosférica de São Paulo fica ainda pior pelo fato de gestão anterior da Prefeitura de São Paulo não ter adotado a maior parte das medidas de combate à poluição previstas na Lei de Mudanças Climáticas. A lei, proposta em 2009 pela gestão Gilberto Kassab, foi aprovada pela Câmara.
Entre 2011 e 2012, dois últimos anos da gestão Kassab, quase 10% da frota de 15 mil coletivos do sistema de transporte municipal à época passaram a utilizar combustíveis renováveis. O Programa Ecofrota previa a utilização progressiva de combustíveis limpos na frota de ônibus de São Paulo e conseguiu, antes de ser suspenso, reduzir em 14% as emissões dos poluentes dos ônibus no primeiro ano de sua implantação, entre fevereiro de 2011 e janeiro de 2012.
Entre 2009 e 2012, Kassab renovou quase a metade dos 200 trólebus – movidos a energia elétrica – que circulam em São Paulo. E até o fim da sua gestão à frente da Prefeitura 1.200 ônibus que usavam uma mistura de 20% de biodiesel de grãos ao diesel já circulavam. A utilização do combustível conhecido como B20 nesses veículos reduziu em até 22% a emissão de material particulado, 13% de monóxido de carbono e 10% de hidrocarbonetos.
Funcionamento da inspeção
O Programa de Inspeção Veicular implementado por Kassab verificava todos os veículos da cidade e foi implantado gradativamente, a partir de 2008, inicialmente avaliando as condições da frota de veículos movidos a diesel, motocicletas e carros movidos a álcool, gás ou gasolina registrados no Detran entre 2003 e 2008. Em 2010, todos os carros, motos, ônibus e caminhões com placa da cidade de São Paulo foram obrigados a passar pela inspeção ambiental veicular.
Até novembro de 2012 foram feitas mais de 13 milhões de inspeções em mais de 10,4 milhões de veículos. Com o programa, até o final 2012 não houve nenhum dia em que os níveis de emissão de monóxido de carbono ultrapassaram os padrões do CONAMA, segundo relatórios de qualidade do ar divulgados pela CETESB.
Link: https://psd-sp.org.br/saopaulo/duas-horas-respirando-ar-de-sao-paulo-equivalem-fumar-um-cigarro/
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