Sérgio Rondino: “O Ibope e o paradoxo de Kassab”


"Não duvido nem contesto as pesquisas que vêm mostrando insatisfação dos paulistanos em relação à gestão Kassab. Apenas não consigo entendê-las", diz o jornalista. Leia artigo.

03/01/2013

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Sérgio Rondino, jornalista e diretor da Scriptum Comunicação e ex-coordenador de Imprensa da Prefeitura de São Paulo.

Este artigo vai tratar da avaliação negativa que parte dos paulistanos vem fazendo da gestão de Gilberto Kassab. Antes, no entanto, devo explicitar que o considero um ótimo prefeito. Estive a seu lado, como assessor de imprensa e assessor especial, desde que assumiu a Prefeitura há quase sete anos. Acompanhei seu trabalho dia a dia e afirmo, sem qualquer dúvida, que São Paulo é hoje uma cidade muito melhor.

Mas não duvido nem contesto as pesquisas que vêm mostrando insatisfação dos paulistanos em relação à gestão Kassab. Apenas não consigo entender por que elas têm esse resultado.

A pesquisa do Ibope feita agora em dezembro especialmente para o Estadão e divulgada em reportagem na edição de domingo passado (23/12), confirmou com dados objetivos o estranho descompasso – que o Caderno SP havia destacado quatro dias antes – entre a qualidade da gestão Kassab e a avaliação revelada em seguidas pesquisas de opinião.

Esta última pesquisa do Ibope gerou duas manchetes. Na capa do jornal, o título “Kassab sai com a mais baixa avaliação desde Celso Pitta” chamava para o resultado geral: 42% consideram a gestão ruim ou péssima e apenas 27% a avaliam como boa ou ótima.

No caderno Metrópole, o texto “Programas bem avaliados e restritos não ajudam Kassab” buscava alguma explicação para o descompasso: “A maioria dos projetos mais simbólicos da gestão de Gilberto Kassab na Prefeitura de São Paulo é conhecida e bem avaliada pela população. Mesmo assim, ele deixa o cargo com a menor popularidade de um prefeito desde 2000. O que está por trás dessa aparente contradição?”

Vejam só: de 22 realizações de Kassab avaliadas pela pesquisa, 21 tiveram aprovação de mais de 80%. Projeto a projeto, esta foi a aprovação dos paulistanos:

Cidade Limpa – 89%

Leve Leite – 95%

Mãe Paulistana – 92%

Distribuição gratuita de medicamentos – 95%

Remédio em Casa – Entrega de medicamentos em domicílio – 91%

AMAs – 90%

AMAs Especialidades – 90%

CEUs – 91%

Nota Fiscal Paulistana – 87% 

PPI – Plano de Parcelamento Incentivado de Débitos – 87%

Urbanização de favelas – 89%

Córrego Limpo – 85%

Faixas exclusivas para motos – 86%

Natal Iluminado – 89%

Organização da Fórmula 1 – 82%

Organização da Fórmula Indy – 80%

Clube Escola – 93%

Virada Cultural – 91%

Virada Esportiva – 94%

Centro Cultural da Juventude Ruth Cardoso – 93%

Ciclofaixas/ciclovias – 95%

Inspeção veicular/Controlar – 54%

Pois é… até a tão criticada inspeção veicular tem aprovação de mais da metade dos paulistanos. Na matéria do Estadão, a CEO do Ibope Inteligência, Marcia Cavallari, afirmou: “Isso mostra que Kassab não conseguiu capitalizar a boa avaliação dos projetos em favor de sua imagem pessoal, mesmo tendo melhorado após a campanha eleitoral. Aparentemente, a formação do PSD provocou uma rejeição pessoal que superou a gestão municipal”.

A mesma pesquisa do Ibope revelou que, aos olhos dos paulistanos, a cidade ficou pior em áreas que afetam a população como um todo – educação, saúde, transporte público e trânsito. O que levou o autor da análise do Estadão, José Roberto de Toledo, a concluir que, em resumo, a pesquisa Ibope indica que, na percepção da população, os principais problemas de São Paulo ficaram ainda maiores durante o governo de Gilberto Kassab. E que as soluções apresentadas por ele, embora bem avaliadas, foram restritas demais para evitar a piora do que realmente importa.

Será mesmo?

Respeito a opinião, mas não me convenço. Talvez contenha parte da explicação para o paradoxo, mas não toda ela. Note-se que os projetos e ações avaliados pela pesquisa são citados como se fossem os únicos apresentados por Kassab para as áreas citadas. E não são.

Na educação, por exemplo, fala-se apenas dos CEUs, omitindo-se que Kassab:

1 – construiu 345 novas escolas na cidade – 272 entregues e 73 com obras em andamento;

2 – criou 150 mil novas vagas em creches, contra apenas 60 mil existentes na cidade em 2004;

3 – acabou com as vergonhosas 54 escolas de lata e 159 salas de lata que abrigavam milhares de crianças;

4 – praticamente eliminou outra vergonha, o famoso “turno da fome” existente em 80% das EMEFs, dando aos alunos uma hora de aula a mais por dia;

5 – dobrou o salário do professor municipal;

6 – reformou pelo menos 2.000 escolas da rede.

Qualquer pessoa com um mínimo de bom senso reconhecerá que se trata de uma obra formidável. De onde vem, então, a tal percepção de que a educação piorou?

Não entendo. Apenas elaboro algumas hipóteses, mesmo correndo o risco de errar. Uma delas é que muitas das ações de Kassab, positivas para a cidade como um todo, geraram reações negativas e antipatias em muitos setores – e ao mesmo tempo. Na mesma edição do Estadão saiu uma entrevista do prefeito, em que ele afirma o seguinte:

“Uma marca importante que tivemos na gestão foi o enfrentamento, a necessidade de mudar hábitos da cidade. Vamos lembrar a restrição à circulação de caminhões, vamos lembrar as ciclofaixas, a Cidade Limpa, os camelôs…”

Kassab não citou, mas vale incluir nessa lista o combate aos fraudadores de combustível, com dezenas de postos fechados por toda a cidade, e o fim da jogatina nos bingos que infestavam São Paulo. E ele concluiu: “É fundamental que uma cidade tenha regras e elas sejam cumpridas”.

Nada mais verdadeiro.

Mas esse enfrentamento tem preço. E pesado. Em “O Príncipe”, Maquiavel alertava que, quando age como um reformador, o Príncipe fica solitário, porque os muitos que são beneficiados por alguma mudança geralmente não percebem de imediato o benefício. E, se o percebem, não costumam manifestar a sua satisfação. Mas os poucos que são prejudicados, esses reagem imediata e ruidosamente. Se vivesse hoje, Maquiavel poderia acrescentar: “E a imprensa só dá voz aos reclamantes, caro Príncipe”.

Outro dia, em conversa sobre eleição com um médico, dono de movimentada clínica na Lapa, cidadão bem informado e politizado, ouvi dele o seguinte: “Olha, eu vou votar no Serra. Mas pra mim o Kassab foi um desastre”. E me contou que, em 2007, por causa da Lei Cidade Limpa, fora obrigado a retirar uma placa que colocara na fachada da clínica. Argumentei que a lei foi boa para a cidade, que Kassab fez mais coisas positivas, etc. Não adiantou. Ele só se lembrava da tal placa e cortou meu blá-blá-blá em tom peremptório: “É… mas pra mim foi um desastre!!”

E ponto final. Imagino a quantos pacientes ele pode ter repetido esse “Kassab foi um desastre”. Maquiavel tinha razão.

Mas, teorias à parte, quero encerrar registrando que me orgulho de ter trabalhado com os dois grandes prefeitos desse período – de janeiro de 2005 a março de 2006 com José Serra, e daí em diante com Gilberto Kassab, que agora encerra seu longo mandato. Vi como eles trabalharam por São Paulo e como a fizeram melhorar. Terão o reconhecimento que merecem.

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