Prefeitura reduz varrição e ruas de São Paulo ficam mais sujas


Entre o último ano da gestão Kassab, 2012, e 2015, queda na quantidade de lixo retirado das ruas foi de 20%. As reclamações sobre o serviço registradas pela Ouvidoria municipal praticamente dobraram no período.

17/11/2016

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A percepção dos paulistanos, de que as ruas de São Paulo estão cada vez mais sujas, agora tem uma comprovação estatística. Reportagem publicada na edição desta quarta-feira (16) do Agora mostra que entre o último ano da gestão de Gilberto Kassab (PSD), em 2012, e o ano passado, o penúltimo da atual administração à frente da Prefeitura, a queda no volume de lixo varrido foi de 20%. Foram 133 mil toneladas de lixo varridas em 2012 contra 107 mil em 2015. As informações publicadas pelo jornal foram obtidas por meio da Lei de Acesso à Informação.

O texto assinado pelo repórter William Cardoso aponta que o volume de lixo varrido caiu progressivamente: 11,4% em 2013, primeiro ano da atual gestão, 4,1% em 2014 e 5,9% em 2015. A redução foi identificada pela Ouvidoria da Prefeitura. As reclamações recebidas sobre a limpeza pública quase dobraram na comparação de 2012 com 2015: de 407 para 777 queixas. Leia aqui a íntegra da reportagem.

A constatação da reportagem mereceu forte crítica na edição desta quinta-feira do jornal Agora São Paulo. Em editorial intitulado Vassouras paradas, o jornal paulistano destaca que “o cidadão paulistano nem precisa caminhar muito para perceber o aumento da sujeira nas ruas”.

Na semana passada, reportagem do Estado de S. Paulo denunciava que a Prefeitura de São Paulo determinou redução no pagamento dos contratos de varrição pública. O objetivo é economizar recursos para conseguir fechar as contas de 2016. Sindicatos dos trabalhadores do setor afirmam que o corte, segundo eles metade do valor pago, de R$ 45 milhões para R$ 22,5 milhões, provocará a demissão de 3 mil funcionários, além da piora na qualidade do serviço.

O Sindicato dos Trabalhadores em Empresas de Prestação de Serviços de Asseio e Conservação e Limpeza Urbana de São Paulo (Siemaco) diz que dos 12 mil empregados, até 6 mil seriam demitidos, número que foi reduzido para 3 mil, inicialmente. A Prefeitura confirma redução nos serviços, mas informa que o corte será de 13,5% nos meses de novembro e dezembro, período de chuvas intensas. A redução dos serviços de varrição pode agravar o problema de enchentes na cidade.

“A varrição inclui a limpeza das bocas de lobo. O que não é varrido vai para as galerias e, de lá, para os rios. Provoca-se uma obstrução no sistema de drenagem”, afirma o engenheiro Luiz Fernando Orsini, autor do Plano de Drenagem Urbana de São Paulo. Ele destaca que a eventual economia nos serviços de varrição termina por encarecer o trabalho como um todo. “Se as galerias estão obstruídas, elas precisam ser limpas, e os rios também. A limpeza das galerias é feita de uma forma muito mais difícil e fica mais cara do que a varrição de rua”, destaca o engenheiro.

Em 2011, novo modelo de limpeza pública mudou a cara de São Paulo

Em dezembro de 2011 passou a funcionar na cidade um novo modelo dos serviços de limpeza pública, conhecidos anteriormente apenas como serviços de varrição. O modelo otimizava os serviços de varrição e complementares – que compreendem a remoção de entulho, lavagem de vias e monumentos, conservação de logradouros, capinação e pintura de guias – e agrega serviços como a operação dos Ecopontos, limpeza e desobstrução de bueiros e bocas de lobo, operações Cata-Bagulho, além da instalação de 150 mil novas lixeiras e 1.500 Pontos de Entrega Voluntária de materiais recicláveis (PEVs).

Novo modelo do sistema de limpeza municipal foi apresentado por Kassab em dezembro de 2011, em Interlagos.

Novo modelo do sistema de limpeza municipal foi apresentado por Kassab em dezembro de 2011, em Interlagos.

Já em janeiro do ano seguinte, reportagem do Estado de S. Paulo registrou os avanços. Em 15 regiões visitadas, moradores e comerciantes relataram melhoria na limpeza das ruas. O volume recolhido aumentou 20% nos primeiros 30 dias do novo modelo, passando de 1,6 mil toneladas por dia para 1,9 mil toneladas. O texto destacava as novas atividades: limpeza dos bueiros, recolhimento de entulhos e trabalho aos domingos. O método de varrição dos agentes também foi elogiado: uma equipe de três varredores vai na frente acumulando montes de sujeira e outro trio vem logo atrás para limpar o que foi acumulado. As empresas usam caminhões-pipa para lavar as calçadas depois da varrição, medida que aumentou a percepção de melhoria da limpeza das vias. A lavagem das avenidas comerciais e de vias próximas de estações de metrô e de terminais de ônibus passaram a fazer parte do novo modelo.

Além dos elogios nos bairros, no Centro a situação chamou mais a atenção. Em Santa Cecília, Barra Funda e Higienópolis, regiões que sofriam com o “garimpo” feito por pessoas em situação de rua e catadores de material reciclável no lixo de comércios e de condomínios, os agentes passaram a recolher os restos que eram retirados dos sacos e que, no passado, eram deixados nas vias.

No novo modelo trabalhavam cerca de 13 mil pessoas, com 660 veículos, entre coletores, caminhões pipa e varredeiras. Foram instaladas 150 mil novas lixeiras, confeccionadas com material reciclável e equipadas com cinzeiro. Cada uma identificada com chip ou código de barras para a fiscalização por parte da Prefeitura da sua manutenção e higienização. A administração dos Ecopontos, locais para entrega de entulho e inservíveis, passou a ser feita pelas empresas, abertos de segunda à sábado, das 6h às 22h, e aos domingos das 6h às 18h, para que a população tenha maior facilidade para descartar grandes volumes que não podem ser retirados pela coleta de lixo. As operações Cata-Bagulho também passaram a ser feitas pelas novas contratadas.

 

 

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