Menos poluição e mais verde evitariam 11 mil mortes por ano na capital


Estudo aponta importância de medidas para reduzir temperatura, diminuir a poluição atmosférica e aumentar áreas verdes. Inspeção veicular ambiental e programa Ecofrota, abandonados, teriam impacto positivo.

06/05/2022

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De acordo com estudo liderado pela doutoranda Evelise Pereira Barboza, 11.372 mortes na capital paulista poderiam ser evitadas com a melhora de indicadores ambientais de poluição do ar, mais áreas verdes e a redução de 1°C sua temperatura média diária. O estudo buscou estimar o impacto na saúde de políticas públicas aplicadas na maior cidade do país. As informações são da Folha de S. Paulo.

Do total de mortes, 8.409 foram atribuídas à poluição acima dos índices recomendados, 2.593 à falta de espaços verdes e 370 ao excesso de calor diário. Barboza, que lidera a pesquisa, é doutoranda do Instituto Global de Saúde (ISGlobal) e da Universidade de Pompeu Fabra (na Espanha), e contou também com a participação de pesquisadores de instituições europeias e do Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde (Nupens), da Universidade de São Paulo.

Apenas com a inspeção dos veículos movidos a diesel, economia em saúde era estimada em US$ 76 milhões por ano. Foto Luiz Guadagnoli/SECOM

Dois importantes projetos que contribuíam com a redução da poluição atmosférica, a Inspeção Veicular Ambiental e a renovação da frota de ônibus municipais, implementadas durante a gestão do ex-prefeito Gilberto Kassab, foram abandonadas na gestão seguinte (leia mais, abaixo).

Os pesquisadores fizeram a análise de qual seria a redução nas mortes se a cidade atingisse os níveis recomendados internacionais, como preconizado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), ou com base em referências locais, comparando os bairros.

Segundo Barboza, a pesquisa é importante por ser a primeira a de fato quantificar como as ações voltadas para o planejamento urbano e meio ambiente impactam diretamente a saúde populacional. “O orçamento de saúde não deve ser só aquele que é aplicado para hospitais, ele deve também considerar qualidade do ar, e como isso impacta na qualidade de vida”, afirma.

Inspeção veicular salvou vidas e economizou verbas na Saúde

Um estudo da Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo), que considerou apenas os veículos movidos a diesel que fizeram a inspeção em 2011, revela que com a redução de poluentes emitidos por esses veículos foram evitadas 1.515 internações hospitalares e 584 mortes por problemas respiratórios. A relação custo-benefício é enorme, já que isso equivale a uma economia estimada de mais de US$ 79 milhões para o sistema público de saúde, valor que é 20 vezes maior do que o custo das inspeções.

De acordo com estimativas do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), caso a inspeção fosse adotada em todos os 39 municípios da Região Metropolitana de São Paulo esses números poderiam ser triplicados. O mesmo estudo aponta que o ganho com a inspeção, apenas em 2011, foi equivalente à retirada dos poluentes emitidos por uma frota de mais de 1,4 milhão de veículos, sendo 1,2 milhão de automóveis, 87 mil motocicletas e 36,3 mil veículos movidos a diesel.

Funcionamento – O Programa de Inspeção Veicular implementado por Kassab verificava todos os veículos da cidade e foi implantado gradativamente, a partir de 2008, inicialmente avaliando as condições da frota de veículos movidos a diesel, motocicletas e carros movidos a álcool, gás ou gasolina registrados no Detran entre 2003 e 2008. Em 2010, todos os carros, motos, ônibus e caminhões com placa da cidade de São Paulo foram obrigados a passar pela inspeção Ambiental veicular.

Até novembro de 2012 foram feitas mais de 13 milhões de inspeções em mais de 10,4 milhões de veículos. Com o programa, até o final 2012 não houve nenhum dia em que os níveis de emissão de monóxido de carbono ultrapassaram os padrões do CONAMA, segundo relatórios de qualidade do ar divulgados pela CETESB.

Lei de Mudanças Climáticas – O cenário de poluição atmosférica de São Paulo fica ainda pior pelo fato de a gestão seguinte (2013-2016) da Prefeitura de São Paulo não ter adotado a maior parte das medidas de combate à poluição previstas na Lei de Mudanças Climáticas. A lei, proposta em 2009 pela gestão Gilberto Kassab, foi aprovada pela Câmara.

Entre 2011 e 2012, dois últimos anos da gestão Kassab, quase 10% da frota de 15 mil coletivos do sistema de transporte municipal à época passaram a utilizar combustíveis renováveis. O Programa Ecofrota previa a utilização progressiva de combustíveis limpos na frota de ônibus de São Paulo e conseguiu, antes de ser suspenso, reduzir em 14% as emissões dos poluentes dos ônibus no primeiro ano de sua implantação, entre fevereiro de 2011 e janeiro de 2012.

Entre 2009 e 2012, Kassab renovou quase a metade dos 200 trólebus – movidos a energia elétrica – que circulam em São Paulo. E até o fim da sua gestão à frente da Prefeitura 1.200 ônibus que usavam uma mistura de 20% de biodiesel de grãos ao diesel já circulavam. A utilização do combustível conhecido como B20 nesses veículos reduziu em até 22% a emissão de material particulado, 13% de monóxido de carbono e 10% de hidrocarbonetos.

100 parques

Uma São Paulo mais humana, com praças, parques e muitas árvores. Com essa meta, a gestão Kassab plantou mais de 1,5 milhão de árvores em sete anos, ampliou de 34 para 100 o número de parques e melhorou o ar que os paulistanos respiravam, além de ampliar a oferta de lazer no município.

Entre 2006 e 2012, foram criados ainda 24 parques lineares, recuperando áreas de várzea e reduzindo a incidência de enchentes. Nesse mesmo período, o município ganhou uma média de 200 mil árvores plantadas anualmente, ou dez vezes mais que a média de plantio até 2004. A quantidade de áreas protegidas saltou de 15 milhões de metros quadrados, em 2005, para 25 milhões de metros quadrados, em 2012.

Na administração Kassab, foi feito um amplo levantamento de áreas verdes no território paulistano com objetivo de desapropriar essas áreas e transformá-las em parques municipais. Ao longo desse processo, foram criados parques das mais diversas dimensões e um plano que permitiria à cidade contar com mais 130 milhões de metros quadrados em áreas verdes nos próximos anos. É um projeto grande, ambicioso, caro, porém útil, necessário e realista. Na gestão Gilberto Kassab, foram publicadas mais de 50 declarações de utilidade pública (a chamada DUP, primeiro passo para o processo de desapropriação) para a implantação de parques. Foram deixados ainda R$ 40 milhões no Fundo Especial do Meio Ambiente (Fema) para essas desapropriações.

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